Se, como grande parte da população ocidental, o seu plano para o dia 1 de janeiro é fazer o menos possível, deixo-lhe uma sugestão: rever o filme Salteadores da Arca Perdida mas desta vez a preto e banco e sem diálogos, apenas com uma banda sonora electrónica.
E porque é que haveria de querer fazer uma coisa dessas?
Segundo Steven Soderbergh, que deixou a sugestão no seu site, o objectivo é apreciar a mestria com que Spielberg conta a estória por imagens, escolhendo sempre o ângulo, enquadramento e movimento certo para cada momento. É, assim, uma verdadeira aula de cinema em duas horas.
Como guionista este exercício tem um interesse adicional: serve também para ver a estrutura narrativa deste filme, perfeita para o tipo de cinema em que se insere.
William Goldman dizia que um guião é estrutura, e a prova está aqui: não é necessário ouvir um único diálogo para perceber tudo o que está a acontecer na estória.
É claro que sem os diálogos e sem a música original perdemos muito do sabor do filme; o seu sal e pimenta. Mas as proteínas e vitaminas estão lá todas.
Finalmente, para quem se interessa pela história do cinema, ver os Salteadores assim, mudo e a preto e branco, ajuda-nos a perceber melhor a influência dos seriados cinematográficos, filmes em capítulos populares no início do século XX, em que Spielberg, George Lucas e Lawrence Kasdan se inspiraram para criar um dos grandes heróis de aventuras do cinema americano.
Prepare o seu copo de água com Gurosan, ou um bloody Mary, sente-se (em calções ou com uma manta, conforme o hemisfério em que estiver) em frente ao computador, e aprecie a arte e a técnica de Steven Spielberg.