O Final Draft 10 é a versão mais recente do editor de texto para guiões mais usado em todo o mundo, uma posição que conquistou praticamente desde que foi lançado. A sua popularidade deve-se essencialmente à sua facilidade de uso, que pode ser apreciada neste tutorial, e a um conjunto de funcionalidades especializadas que levaram à sua adopção pela maior parte dos guionistas profissionais.
![O novo Final Draft 10](https://joaonunes.com/wp-content/uploads/Final-Draft-10.jpg)
No entanto, nos últimos anos têm surgido várias alternativas viáveis que vão seduzindo cada vez mais autores. Algumas dessas opções, como o excelente Scrivener, acrescentaram funcionalidades ausentes no Final Draft, especialmente na fase de pré-escrita e alinhamento das estórias. Outras, como o Highland, optaram pelo caminho inverso, apostando numa simplicidade quase minimalista. E outras ainda, como o Writers Duet, propõe a colaboração como modo primário de trabalho.
Para responder a estes desafios o Final Draft lançou agora a sua versão 10, com inúmeras novidades. Minimalista, o novo Final Draft 10 não é; mas parece estar claramente mais completo, especialmente no capítulo da planificação e colaboração.
Novas opções de planificação
O Final Draft 10 traz três grandes novidades neste capítulo: o Story Map™, o Beat Board e os Pontos Estruturais.
O Story Map™ é a inovação que salta mais à vista. Trata-se de uma barra estreita, localizada por cima da régua, que permite ter uma visão global do guião.
![O Story Map™ do novo Final Draft 10](https://joaonunes.com/wp-content/uploads/Story_Map_Final_Draft_10-1.jpg)
Através do Story Map™ podemos ter uma noção do tamanho do guião, pré-visualizar as cenas, navegar diretamente para qualquer ponto do guião, e até destacar pontos estruturais importantes (as mudanças de ato, por exemplo).
O Story Map™ aparenta ser uma inovação importante, com elevado potencial. Se será realmente útil na prática, só poderei decidir depois algum tempo a trabalhar com esta nova versão.
Quanto ao Beat Board, é a versão do Final Draft do famoso quadro de cortiça, usado para planear a sequência das cenas antes de escrever. Vamos criando nele pequenos cartões, com as sinopses das cenas, que podemos mover até encontrarmos a melhor sequência para a nossa estória.
![O Beat Board do novo Final Draft 10](https://joaonunes.com/wp-content/uploads/Beat-Board-Final-Draft-10.jpg)
O Scrivener tem, até ao momento, a melhor implementação deste conceito em software, mas a do Final Draft também me parece muito bem conseguida, com tudo o que é essencial. Uma vez mais só a prática dirá quem vai sair vencedor nesta comparação.
Outra funcionalidade nova, que combina muito bem com as anteriores, é a possibilidade de definir Pontos Estruturais na sequência do guião.
![Pontos Estruturais no Final Draft 10](https://joaonunes.com/wp-content/uploads/Pontos-Estruturais-Final-Draft-10.jpg)
Estes pontos podem corresponder ao que quisermos: o inciting incidente, as mudanças de ato e o clímax, numa abordagem clássica; ou quaisquer momentos significativos que sejam convenientes para a nossa estória.
Todos podem ter descrições específicas e cores distintas, estar associados a cartões do Beat Board e ser visualizados no Story Map™. No conjunto, contribuem para um ecossistema de planificação de estórias muito completo e prometedor.
A função de colaboração
A outra grande novidade do Final Draft 10 também tem lugar cativo no topo da página (onde, aliás, se destacam vários ícones com um visual renovado). A opção de Escrita Colaborativa promete revolucionar a forma como poderemos escrever os nossos guiões no futuro.
![Escrita Colaborativa no Final Draft 10](https://joaonunes.com/wp-content/uploads/Escrita-Colaborativa-Final-Draft-10.jpg)
À semelhança do que já fazem as apps do Google, ou o programa de guião Writers Duet, o novo Final Draft vai permitir que dois autores escrevam num mesmo guião, em simultâneo, vendo as contribuições de cada um em tempo real.
