Num dos artigos do curso de guionismo sugeri que uma das maneiras de travar conhecimento com os nossos personagens é fazer-lhes uma entrevista. É uma técnica que eu já apliquei muitas vezes, e sempre com bons resultados.
Este truque tem duas grandes vantagens: obriga-nos a pensar a fundo sobre os personagens, descobrindo aspetos menos evidentes da sua vida e personalidade; e ajuda-nos a encontrar a sua ‘voz‘, a sua maneira própria de falar, com o seu ritmo e vocabulário específicos, antes mesmo de começarmos a escrever o guião.
Encontrei agora um artigo em que a autora defende a mesma coisa, mas dá mais um passo: fornece uma lista de 100 perguntas sobre as quais podemos construir a entrevista. As questões estão organizadas em grupos: mandatórias, pessoais, familiares, de infância, de adolescência, de ocupação, gostos & antipatias, sexo & intimidade, drogas & álcool, moralidade, sobrenatural, e temas diversos.
Num artigo que li há pouco tempo o autor refere que uma das razões porque se fazem adaptações de romances é porque os personagens são normalmente mais ricos e complexos. Os romances, com toda a sua riqueza de detalhes e de informação, colocam nas mãos dos argumentistas o material necessário para criar personagens realistas, com passado, e com uma vida que não se esgota nos limites da página escrita. Mesmo que essa informação não entre toda no guião (o que não só é impossível como é contraproducente), ela ajuda a dar subtileza, profundidade e coerência aos personagens.
As entrevistas aos personagens, principalmente se apoiadas numa lista de perguntas tão completa como esta, oferecem-nos a mesma possibilidade. O objetivo, evidentemente, não é aproveitar toda e cada uma das respostas, para as introduzir à força no guião; é, isso sim, construir um passado, um presente e uma personalidade para os nossos personagens.
É também de referir que nem todos os personagens necessitam de uma análise tão aprofundada. Não precisamos saber qual era o nome do animal de estimação da infância do taxista que entra apenas numa cena. Mas o protagonista, o antagonista, e alguns dos principais personagens relacionais, só terão a ganhar se forem sujeitos a este escrutínio. E mesmo os personagens secundários podem ganhar nova vida se tiverem de ‘responder’ a um questionário, embora mais curto.
Alguns exemplos das perguntas que a autora do artigo sugere:
- Na sua opinião, qual é a sua melhor característica?
- Como era o casamento dos seus pais?
- Qual é a sua memória mais antiga?
- Quem era o seu ídolo na adolescência?
- Dá-se bem com os seus colegas de trabalho?
- Que hábito das outras pessoas o incomoda mais?
Há mais 100 perguntas assim. Nem todas se aplicam a todos os personagens, mas como base de inspiração para as entrevistas esta lista é um excelente recurso.
Uma última referência para as recomendações da autora: não tente responder a todas as perguntas de uma só vez, para não se queimar criativamente. Responda-lhes como se fosse o personagem, numa situação em que ele fosse 100% honesto. E, se isso não for possível, responda-lhes como autor, sendo também 100% honesto.
Olá, João!
Eu adoro todos os artigos que você indica, são sempre muito bem escolhidos! :idea:
E adoro o seu blog inteiro, você está fazendo um trabalho excelente, meus parabéns :!: Estarei sempre te acompanhando. :-)
Um grande abraço,
Valéria Olivetti
Obrigado Valéria. Não esqueça que pode ser informada dos novos artigos quer pelo RSS, quer por email, quer pelo Twitter.
Obrigada, João, já estou lhe seguindo pelo Twitter!
Um grande abraço!
Valéria Olivetti
PS.: Meus emoticons não apareceram, o que é estranho, já que usei os códigos do WordPress. Mas como não entendo praticamente nada de informática, vai ver que eu fiz algo errado. É só isso, estou apenas avisando por que o texto ficou meio estranho! Desculpe-me!
Um abração,
Valéria Olivetti
É realmente um site muito bom e ajuda muito.
Continuação de um bom trabalho.
Cumprimentos