Terminei à pouco de ler “Auto-retrato do escritor enquanto corredor de fundo” 1, de Haruki Murakami.
Para alguém que escreve todos os dias, e que quer voltar a correr com regularidade, esta espécie de híbrido de livro de memórias com ensaio sobre a corrida de fundo com meditação sobre a condição do autor, só pode ser muito inspirador.
Não tenho ilusões de alguma vez correr a maratona, como o autor faz todos os anos, mas quero voltar a correr provas de dez quilómetros ou, quem sabe, uma meia-maratona (bem devagarinho…). Quanto a escrever romances, não é ideia que ponha de parte, mas também não a persigo ativamente.
Seja como for, selecionei algumas palavras de Murakami, porque acho que se aplicam muito bem também à nossa atividade de guionistas.
“Quando sou entrevistado, há sempre uma pergunta que me fazem: “Qual é a qualidade mais importante para ser romancista?” Evidentemente que a resposta só pode ser uma: talento. Pouco importa que o entusiasmo seja enorme, quem não tem talento nunca será romancista, por muito que se esforce. (…)
Nos casos em que me perguntam qual é a segunda qualidade mais importante para se ser romancista, respondo sem hesitar: a concentração. Por outras palavras, a capacidade de concentrar o talento limitado que se possui naquilo que se revela essencial num determinado momento. (…)
Logo a seguir à concentração, a qualidade mais importante para um romancista é a persistência.(…)
Felizmente as duas faculdades – concentração e persistência – revelam-se bem distintas do talento, uma vez que podem ser adquiridas e melhoradas com a ajuda de exercícios. (…)
Para mim, escrever romances é fundamentalmente um trabalho físico. A escrita em si talvez seja um trabalho intelectual, mas dar forma a um livro inteiro, acabar de o escrever, tem mais a ver com o ofício manual.” — Haruki Murakami