Antes de sermos argumentistas somos pessoas. E, como pessoas, temos os nossos defeitos, as nossas fraquezas, as nossas falhas.
É normal, nesta altura do ano, querer corrigi-las. Chamamos a isso as "decisões de ano novo", que normalmente esquecemos antes de janeiro terminar.
O problema destes objetivos que determinamos com tanta boa vontade e abandonamos com tanta ligeireza é normalmente não serem bem definidos. É por isso que hoje proponho uma metodologia para esse efeito, que pode ser usada por autores e por qualquer pessoa.
Em vez de objetivos, devemos ter METAS – objetivos caraterizados por cinco critérios: serem Mensuráveis; Específicos; Temporizáveis; Alcançáveis; e Significativos 1.
Vejamos o que significa cada um destes critérios:
Mensuráveis – devemos dar valores concretos aos nossos objetivos. É a única forma de podermos avaliar o nosso progresso em direção a eles. Em vez de "quero perder peso", devemos especificar "vou atingir os 60 kg"; em vez de "quero escrever mais", vamos dizer "vou escrever três guiões".
Específicos – os nossos objetivos não devem ser vagos e ambíguos, mas sim claros e específicos. Isso fica mais fácil se, além de dizermos exatamente o que queremos alcançar, definirmos também porque é que o queremos conseguir. Por exemplo, "Este ano vou correr 20 km por semana para melhorar a minha condição física geral, diminuir peso e poder participar na meia maratona em setembro".
Temporizáveis – devemos colar os nossos objetivos a datas fixas, determinando limites para os alcançar. Se os deixarmos sem prazo, estaremos uma vez mais a ser vagos e diminuiremos a possibilidade de os concretizar. Um prazo acrescenta urgência e motivação. Por exemplo, é um bom objetivo dizer que "este ano vou escrever um guião até abril, o segundo até agosto e o terceiro até ao fim do ano".
Alcançáveis – não adianta definir objetivos claramente irrealistas ou que não dependem de nós. "Este ano vou ganhar a lotaria" ou "vou correr os 100 m nos jogos olímpicos de Londres" são maus objetivos (a não ser que sejamos psíquicos ou atletas de alta competição).
Significativos – por último, mas não menos importante, os nossos objetivos devem nascer simultaneamente da nossa razão e do nosso coração. Não adianta decidir que "este ano vou deixar de fumar" se não estiver verdadeiramente motivado para o fazer. Incluir numa lista objetivos que não são suficientemente significativos para nós, e que, como tal vão ser rapidamente abandonados, pode ter um desanimador efeito de dóminó que contagie os restantes. É melhor deixá-los fora da lista até eles serem realmente importantes.
Por fim, três conselhos para manter e alcançar as METAS de fim de ano:
Em primeiro lugar, não exagere. É impossível mudar tudo ao mesmo tempo. Mais vale definir menos METAS, e alcançá-las, do que querer fazer tudo, e falhar em toda a linha.
Em segundo lugar, escreva as suas METAS. O registo obriga a pensar e a apurar a sua formulação, concretiza-as e começa a materializá-las. O documento também poderá ser relido regularmente, como forma de avaliação do nosso progresso.
Em terceiro lugar, se tiver coragem, torne públicas as suas METAS. Não precisa publicá-las no Facebook (embora também o possa fazer). Mas se as partilhar com pessoas de confiança e lhes pedir para o ajudarem a alcancá-las, vai ver que isso será muito mais fácil.
Escreva já as suas METAS para o próximo ano. E. se quiser, partilhe-as nos comentários deste artigo.
UM PRÓSPERO E BEM SUCEDIDO DOIS MIL E DOZE.
Notas de Rodapé
- as minhas METAS são uma adaptação dos SMART goals, tal como definidos em 1981 por George T. Doran, que pode conhecer na Wikipedia
Ola Joao! Saudades de voce, que anda sumido. Obrigada pelos roteiros que voce postou, estou estudando Argo, e depois passarei para Lincoln. Tenho, como sempre, uma dúvida. O John Truby, que obviamente voce sabe quem é, fala no seu curso de Drama sobre uma estrutura filmica com 04 atos. Sera que, como voce ensinou, ele esta dividindo o segundo ato em duas partes? Ou existe uma estrututra filmica que seja comumente usada em Hollywood e use 04 atos. Grande abraco, Fernanda.
Oi Fernanda, não ando tão sumido assim :(
Confesso que nunca dediquei muito tempo ao John Truby. Tenho o seu “Anatomia do Guião” mas dei-lhe apenas uma leitura muito superficial. A sua teoria baseada em 22 blocos essenciais pareceu-me complicada demais para uma coisa que, afinal, sendo muito difícil de executar, não é tão complexa assim. Como o Mamet diz, o objetivo de um guião é contar a estória de forma a que o espectador queira saber o que vem a seguir, e contá-la em imagens. O Truby pareceu-me, esse sim, muito formulaico. Mas pode ser que uma leitura nova me dê outra perspectiva. É um desafio que me está a lançar.
Quanta à sua dúvida, o meu palpite é que seja isso mesmo. É muito comum pensar no guião como tendo quatro atos, sendo que os dois intermédios correspondem à primeira e à segunda metade do 2º ato do paradigma. O ponto intermédio marca a separação entre eles, sendo neste caso encarado como mais um ponto de viragem.