Nasci em Angola em 1961 mas vim para Portugal ainda a tempo de fazer dois anos. Como é natural, não me lembro de nada desse período que passei abaixo do equador.
No início de 2004 fui convidado para participar num projecto profissional que me daria a possibilidade de passar alguns meses em Luanda. Agarrei a oportunidade com ambas as mãos. Afinal de contas, propunham pagar-me para concretizar um dos meus sonhos mais antigos – conhecer as minhas origens, a terra de que ouço o meu pai falar com tanta paixão, o país que sempre coloca uma expressão nostálgica e sonhadora em todos os que o conheceram.
Acredito que quando descer do avião, daqui a uns dias, o meu corpo vai reconhecer o que a minha memória apagou: o calor, a humidade, a luz, a cor, os odores e sensações que distinguem cada país de todos os outros. A impressão digital que Angola deixou marcada em mim.