O último capítulo da trilogia "Os Piratas das Caraíbas" já está nas salas. "Piratas das Caraíbas – nos confins do mundo" não é um filme perfeito, mesmo no universo limitado dos "blockbusters" de Verão, dos quais não se espera à partida muita coisa.
Barbossa, Elisabeth e Jack Sparrow estão de volta.
Para começar, é longo demais. Mesmo num filme de acção e comédia (ou talvez especialmente num filme desses…) três horas é muito tempo para estar sentado num cinema, alimentado exclusivamente a pipocas.
Em segundo lugar, o enredo dá tantas piruetas e reviravoltas que mesmo o espectador mais atento acaba por se perder se não tomar notas. Somando a isso o facto de muitos dos pontos do enredo estarem dependentes dos filmes anteriores, o potencial de confusão é grande e, em alguns momentos, largamente ultrapassado. Eu, que sou um fã da série, tive que me esforçar muito para saber em cada momento quem estava a trair quem, e porquê.
Mas apesar de tudo isso, e como acontece em qualquer filme que saia da imaginação delirante e técnica apurada dos guionistas Terry Rossio e Ted Elliott 1, há muita coisa a aprender neste guião. Nomeadamente…
A importância dos papéis secundários.
Os dois guionistas deste terceiro filme da série partilham com Stuart Beattie e Jay Wolpert, co-autores do primeiro episódio "A maldição do Pérola Negra", os créditos da concepção dos personagens. Além dos três protagonistas e dos seus sucessivos e cada vez mais perigosos antagonistas, estes incluem um leque vasto de personagens secundários que enriquecem enormemente o universo da estória e contribuem para o seu sucesso.
Falamos de personagens como Ragetti (o pirata do olho de vidro) e o seu companheiro Pintel; do contramestre Gibbs; da feiticeira Tia Dalma e do anão Marty; dos soldados Mullroy e Murtog; e até do papagaio e do macaco. Para cada um destes personagens os guionistas tiveram a preocupação de criar personalidades e traços próprios, tão diferenciados entre si que, mesmo sem o excelente trabalho dos actores que os interpretaram (incluindo o macaco e o papagaio…), seriam suficientes para evitar confusões.
A sua preocupação deu dividendos: são os personagens secundários que contribuem com a maior parte dos momentos cómicos da trilogia, libertando os protagonistas dessa tarefa e dando-lhes mais liberdade para explorar o lado dramático, romântico e de acção da trilogia.
Nem todos os secundários são brilhantes. O capitão Sao Feng, por exemplo, sofre com o peso excessivo do actor que o interpreta (Chow Yun Fat), uma estrela brilhante demais para ficar confinado num papel que acaba por ter importância limitada na estória.
Já o capitão Jack Sparrow é um exemplo muito curioso. No primeiro filme ele é pouco mais do que um secundário muito importante. Mas, pouco a pouco, em virtude do brilho da interpretação de Johnny Depp, acaba por se converter num verdadeiro protagonista, dividindo o pódio com Elizabeth e Will (este, por sua vez, sofre o percurso inverso – de protagonista indiscutível no primeiro capítulo, acaba quase como um excedentário no terceiro).
Resumindo – quando estivermos a escrever os nossos guiões devemos tentar pensar no elenco dos nossos personagens como uma grande orquestra. Tem os seus solistas e primeiros executantes, mas todos os músicos são importantes para o resultado final.
Notas de Rodapé
- Os dois escrevem no excelente site de guionismo Wordplay.