Uma janela de chat permite que os autores conversem sobre o seu trabalho (ou sobre futebol…), criando assim um ambiente colaborativo perfeito. O impacto desta novidade no processo de escrita, especialmente em situações como a escrita para televisão, onde a colaboração é mais importante, ainda é difícil de prever. Mas tudo indica que será muito grande, devido à postura dominante do Final Draft na indústria audiovisual.
Outras novidades
O Final Draft 10 traz ainda muitas outras novidades ou aperfeiçoamentos de funções já existentes. Destaco apenas três.
A função de Diálogos Alternativos é fantástica. Através dela podemos manter no documento do guião mais do que uma versão de cada bloco de diálogo, antes de nos comprometermos com uma escolha final. Acabou-se aquele dilema de escrever, reescrever, apagar e voltar à primeira versão de uma linha de diálogo.
![A função de Diálogos Alternativos do Final Draft 10](https://joaonunes.com/wp-content/uploads/Diálogos-Alterantivos-Final-Draft-10.jpg)
Se num processo de escrita individual esta possibilidade já vai ser útil, muito mais o será quando combinada com a Escrita Colaborativa descrita no ponto anterior. Com esta nova funcionalidade cada autor vai poder escrever a sua versão dos diálogos, deixando para mais tarde a escolha de qual manter na versão final do guião.
Um melhoramento importante diz respeito aos textos que podemos colocar automaticamente no Header e Footer do guião. Até agora as opções eram muito limitadas, mas as novas opções expandem muito o âmbito da informação disponível. Além da data e número de página podemos agora colocar etiquetas, identificar versões de revisão, etc.
Finalmente, as opções de Numeração de Cenas também levaram uma grande volta. Até ao momento podíamos apenas numerar, renumerar, e editar manualmente os números de cena. A partir de agora podemos escolher entre vários esquemas de numeração automática.
É uma função útil essencialmente para a fase de produção (há quem defenda que os guiões especulativos nem devem ter cenas numeradas) mas todos os assistentes de realização, produção e continuidade que usam o Final Draft vão com certeza apreciá-la.
Conclusão: vale a pena comprar o Final Draft?
Esta é a pergunta de um milhão de dólares. Ou, mais especificamente, de $169.00 dólares. Vale a pena gastar esta quantia relativamente elevada, quando há no mercado tantas alternativas de qualidade a preços mais competitivos (incluindo grátis)?
Vou adiantar três respostas, ao jeito das apostas desportivas:
- Se já é possuidor de uma licença do Final Draft, o valor do upgrade é bastante mais acessível: $79.00 USD. Nesse caso eu diria que as novas funcionalidades justificam o custo adicional. Vence o Final Draft.
Se é, ou está em vias de ser, um guionista profissional, ter uma ferramenta que muitos outros profissionais usam pode ser justificado. Principalmente se a função de Escrita Colaborativa pegar, como é provável. Mas a decisão final, neste momento, é sua. Dou um empate.
Finalmente, se está a começar na profissão ou é apenas um amador interessado, há opções mais baratas, ou até grátis que deveria considerar antes de abrir os cordões à bolsa. Neste caso o Final Draft perde.
Qual é a sua opinião: com a versão 10 o Final Draft ainda tem futuro, ou vai ser ultrapassado pelos seus concorrentes mais acessíveis? Deixe a sua opinião nos comentários abaixo.
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E então o Celtx?
Apesar de ser um escritor desconhecido, escrevo bastante, constantemente utilizando o Celtx.
Com a sua cloud mantém os scripts sempre actulizados em todos os dispositivos, facilitando bastante ao termos os guiões na palma da mão sempre que queremos alterar, acrescentar ou cortar.
Apostando numa carreira internacional, nada fácil, todos dizem que, se queres ser um pro, “no Final Draft, no future!”
Parece-me um software muito funcional, principalmente para escrita comercial e virtuosa. Se bem que esses mesmos processos podem ser desvirtuados.
Já referi diversas vezes o CeltX aqui no blogue.