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Introdução ao Scrivener – 1ª parte

    Nesta série de artigos vamos ver como o aplicativo Scrivener pode ser utilizado para escrever um guião, desde as primeiras fases do planeamento até à entrega do documento final. O primeiro artigo é sobre as dez principais razões para o fazer.

    Introdução

    O Scrivener é o melhor programa de escrita disponível neste momento, ponto final.

    É um programa pago que, normalmente, custa 45 dólares, mas se encontra muitas vezes em promoção por metade dessa tarifa.

    Seja em promoção ou pelo preço inteiro, com esse valor adquirimos muito mais do que um simples processador de texto; temos à nossa disposição uma máquina poderosa de produção de conteúdos, que podem ir desde um simples artigo de blogue até um romance épico em dez volumes, passando por teses, dissertações, novelas, etc.

    Além disso o Scrivener é também uma excelente opção para a escrita de guiões. Na realidade, de há algum tempo para cá é o programa que uso para toda a minha escrita, audiovisual e outra. Não tem algumas das opções de produção do Final Draft (que, na realidade, não são usadas por nenhuma produtora que eu conheça) mas compensa essa “falha” com um rol enorme de outros trunfos, muito mais valiosos.

    Guião no Scrivener
    Guião no Scrivener

    Infelizmente, a riqueza de funcionalidades do Scrivener implica uma curva de aprendizagem um pouco mais exigente. Não é que seja um programa realmente complicado, mas tem algumas particularidades que exigem um pequeno período de adaptação.

    Por isso, a partir de hoje e durante as próximas semanas, vou publicar um conjunto de artigos de introdução ao Scrivener, abordando os aspectos gerais do programa e, em particular, as funções mais úteis para os guionistas:

    • 1ª Parte – Dez razões para escrever um guião no Scrivener
    • 2ª Parte – O interface e os modos de visualização
    • 3ª Parte – Organização de um projecto (com oferta de um template especial)
    • 4º Parte – Planificação de um guião
    • 5ª Parte – Escrita de um guião
    • 6º Parte – Exportação de um guião

    Os artigos serão publicados todas as sextas-feiras. No final, vou reuni-los num pequeno e-book para oferecer aos assinantes da minha newsletter , como agradecimento da sua fidelidade e apoio.

    Dez razões para escrever um guião no Scrivener

    Vejamos então porque razões o Scrivener é uma opção perfeita para escrevermos os nossos guiões.

    O Scrivener agrupa todos os documentos relevantes para um projecto num único ficheiro.

    Além das diversas versões do guião (incluindo as experiências, alternativas e tentativas falhadas), podemos ter as sinopses, tratamentos e escaletas; notas, pesquisas e referências diversas; biografias de personagens e fotografias de locais; documentos em .pdf e páginas web; vídeos e gravações de audio; e até documentos de apoio como contratos, emails, e recibos de pagamento. Tudo sempre à mão, quando precisamos, sem termos de saltar de programa em programa.

    Quadro Scrivener
    Quadro virtual no Scrivener

    O Scrivener torna a fase de pré-escrita e planificação num verdadeiro prazer.

    Como veremos no quarto artigo desta série, temos uma grande variedade de formas de criar, organizar e visualizar as cenas de uma estória, com o nível de detalhe que quisermos. Há, por exemplo, um modo de cartões (quadro virtual) que não tem rival em mais nenhum programa. Para alguém que, como eu, gosta de escrever outlines detalhados de cada estória, só esta funcionalidade justificaria o uso do Scrivener.

    O Scrivener é completamente flexível.

    O seu funcionamento não nos prende a nenhum modelo narrativo pré-concebido, o que nos permite organizar as nossas estórias exactamente como nos der jeito. Por exemplo, ao contrário do modo de planeamento do Final Draft, em que cada cartão corresponde obrigatoriamente a uma cena, no Scrivener um único cartão pode conter toda uma sequência de cenas ou, pelo contrário, uma cena pode ser dividida em vários cartões.

