Quando eu me preparo para escrever e começo a pensar no meu texto, muitas vezes acabo não escrevendo nada. E quando escrevo metodicamente, sinto um enorme desgosto pelo meu trabalho. O que fazer? — Rafael
Rafael, o único conselho que lhe posso dar é para continuar a escrever.
O seu caso é um sintoma típico do que descrevi recentemente num artigo sobre a diferença entre o que desejamos conseguir, e o que conseguimos realmente fazer.
Enquanto as ideias estão apenas nas nossas cabeças – sejam elas um texto, uma pintura, uma fotografia ou um novo negócio – são perfeitas, sem falhas, sem mácula, sem problemas.
Mas quando passam ao mundo real este revela-se menos tolerante do que a nossa imaginação. Todas as fraquezas vêm ao de cima e tornam-se evidentes.
A ideia, que tão fantástica nos parecia, afinal não é tão boa assim, ou a nossa capacidade de a concretizar é insuficiente para lhe dar logo a perfeição desejada.
E daí vem o desgosto de que fala.
Mas não se preocupe. Não há ninguém que escape a isto. Se algum artista lhe disser que as suas obras saem perfeitas à primeira tentativa, está certamente a mentir.
Ernest Hemingway – esse mesmo, o consagrado escritor americano – dizia que ”todas as primeiras versões de alguma coisa são uma merda”. Se o Hemingway pode sentir isso, imagine os comuns mortais como nós.
A solução vem com o esforço e a dedicação. Por alguma razão o processo da rescrita é tão importante.
A primeira versão pode realmente ser uma porcaria – há até quem lhe chame a versão vómito – mas com trabalho irá sempre ficar melhor. Se não tivermos medo de rescrever, analisar friamente, deitar fora o que não presta, começar de novo onde está mais fraco, haveremos de conseguir uma versão final que já não nos envergonha.
Provavelmente nunca atingirá a perfeição que tinha na nossa cabeça mas, em compensação, agora é uma realidade – pode mostrá-la, partilhá-la, dá-la ao mundo… ou abandoná-la e começar a trabalhar na seguinte que, seguramente, será um pouco melhor.
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