Avançar para o conteúdo

Manifesto do Roteirista

    Como inspiração para o ano de 2015 aqui deixo o meu Manifesto do Roteirista. É o mesmo texto do Manifesto do Guionista que publiquei há poucos dias, mas (mais ou menos) em português do Brasil:

    Manifesto do Roteirista

    I – Você não é roteirista porque alguém lhe deu um diploma, ou um passe, ou autorização para o ser. É roteirista porque tem o coração e a cabeça cheios de estórias, e não tem outra alternativa senão contá-las.

    II – Você não é roteirista porque lhe encomendaram um roteiro ou deram emprego numa equipa de autores, passaram uma tarefa para entregar até ao fim do semestre ou atribuíram uma bolsa de escrita. É roteirista porque, desde criança, nada lhe dava mais satisfação do que encantar seus irmãos e amigos com suas estórias, e hoje procura outros irmãos e amigos a quem continuar a encantar.

    III – Você não é roteirista porque tem uma audiência garantida para as estórias que inventa. É roteirista porque quando não tem ninguém a quem contar essas estórias as conta a você mesmo.

    IV – Você não é roteirista porque nasceu com um dom único, ou com o ADN perfeito para escrever, ou porque o seu talento se manifesta sem esforço nem suor. É roteirista porque dedica o tempo necessário a ver bons e maus filmes e a pensar sobre eles; a ler os roteiros de outros autores, para ver como eles superam seus desafios; a estudar tudo o que encontra sobre o cinema e sua escrita; e, sobretudo, a apurar sua arte colocando na prática tudo o que dessa forma aprendeu.

    V – Você não é roteirista por ter uma varinha mágica que transforma as ideias que traz na cabeça em páginas lindamente escritas. É roteirista porque à sua imaginação junta centenas e centenas de horas em frente de um caderno ou de um computador, escrevendo e rescrevendo suas páginas até elas se assemelharem ao que tinha em mente.

    VI – Você não é roteirista porque tem um cartão de visita que assim o assegura. É roteirista porque a almofada de sua cadeira de escritório já está moldada ao seu corpo de tantas horas que nela passou sentado a escrever.

    VII – Você não é roteirista porque se contenta com o que ficou gravado nas suas cento e vinte páginas de roteiro. É roteirista porque aspira a que outros se apaixonem por essas páginas e lhes dediquem meses e anos de suas vidas, fazendo-as crescer com sua imaginação e capacidade, materializando-as em imagens e sons que seguem a partitura que você desenhou, até chegarem aos olhos e corações de uma audiência.

    VIII – Você não é roteirista porque procura o reconhecimento ou a fama, a fortuna ou as manchetes dos jornais. É roteirista porque consegue imaginar a satisfação que um dia vai sentir quando, no escuro de uma sala de cinema, vir seu nome numa tela gigante e ouvir os risos, os suspiros, os tremores e as lágrimas de todos os que cercam você em seu anonimato.

    IX – Você não é roteirista porque aspira à eternidade e quer ver seu nome num qualquer panteão. É roteirista porque duas horas de magia são uma eternidade suficiente para você.

    X – Você não é roteirista “porque não?”. É roteirista — porque sim.

    © João Nunes – 2014

    Se quiser partilhar este Manifesto, não se esqueça de indicar sempre a sua origem e fazer link a este artigo. Obrigado e boas escritas!

    1 comentário em “Manifesto do Roteirista”

    Deixe um comentário

    O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

    Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.