Foram conhecidos ontem os vencedores da edição de 2023 dos Prémios Sophia, atribuídos anualmente pela Academia Portuguesa de Cinema. Na cerimónia, que decorreu no Casino Estoril e foi transmitida pela RTP 2, houve confirmações, desilusões, consagrações e surpresas.
Em 2023 a Academia dedicou a sua actividade ao “ano de todas as histórias” e este foi também o lema da cerimónia. Comecemos pois pelos prémios de Argumento, em que os vencedores nas duas categorias foram:
- Melhor Argumento Original: Alma Viva, de Cristèle Alves Meira e Laurent Lunetta.
- Melhor Argumento Adaptado: Um Filme Em Forma De Assim, de João Botelho e Maria Antónia Oliveira.
O primeiro destes prémios foi a confirmação. Alma Viva, que partiu para a corrida com 13 nomeações e ganhou o lindo troféu dos Sophia em 6 delas, incluindo Melhor Filme, tornou-se o grande vencedor da noite.
O segundo, foi a desilusão. Mas desilusão só para mim, porque, como referi noutro artigo, eu também estava nomeado para o Argumento Adaptado com o meu guião Avó Dezanove e o Segredo do Soviético. Para minha grande tristeza vi a bela estatueta dourada ir juntar-se às muitas que o João Botelho já tem em casa. Parabéns aos dois co-autores, que não têm culpa, só mérito, por ter sido preferidos pelos votantes da Academia.

Houve ainda mais dois argumentistas a subir ao palco. Rui Cardoso Martins e Edgar Medina receberam o prémio de Melhor Série de Televisão/Telefilme como criadores da primeira temporada de Causa Própria, a série policial que a RTP lançou no ano passado.
Quanto às consagrações, foram duas. Em primeiro lugar, o argumentista Carlos Saboga recebeu um merecidíssimo Prémio de Carreira, uma homenagem justa mas tardia para quem tanto fez pela escrita para cinema em Portugal e noutros países da Europa.
Uma nota pessoal: o Carlos Saboga iluminou os meus passos iniciais nestas coisas da escrita audiovisual, pois era o mentor do projeto de telefilmes da SIC onde foi produzido o meu primeiro guião profissional, Mustang. O argumentista e realizador Vicente Alves do Ó, que também se estreou nesse projeto, não deixou de recordar isso na sua intervenção no palco.
A segunda consagração, que também foi uma surpresa, terminou com a sala toda de pé, a aplaudir o produtor Paulo Trancoso. Também ele recebeu um Prémio de Carreira pela sua dedicação à causa do cinema. A atribuição do prémio, ao que percebi, foi uma surpresa para o próprio, apesar de ter sido recentemente reeleito como Presidente da Academia. Deve ter sido muito emocionante receber uma homenagem assim, de forma inesperada, de todos os seus pares, colegas e amigos, que são muitos.
Outra nota pessoal: o Paulo Trancoso foi o produtor da primeira longa-metragem de cinema que escrevi (em co-autoria com Isaías Almada) e foi produzida, A Selva. A minha carreira de argumentista deve-se pois, em não pequena parte, à confiança que depositou em mim nesse projeto, pela qual lhe estarei sempre grato.
Com a sua 12ª edição, os prémios Sophia confirmaram uma vez mais a pujança e diversidade do cinema português. Longa vida para a Academia!