    O Scrivener tem um modo de ecrã completo perfeito.

    Esse modo esconde da vista todos os elementos do interface e permite-nos isolar o manuscrito, para nos focarmos completamente na escrita.

    O Scrivener permite agrupar temporariamente segmentos distintos do guião.

    Podemos, por exemplo, ver em sequência todas as cenas em que entra um determinado personagem, para avaliar a sua coerência. Ou, numa estória com enredos paralelos, podemos isolar cada enredo dos restantes, para análise individual. Estes agrupamentos temporários podem até ser automatizados, o que torna o processo quase instantâneo.

    O Scrivener usa etiquetas para organizar os documentos.

    Podemos atribuir a cada documento tantas etiquetas quantas quisermos, organizadas da forma que nos for mais conveniente. Queremos distinguir as cenas de dia das cenas de noite? As interiores das exteriores? As que estão terminadas das que ainda estão por rever? As cenas em que há mortes? Em que há chuva? Em que há gatos? Basta etiquetá-las adequadamente e estão instantaneamente ao nosso alcance. Esta funcionalidade, combinada com a descrita no ponto anterior, permite-nos analisar o nosso guião sob um número infinito de lupas.

    O Scrivener tem uma função de salvaguarda incomparável.

    Temos, a qualquer momento, a opção de tirar um “instantâneo” (snapshot) de uma cena, sequência ou até do guião completo. A partir daí, podemos escrever à vontade, com a segurança de saber que, se não gostarmos do caminho tomado, o texto original está guardado a um clique de distância. Não há limite para o número de snapshots. A confiança que isto nos dá para tentar novas cenas e abordagens não tem preço.

    Modelos no Scrivener
    Modelos no Scrivener

    O Scrivener traz de origem vários modelos de formatos de guião.

    Podemos começar logo a escrever num formato padronizado, ou podemos alterar todos os aspectos de cada elemento do texto de acordo com as nossas necessidades. Por exemplo, no último guião que escrevi o realizador quis ver como ficavam os diálogos em negrito. Fazer essa mudança no guião completo demorou menos de 30 segundos. Os modelos alterados podem até ser gravados para usar em outros projectos. No terceiro artigo desta série irei oferecer o modelo que eu próprio uso neste momento.

    O Scrivener é um ás na exportação de ficheiros.

    O processo, a que o programa chama “compilação”, permite-nos produzir documentos em todos os formatos imagináveis: Final Draft, .pdf, .doc, .fountain, texto simples, e até formatos para e-book. Além disso, podemos optar por exportar o guião completo, ou qualquer combinação de cenas. Queremos exportar em .pdf apenas as cenas em que o protagonista entra? As cenas do enredo amoroso? As cenas da locação x? Desde que as tenhamos devidamente etiquetadas, nada mais fácil.

    O Scrivener é extraordinariamente estável.

    Não me lembro de alguma vez ter tido um problema com um ficheiro, ou de ter perdido uma única linha de texto por culpa do programa. Mesmo os documentos que apagamos vão para dentro de uma pasta (a lixeira) onde permanecem até decidirmos esvaziá-la definitivamente. Adicionalmente, o programa ainda faz um backup automático do projeto em curso. Combinando isto com boas práticas de segurança, é impossível perdermos um trabalho

    Conclusão

    Como se vê, são muitas as razões para usar o Scrivener. No próximo artigo começaremos a ver na prática como isso se faz.

    Pergunta aos leitores

    Há alguma questão particular que gostasse de ver esclarecida sobre o Scrivener? Deixe a sua dúvida nos comentários abaixo e tentarei responder-lhe num dos próximos artigos.

    24 comentários em “Introdução ao Scrivener – 1ª parte”

    1. Boa tarde
      Achei o programa interessante, só por estas linhas gerais.
      Existe em formato para iPad, ou para isso teremos que exportar o ficheiro e trabalhar numa outra app existente, por exemplo, a da celtx?

      Cumprimentos e parabéns pelo blog.

