Há cinco erros que encontro com frequência nos guiões de cinema e televisão que vou lendo, e que podem ser evitados com algum cuidado. Corrigi-los não é garantia absoluta de que terá um bom guião; se os seus personagens não forem interessantes e a sua estória não for original e envolvente, nada feito.
Mas se estiver atento a estes cinco erros, seguramente os seus guiões ficarão melhores; logo, com mais probabilidade de atrair o interesse de um produtor.
- Protagonista pouco activo. Em muitos guiões o protagonista parece andar sempre a reboque dos acontecimentos, sem ter objectivos bem definidos ou sem tomar medidas concretas para os alcançar. Um bom protagonista tem de saber o que quer, mesmo que seja para depois descobrir que não é isso que precisa; e tem de definir um rumo para conseguir o que pretende. Descubra o que o seu protagonista quer realmente e ponha-o a trabalhar nesse sentido.
- Pouco conflito. Se o seu protagonista já sabe o que quer, então compete-lhe a si dificultar-lhe a vida. Coloque o maior número possível de obstáculos no seu caminho, de preferência com intensidade crescente. Que obstáculos são esses, depende da estória: podem ser exteriores ( a montanha mais alta, o inimigo mais cruel…) mas também interiores (um medo profundo, uma dúvida angustiosa…). Agora, sem obstáculos, não há conflito; e sem conflito não há drama.
- Má estrutura. Há guiões que demoram a levantar voo, enchendo-nos com informação absolutamente desnecessária antes da estória começar. Outros arrastam-se penosamente, depois do clímax, fazendo-nos ansiar pela chegada dos créditos finais. Aplica-se aqui uma das poucas verdadeiras regras de escrita de guião: “entrar tarde e sair cedo“. Os espectadores são muito mais espertos do que nós imaginamos, e têm cada vez menos paciência para palha. Comece o seu guião o mais perto possível dos eventos que fazem arrancar a estória, e saia logo que esta esteja concluída.
- Escrita pouco visual. Se os seus personagens se limitarem a conversar, não está a escrever um guião de cinema; está a escrever uma peça de rádio. Há quem diga que o cinema acabou com a chegada dos filmes sonoros; é uma posição radical, mas serve para nos lembrar a essência visual desta arte. Sempre que puder, mostre em vez de dizer; arranje soluções visuais interessantes para fazer avançar a narrativa; ponha os seus personagens em acção; e pense em formas visuais de ligar as cenas.
- Diálogos chatos ou pouco adequados. O cinema é uma arte essencialmente visual, mas os nossos personagens também têm de falar. E falar não é só transmitir a informação que o espectador precisa saber; é construir uma teia, um jogo, em que a tensão e o conflito devem estar sempre presentes. Dê aos seus personagens coisas interessantes para dizer; prefira a subtileza à simples enumeração de factos e informações; e dê a cada personagem uma voz distinta e adequada à sua personalidade e condição.
Posso referir ainda mais um erro que, se fosse evitado, resolveria todos os anteriores: a falta de reescrita do guião.
Muitos guionistas ficam logo satisfeitos quando conseguem chegar ao fim da primeira versão do guião. Não se deixe iludir com isso; por muito trabalho que essa versão tenha dado, ainda há muito mais a fazer. Principalmente para corrigir os cinco erros que mencionei acima.
Grande Primo,
viajando na net, preparando uma viagem a London City, descobri-te por acaso, ou talvez não.
Gostei muito do que li (aproveitei para ver o resto do teu interesting blog). É verdade os últimos 40 mins do Lord of the Rings dão para giboiar um pouco na cadeira do cinema e se for a sessão das 00.00h, bater mesmo uma boa soneca e só acordar com as luzes da ribalta q anunciam a expulsão dos espectadores do recinto.
Aquele Abraço. e já agora temos q combinar Aquele Almoço. Quando fores para os lados do SALDANHA avisa. beijo*
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Brunio
avisa antes de ires a londres.
Abraço
JN
Não, não foi só o João que achou que o filme tinha meia hora a mais. Quando vejo o filme em dvd, costumo saltar essa parte, ou fazer qualquer coisa enquanto o filme ainda não acabou. Não sei porquê, mas custa-me desligá-lo, pura e simplesmente…
nâo vejo nada de errado no filme,alias é um dos filmes mais bonitos que assisti,é muito facil criticar,por que nâo criam algo?
Janaina
Criticar é fácil, fazer é mais difícil, e fazer bem ainda mais. Enquanto autor/criador, não posso estar mais de acordo consigo.
Agora, ninguém me tira da cabeça que “O Regresso do Rei”, apesar de todos os méritos que tem, e que são muitos, demora demasiado a acabar depois do clímax da acção.
João
Gostei muito deste post, está simples claro e fácil de entender…
Agradeço as dicas ‘
João Nunes: Muito enriquecedor as dicas, ideias e técnicas que compartilhastes. Para mim elas vieram na hora certa e me ajudarão bastante em alguns projetos pessoais. Servirá também para um amigo que está numa etapa mais avançada de um livro. Muito obrigado! Abraços.
Fico feliz com isso. Boas escritas.
Parabéns pelo conteúdo!
abraço
Obrigado, Nilson. Volte sempre.
Apenas posso dizer: adorei, muito interessante, para quem sonha e o sonho comanda a minha vida.
Obrigada.
A realidade é dura, sim eu sei, pois vivo com o salário minímo, apesar de ter investido na minha formação, contudo, sonhar e ter objectivos, sejam eles concretizados ou não, faz parte da vida de um ser um seu Humano que pensa, que sente e que aguarda por uma “vida” melhor.
Mais uma vez, obrigada.
Eu é que agradeço, Lurdes. E mantenha a fé porque essa vida melhor está sempre ao virar da esquina. Todos os dias nascemos como uma pessoa nova, com novos horizontes e novas possibilidades. Enquanto não desistirmos, a possibilidade está sempre de pé.
Faço minhas as tuas palavras.
E mantenha a fé porque essa vida melhor está sempre ao virar da esquina. Todos os dias nascemos como uma pessoa nova, com novos horizontes e novas possibilidades. Enquanto não desistirmos, a possibilidade está sempre de pé.
tomando um copo de leite no intervalo de escrever um guião (do qual farei um romance, pq se publicar romance é difícil, guião virar filme é bem pior!) descobri este site, dei olhada mui rápida, e discordei logo. Eu sinto muito a falta de diálogos profundos, interessantes. o cinema anda uma desgraça nesse sentido, anda ao nível da música popular da rádio, miséria. deixei de ouvir rádio.
O simples ato de tomar café, uma conversa de família, pode virar uma beleza, assim haja arte de filmar! Ainda há dias vi isso num filme com Jack Nicholson, beleza!
conhece aquele filme passado em cela de prisão, entrei a medo «Horror, vou fechar-me numa cela de prisão!» ‘foi uma grande lição q tomei.
até!