Já abordei várias vezes o processo da rescrita, mas hoje lembrei-me de um tema que não explorei nesses artigos: os fantasmas.
É frequente, quando rescrevemos um guião, deixar um rasto de fantasmas no caminho.
Fantasmas, neste caso, são diálogos, descrições, e por vezes personagens ou cenas inteiras, que deixaram de fazer sentido depois da rescrita, mas que por esquecimento continuam no guião.
Alguns exemplos:
- Um personagem que matamos numa cena da rescrita e volta a aparecer mais à frente, como se nada tivesse acontecido (podemos dizer que esse é o verdadeiro fantasma).
- Um personagem a quem mudámos o nome, mas que continua a ser referido pelo nome antigo.
- Um diálogo que faz referência a uma situação que entretanto cortámos.
- Um personagem que continua vestido de uma determinada maneira, quando antes alterámos a sua roupa para outra completamente diferente.
- Um cenário que foi eliminado mas que voltamos a usar.
- A luz da lua que projeta sombras azuladas, numa cena que entretanto mudámos para o dia.
- Um automóvel que reaparece, depois de o termos destruído numa cena anterior.
- E etc etc etc.
Os exemplos são muitos, pois é praticamente impossível fazer uma rescrita profunda num guião sem dar origem a fantasmas. A única solução é rever o guião com um olhar muito atento para este problema específico.
Há ainda um outro tipo de fantasma que encontro com alguma frequência em guiões amadores.
Como já referi em artigos anteriores, da primeira vez que apresentamos um personagem o seu nome deve aparecer em maiúsculas, acompanhado de uma descrição sucinta. Por exemplo: "Entra RAFAEL (45), porte atlético e olhar vivo".
Acontece, por vezes, que ao mudar a ordem de algumas cenas no decurso da rescrita, um determinado personagem passe a entrar na estória antes da cena em que era originalmente apresentado. Nesse caso temos de ter o cuidado de mudar a sua apresentação formal para a cena que foi antecipada.
Antes de entregar o seu guião, dê-lhe mais uma revisão: a revisão caça-fantasmas.
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Parabéns pelo site e generosidade em partilhar conosco seu material de altíssima qualidade.
Grato ao meu Xará, João Nunes
abraços
João Carlos
Eu é que agradeço a sua atenção. Volte sempre.