R. C. Johnson, o argumentista e realizador de “Brick” (filme que é considerado o novo “Donnie Darko”), disponibilizou no seu site o tratamento original e o guião final do filme. Pelo que vi até agora, as semelhanças são maiores com o universo de um “Blue Velvet” passado num universo adolescente. Descobri-o através do site do Nuno Markl, e não posso deixar de o recomendar.
Dois aspetos curiosos: em primeiro lugar, o formato do tratamento, muito extenso (setenta e tal páginas), que foi escrito ao jeito dos romances ‘noir‘ de Dashiel Hammet e quejandos. Até usa a narrativa na 1ª pessoa, ao arrepio de tudo o que se recomenda para a escrita de um tratamento cinematográfico. Além disso ainda o salpicou com ilustrações de um amigo, que ajudam a dar o ambiente pretendido, e caracterizam muito bem os personagens que populam a narrativa.
É um exemplo de como, quando se sabe o que se está a fazer, é possível quebrar ‘as regras’.
Não é vulgar ler-se tratamentos tão completos, mas também não é inédito; James Cameron, por exemplo, é adepto dos tratamentos muito extensos e completos (a que chama ‘scriptments‘), que dão uma ideia perfeita do universo da estória, dos personagens e do enredo. E William Goldman, num dos seus livros, refere uma vez ter escrito (ou ter-se proposto a escrever – já não recordo) um tratamento com centenas de páginas, em que todos os detalhes do filme ficariam perfeitamente explícitos.
O segundo aspecto a destacar é que o autor enriqueceu o guião com notas de rodapé. Mas atenção – apenas na versão agora divulgada, pois não faziam parte do guião original. São uma espécie de comentário ao guião, à maneira daqueles comentários orais que às vezes se incluem nas edições especiais em DVD.
Vale a pena baixar o documento e depois procurar o filme, que o Nuno Markl diz ter sido editado agora em Portugal. É o que eu vou fazer.
Oba, material muito do pertinente. Corri atrás de baixar (mas para fins, hum, educacionais, adianto…rs.) e ver esse “Brick” após ter me maravilhado com o “The Brothers Bloom” desse Rain Johnson aí (na verdade, só até a virada do, hum, payback do vilão, que acho que a partir daí o filme se perdeu um pouco no ritmo). Mas… Deuses do céu, aquela apresentação da infância dos irmãos é de arrepiar, João! É, é um roteirista-diretor que acho que promete. Vou ficar de olho nele.