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“Não tenho tempo para escrever” – justificação ou desculpa?

    Quando há dias referi o desafio do Script Frenzy – escrever 100 páginas de argumento nos 30 dias de Abril – destaquei que, para o conseguir, bastaria escrever três páginas e meio por dia. Uma meta destas pode ser alcançada, sem demasiado esforço, reservando duas horas diárias para a escrita.

    Mas muitos aspirantes a escritores afirmam ter uma vida demasiado ocupada para conseguir libertar tanto tempo todos os dias. Para alguns, até 30 minutos de escrita são impossíveis de encaixar na agenda totalmente preenchida.

    É verdade que manter uma atividade criativa em paralelo com um emprego de tempo inteiro, e com as responsabilidades familiares e sociais, pode ser complicado.

    Mas, como Laura Vanderkam destacou num artigo do Wall Street Journal, em vez de “não tenho tempo“, devemos ter a coragem de dizer simplesmente “isso não é uma prioridade para mim“.

    Se calhar:

    • escrever não é uma prioridade, mas estar com os amigos é;
    • escrever não é uma prioridade, mas ter a casa impecavelmente limpa é;
    • escrever não é uma prioridade, mas ver a nova temporada de “Mad Men” é;
    • escrever não é uma prioridade, mas dormir oito horas é;
    • escrever não é uma prioridade, mas dar uma volta no shopping  no intervalo do almoço é;
    • escrever não é uma prioridade, mas ir ao ginásio é.

    E assim por diante.

    Mudando as palavras, mudamos a nossa perspetiva sobre o assunto, olhando-o de uma maneira muito mais honesta: o tempo é igual para todos, as prioridades é que variam.

    Mudando as palavras, mudamos a nossa perspetiva sobre o assunto, olhando-o de uma maneira muito mais honesta: o tempo é igual para todos, as prioridades é que variam.

    Quando escrever for realmente uma prioridade para si, alguma outra coisa deixará naturalmente de o ser. E o tempo necessário aparecerá – nem que sejam apenas 30 minutos por dia.

    8 comentários em ““Não tenho tempo para escrever” – justificação ou desculpa?”

    1. concordo em absoluto.

      Pela minha experiência, o mais importante é a motivação. O mais importante mesmo é começar um projecto. Se sobrevivermos até meio, é quase impossível deixá-lo inacabado. E, no fim, nada melhor do que ter outra coisa já à espera de ser escrita. Até porque não há nada melhor do que fechar a primeira versão de um guião, de um livro, ou de outra obra que precise de empenho.

      Agora, quando se adia e adia e adia, sobretudo no começo… talvez mais valha mesmo ver uma série e dormir as tais 8 horitas diárias.

      1. É isso – a motivação é o que define as prioridades. Se estivermos suficientemente motivados para fazer uma determinada coisa, vamos colocá-la no topo das prioridades e, consequentemente, arranjar o tempo necessário para ela.

    2. É justamente este o meu problema. Preciso escrever um filme, tenho data para entregar, e simplesmente não consigo encarar o desafio. Preparei até uma tabela de trabalho para poder conciliar melhor os horários. E nada. O que fazer? Tens a fórmula mágica?

      1. Fórmulas mágicas não há. Mas o mais próximo disso é uma frase que os americanos usam muito: “butt-in-chair time”. Ou seja, tempo de manter o bumbum colado na cadeira. A única regra é sentar-se em frente do computador e escrever. Como Somerset Maugham dizia: “Só escrevo quando a inspiração bate. Felizmente ela bate todos os dias, às nove da manhã em ponto”.
        A minha experiência diz que algumas coisas ajudam:

        1. Marcar uma hora fixa para começar.
        2. Se possível, estabelecer um objetivo diário não de tempo, mas de páginas. Em vez de “vou escrever duas horas” definir “vou escrever 4 páginas”.
        3. Fazer uma lista com as distrações mais frequentes: ir ver os emails, entrar no Twitter, ir ao Facebook, entrar no Messenger, ir ao frigorífico, etc.
        4. Tomar medidas para anular essas distrações. Por exemplo (nos casos mais graves) desligar a internet antes de começar a escrever.
        5. Programar as pausas e interrupções.
        6. E, finalmente, estabelecer um programa de recompensas para as metas atingidas e cumpridas. “Se escrever as quatro páginas, vou tomar um capuccino; se escrever todos os dias desta semana, compro um livro; quando terminar o guião, tiro um fim de semana na praia”, etc.

        Lembre-se – como Steven Pressfield escreve em “A Guerra da Arte”, a resistência é uma força interna malévola que nos tenta impedir de concretizar os nossos projetos criativos. O principal desafio de um autor é combater essa força, todos os dias, sentando-se em frente do computador (o do caderno, o da máquina de escrever) e escrevendo.

        1. É certo não existe fórmula mágica, mas vou seguir os sábios conselhos. O primeiro colocar o bumbum na cadeira. Valeu.

    3. Olá João! Tudo bom? Eu li esse artigo e sente que ele “falou” comigo! Tenho uma enorme dificuldade em me concentrar e acabo vendo emails e tudo mais, justamente na hora em que deveria estar escrevendo! Vou colocar em prática suas dicas e ver o que acontece! Obrigado pelas dicas! Um forte abraço!

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