Todo e qualquer empreendimento criativo em que há a possibilidade de um grande sucesso acarreta também a possibilidade oposta: a de falhar. E o medo de falhar é um dos que mais limitam e tolhem o nosso progresso.
Muitas vezes preferimos a solução testada e comprovada, mas já vista (e provavelmente gasta) do que a solução verdadeiramente inovadora, mas que corre o risco de ser um beco sem saída. É o nosso "cérebro reptiliano" a induzir-nos reflexos de autoproteção – proteção da nossa autoestima, da nossa reputação, da nossa carreira, das nossas ilusões de genialidade e infalibilidade.
Todos estes receios são justificados e, de certa forma, até úteis. Mas quando nos mantém sucessivamente longe de fazer coisas inovadoras, de desbravar caminhos, acabam por tornar-se mais perigosos do que aquilo de que pretendem proteger-nos.
Sem uns fracassos de vez em quando, sem bater com a cabeça nas paredes, sem aprender com os próprios erros, não há verdadeiro progresso nem evolução. As carreiras estagnam, a reputação é manchada pela mediocridade, e a autoestima acaba por sofrer ainda mais.
A longo prazo, uns poucos erros, bem escolhidos e bem aproveitados, rendem mais do que muitos sucessos modestos e bem comportados.
O segredo para aproveitar os nossos erros está numa frase de Samuel Beckett que eu traduzi e já citei neste blogue. É uma das frases mais inspiradoras que conheço:
“Tentaste sempre. Sempre falhaste. Não te apoquentes. Tenta de novo. Falha de novo. Falha melhor.”
Um artigo que encontrei recentemente recolhe opiniões de alguns designers e escritores sobre este tema do medo de falhar, e inspirou-me para escrever este pequeno artigo. Confira-o aqui →
bem interessante, o artigo.
talvez uma boa forma de derrotar esse medo seja mesmo invertê-lo: transformar o medo de arriscar e crescer com isso no medo de nunca ter arriscado e, com isso, ter ficado mais pobre.
há alguns casos bem relevantes para este tema: Bukowski, por exemplo, escreveu o seu “Post Office” em poucas semanas, a pedido do seu editor. “I wrote it out of fear”, disse ele, explicando a pequena proeza.
Mas estou de acordo: o texto de Beckett sintetiza de forma admirável o que deve orientar qualquer artista ou criativo.
Acho ainda que em Portugal, tanto no cinema como noutras áreas de criação, falta um pouco daquilo a que alguns chamam “cultura do erro”. Poderia tentar encontrar uma explicação para isto, mas deve haver gente mais competente do que eu para abordar essa matéria.
No meu caso pessoal, o medo relaciona-se mais é com a altura de submeter o que escrevo para apreciação. A ideia de ter de fazer um pitch, por exemplo, dá-me arrepios… Enfim, competências que preciso de melhorar…
cumprimentos a todos!
berni
Excelente artigo acerca de uma parte da escrita que raramente é mencionada. Falhar e o medo de falhar estão presentes em todas as criações. A citação de Beckett diz tudo.