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Resultado do debate

    Como referi há uns dias, participei num debate sobre o futuro do guionismo em Portugal, em representação das Produções Fictícias.

    O auditório 2 da Universidade Nova esteve quase cheio de um público maioritariamente jovem, possivelmente estudantes de cinema e afins. Muitos jornalistas também, vindos ao cheiro de notícias sobre as telenovelas. E estes tiveram um papo-cheio. Apesar das minhas tentativas (e do Paulo Filipe Monteiro) de alargar o âmbito do debate, os restantes elementos da mesa queriam falar de telenovelas e, maioritariamente, conseguiram-no.

    O debate foi organizado em torno de três temas: há uma nova linguagem teledramatúrgica em Portugal (o negrito é meu, para destacar o foco na televisão)? Adaptações ou originais (de novelas, evidentemente)? E como vai o sexo na TV (a propósito das novelas mais ousadas que têm surgido recentemente)?

    Aceitando que o tema era esse (e não “o futuro do guionismo em Portugal”, como tinha sido indicado) o debate até foi interessante. Deu para ter uma visão aproximada de como é o dia-a-dia dos guionistas que se dedicam a adaptar formatos chilenos e argentinos, e para perceber que há bastante gente a bater-se por escrita original, mesmo nessa área. Percebeu-se ainda que há um novo grupo de guionistas jovens, em formação e desenvolvimento, que poderão ser importantes para a Associação Portuguesa de Argumentistas e Dramaturgos, se esta lhes souber chegar.

    É claro que não concordo com muito do que lá foi dito. Um dos participantes afirmou, a dada altura, que (cito de memória) “um guião são pessoas que se juntam e falam”. É claro que um guião não é isto, nem tão pouco um guião de telenovela o deve ser. Mas é um reflexo da atitude por trás da maior parte da ficção televisiva que se faz hoje em Portugal.

    O debate teve ainda os seus momentos picantes, especialmente quando um dos participantes disse, com alguma deselegância, que “a telenovela ‘Jura’ é um falhanço total e absoluto, não vamos fingir que não é”. Deselegante porque na mesa estava outro participante que já se identificara como coautor e coordenador de escrita dessa mesma novela. É claro que a imprensa presente se babou com essa pequena picardia e, no fim, desdobrou-se em entrevistas aos dois envolvidos.

    Quanto a mim, não tive muita sorte com os jornalistas (talvez porque não tenho nada a ver com o mundo das Floribelas, Morangos e Juras). As notícias que saíram ou me ignoraram, ou se enganaram no meu nome, chamando-me Rui Nunes (e isto apesar de eu ter uma placa com o nome certo à minha frente). Apenas o “Diário de Notícias” me fez uma menção simpática e correta, que passo a citar:

    E se é verdade que em Portugal a telenovela é o género preferido das empresas de ficção, João Nunes, das Produções Fictícias, alerta para a necessidade de ver o que faz a TV americana. “Hoje é esse o campo mais propício a novas experiências e à qualidade”, diz, apontando o exemplo d’Os Sopranos, Sete Palmos de Terra e Donas de Casa Desesperadas. E em última análise, nota, é a experimentação que conta: “O importante é haver paixão no que se faz”.

    Gostei especialmente desta última frase.

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