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Tundavala

    Perto da casa do N., onde ficámos hospedados, rasga-se a fenda da Tundavala, um enorme corte vertical de mil metros de altura que esventra a parede ocidental do planalto. Já corri as serras portuguesas, do Gerês aos Candeeiros, já atravessei a estrada de Santos, já passeei nos Alpes e nos Pirinéus, já estive no Grand Canyon, e posso garantir que nada me impressionou mais do que a Tundavala.

    í€ direita do caminho por onde chegamos descobrimos a fenda, um abismo que termina numa escuridão de árvores, cobras e mistérios. Dizem que muitas vidas acabaram ali, durante os anos sombrios da guerra, e é triste pensar que mesmo a maior beleza pode esconder um lado de horror e morte. Em frente, lá muito em baixo, estendendo-se até ao limite do horizonte, vemos as terras dos mucubais, povo de pastores e caíadores de leões. A perspectiva dessa imensidão verde, aparentemente sem fim, é a mesma que poderí­amos ter a partir de uma avioneta perdida naquele céu azul inebriante; é inevitável sentirmo-nos como o Robert Redford e a Meryl Streep no “ífrica Minha”.

    Em qualquer outra parte do mundo a fenda da Tundavala seria um destino turí­stico de eleiíão, com bilhetes í  porta, restaurantes e visitas guiadas. Aqui em Angola é apenas um miradouro perdido no fim de uma mal cuidada estrada de terra batida. Mas talvez seja melhor assim – pelo menos para os poucos privilegiados que tivemos a possibilidade de a descobrir antes do fast food e dos tours organizados.

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