      1. Obrigado, Cláudia. Quando ler os próximos artigos vai achar ainda mais interessante. O Scrivener para iPad está em desenvolvimento e já entrou na versão “beta”. Está a ser testado por um grupo de utilizadores em situações reais e, em princípio, estará disponível nos próximos meses. Serei dos primeiros a comprar :-)

    2. Pingback: JOÃO NUNES | Scrivener | Introdução ao Scrivener - 3ª parte | aplicativos, escrita, Scrivener, software, técnica, tutoriais |

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    5. Boa tarde, João
      Sou jornalista, profissional de marketing e escritor. Migrei para o Scrivener e quero dicas de quem já usa o programa.
      Sei que você é roteirista e usa o Scrivener e que até ia lançar um E-book sobre o programa.
      Já lançou?
      Como eu faço para recebe-lo?
      Aprecio muito seu trabalho.

      Um abraço aqui do Brasil.

    6. João Nunes, adquiri o scrivener, mas na sua utilização surgiu-me um problema que é o seguinte: quando faço a compilação , ele estoura. O mais estranho é que para o mesmo ficheiro antes não estourava, mas agora se quiser fazer a compilação dando um nome diferente ele estoura. Ele estoura em qualquer formato, mas se for no formato EPub ele estoura na segunda compilação. Em relação a fazer o “save” não tem havido priblemas. Será que o scrivener tem limites maximos para extensão do projeto? Podia-me dar dicas que me ajudem a identificar a causa do estouro
      Obrigado pela ajuda que puder dar
      Um abraço grande de Portugal
      Eugenio Rosa

      1. OLá Eugénio. o Scrivener tem sido usado por muitas pessoas para projectos complexíssimos com centenas e centenas de páginas, imagens, etc. Não me parece que seja um problema de limitação do programa. O problema deve vir de outra origem. Talvez uma incompatibilidade com algum outro aplicativo instalado?

    7. Pingback: JOÃO NUNES | Scrivener | Scrivener para Windows a metade do preço | aplicativos, Scapple, Scrivener, software |

    8. Renato Afonso Rambo

      Existe um livro tipo tutorial do Scrivener ou do Dramatica Pro em portugues – que seja o de portugal – ou em espanhol?

    9. Olá,
      Estou fazendo doutorado e gostaria de saber se existe algum template para tese acadêmica, se ele faz o índice de figuras, tabelas, capítulos, referências em formato ABNT. Se tem integração com gerenciadores de referência e como fazer.
      Ou seja, dicas para um trabalho acadêmico.

    10. Viva Marcos, não é a minha área de especialidade mas penso que sim, que faz isso tudo. Veja este comentário num forum de Scrivener (original em inglês, tradução minha):

      É instrutivo ver os diversos padrões de uso do Scrivener. Tratei minha tese de doutorado como um único projeto. Escrevi cada capítulo em uma série de seções menores que copiei para o Word para testar a formatação das notas de rodapé e ver o texto em um contexto diferente. Copiava quaisquer alterações para o Scrivener e continuava a iterar. Depois que terminei um capítulo, enviei o texto completo ao meu orientador no Word. Fiz alterações no Word decorrentes de comentários e copiei o texto alterado de volta para o Scrivener. Tratei o Scrivener como a cópia principal de todo o texto. Esse sistema funcionou bem para meus propósitos até o final, quando o Word começou a sofrer sérios problemas de instabilidade quando movi todos os capítulos para um único arquivo do Word.

      Minha sugestão para qualquer pessoa é testar seu fluxo de trabalho no início do processo para garantir que eles tenham um sistema eficaz. Por exemplo, teste um capítulo, mas inclua todos os elementos gerados por computador, como um índice, figuras e bibliografia, para garantir que o sistema funcione conforme o esperado. O ciclo completo precisa ser testado para garantir que não haja falhas de última hora que atrapalhem a conclusão da tese. Nos estágios finais, você deve se concentrar no conteúdo e não na formatação e aparência.
      Refª: https://www.literatureandlatte.com/forum/viewtopic.php?t=18524

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