Neste pequeno documentário o realizador Francis Ford Coppola explica detalhadamente o método que utilizou para preparar o guião do filme com que finalmente irrompeu na galáxia de Hollywood: O Padrinho (ou O Poderoso Chefão, no Brasil).
Para o fazer adoptou uma técnica herdada do trabalho de preparação dos encenadores de teatro: um gigantesco livro de notas onde registou todas as suas ideias sobre o livro e o filme. O ideal é ver o documentário e ouvir da voz de Francis Ford Coppola a descrição passo a passo do método.
Mas como nem todos os leitores dominam o inglês, deixo aqui o resumo essencial do seu método.
Anotar as primeiras impressões no próprio livro à media que o ia lendo. Segundo Coppola este passo é crucial, pois as primeiras impressões vêm do instinto e são muito importantes nos passos seguintes.
Criar o livro de notas. O passo seguinte foi desmontar o livro e colá-lo, página a página, em molduras de papel que lhe deram uma área mais extensa para escrever notas adicionais.
Ler e reler o livro tomando notas adicionais. Francis Ford Coppola adicionou sucessivas gerações de anotações nas margens das molduras de papel. Isso dava-lhe uma pista visual quanto à importância das cenas; quanto mais notas, riscos e sublinhados uma página tinha mais a cena se ia tornando essencial para o guião.
Dividir o livro em cenas. A certa altura Coppola começou a introduzir separadores que dividiam o livro em cenas. Conforme refere, essas cenas nem sempre correspondiam às divisões do livro, mas eram as que lhe pareciam naturais para o filme. Com isso o guião começava a tomar forma.
Finalmente, fez uma análise muito racional de cada cena segundo cinco critérios. Francis Ford Coppola refere que costumava ir sentar-se num pequeno café com a sua máquina de escrever Olivetti, para criar secções de análise do livro. Os temas que usava eram cinco:
- Uma sinopse da cena;
- Uma análise dos sinais e características do período em que a estória se passava (anos 40);
- Notas sobre as imagens, os visuais e o tom de cada cena;
- Uma descrição curta do núcleo dramático da cena;
- E, por fim, uma pequena lista de alertas sobre as coisas que poderiam arruinar aquela cena nas filmagens.
Francis Ford Coppola diz que com aquele livro de notas nem precisaria de ter escrito o guião, pois tinha lá tudo o que necessitava. Obviamente que isso é um exagero – para o seu trabalho talvez fosse suficiente, é verdade, mas com toda a certeza não o poderia emprestar a cada actor e técnico do filme para preparaem as suas participações. E nós não teríamos cenas tão inesquecíveis como esta para estudar.
É curioso como, sem conhecer este documentário, descrevo um método mais ou menos semelhante (embora com um livro de notas virtual, num software próprio) numa dos artigos mais antigos deste blogue, de 2006. O filme a que me refiro nesse artigo nunca chegou a ver a luz do dia, mas já tinha usado técnicas semelhantes na adaptação de A Selva e voltei a usá-las em outros projectos posteriores.
Uma última nota: é impressionante o trabalho, tempo, dedicação e carinho que Coppola investiu na criação do seu livro de notas. O que só confirma que, como em tudo na vida, escrever um guião é 10% de inspiração e 90% de transpiração.
Fiquem pois com este pequeno mas muito útil documentário e, em jeito de brinde, o trailer e um link para o guião.