Joe Eszterhas é um dos guionistas mais bem pagos de sempre, embora talvez não dos melhores, dado que entre os seus êxitos se incluem Jade e Showgirls. Por outro lado, também escreveu Basic Instinct – e como é possível não gostar desse filme?
Agora o autor escreveu um divertido artigo no The Independent, com dicas sobre como sobreviver em Hollywood.
O texto está cheio de pequenos episódios esclarecedores – e geralmente ácidos – sobre a vida na selva de Los Angeles. Exemplo: o ginecologista de Sigourney Weaver perguntou-lhe a meio de uma consulta se ela queria ler um guião dele.
Quase no fim do artigo o guionista revela o seu método de trabalho para escrever um guião:
- Escrevam seis páginas de guião por dia. Respeitem este programa aconteça o que acontecer e terão uma primeira versão mais ou menos em vinte dias.
- Voltem atrás e revejam o que escreveram. Não demorem mais de cinco dias nesta rescrita.
- A seguir rescrevam o guião a partir da primeira página – incluindo as revisões. Não demorem mais de uma semana nesta rescrita – o que significa escrever 20 páginas por dia.
- Deixem o guião de lado por uma semana; nem olhem para ele.
- Depois revejam-no de novo. Desta vez não demorem mais de quatro dias.
- Por fim rescrevam-no de novo a partir do zero, incluindo todas as revisões – demorando mais uma semana. Esta será a terceira versão.
- Comecem então a tentar vendê-lo – esta é a vossa primeira versão oficial.
Segundo as minhas contas, isto dá cerca de 8 semanas. Dois meses. É perfeitamente possível cumprir este prazo, desde que tenhamos a estória e os personagens bem delineados.
Do que é que estão à espera?
Aproveito, antes de comentar este artigo, para deixar algumas observações ao blog, em geral:
1. Deixo os meus parabéns, a minha admiração e, principalmente, o meu agradecimento, pela forma como este projecto está a ser levado para a frente – são já raríssimos os dias em que fico sem aparecer por cá (quer seja por um novo artigo, quer seja para vasculhar nos mais antigos);
2. É de louvar, em especial, a iniciativa do “curso de guionismo” (estava até algo desanimado por ver tantos meses a separarem o #16 e o #17);
3. Proponho maior dinamismo para a secção “Recursos”: 1) se possível, dar mais destaque à secção (por exemplo, coloca-la na mesma “linha” que “citações”, “cursos de guião”, etc); 2) nessa secção, manter o espaço que já existe para os guiões que passaram para o ecrã e criar outro para os guiões não produzidos, que fossem enviados pelos seguidores do blog (quer por iniciativa própria, quer no âmbito de desafios).
Sobre o artigo, uma dúvida:
Quando o autor se refere a escrever do zero, incluindo as revisões, refere-se a reescrever o guião do início (esta parte está clara), tendo em conta as revisões que foram feitas ou, simplesmente, copiar o primeiro, acrescentando os pormenores das revisões ? Pergunto isto porque, tendo em conta a sugestão do autor, não faz sentido esta minha segunda interpretação.
Continuação de um bom trabalho.
Diogo,
1. Obrigado.
2. Vou tentar ser mais regular, mas nem sempre é fácil.
3. 1. É uma possibilidade a considerar. 2.Se me enviarem esses guiões, é possível que o faça, ou até crie outra secção com mais destaque. Mas sem os ter, não há nada a fazer.
Dúvida
Como eu o entendi, o método do autor é:
– escrever;
– rever em cima do que foi escrito;
– rescrever a partir do zero, mas tomando em conta o que foi escrito e rescrito – daí ser mais rápido.
– deixar repousar;
– voltar a rever em cima desta rescrita;
– e finalmente voltar a rescrever do zero, para obter a primeira versão oficial do guião – o first draft (pessoalmente, acho que antes de apresentar ainda seria necessária mais uma revisão rápida, para corrigir erros de ortografia e de formato).
Depois da apresentação do guião, entra-se na fase das notas (comentários, críticas, sugestões e indicações) de quem de direito: produtores, leitores, realizador, etc. Mas isso já é outra fase que, eventualmente, há de conduzir à versão final, o guião de rodagem (shooting script).
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O método que ele ensina é muito parecido com o do professor de roteiros Syd Fields, do qual ele é inclusive, amigo. O que ele quis dizer é que não basta escrever uma boa história. É necessário ser exigente ao extremo consigo mesmo. E que por melhor que seja uma história, sempre há possibilidade de melhorá-la. O aperfeiçoamento de um guião, ou roteiro, deve fazer parte do trabalho de quem escreve. Escrever, revisar, aperfeiçoar ao extremo até chegar no produto final. Palmas para ele.
Concordo absolutamente. Já escrevi muitas vezes aqui sobre a importância da reescrita. Tanto que até publiquei um pequeno ebook apenas sobre esse aspecto do trabalho do autor.