A palavra “protagonista” identifica geralmente o personagem principal, o herói da nossa estória. Apesar de poder haver diferenças entre todos estes termos, em grande parte das narrativas ficcionais eles coincidem entre si.
No entanto, há um outro aspecto desta palavra que eu gostaria de destacar.
Segundo a Wikipédia (que neste caso é confirmada por outras fontes reputáveis) a etimologia de protagonista começa no grego protagonistes, que por sua vez resulta de prótos = primeiro e agonistès = ator, lutador.
O protagonista era, pois, o primeiro ator de uma peça no teatro clássico grego e é nesse sentido que a palavra foi assimilada pelo latim e daí se estendeu às diversas línguas românicas (e via o francês antigo às anglosaxónicas).
O curioso, contudo, é que a origem de metade desta expressão é agon = disputa, exposição, combate, raiz que encontramos também na etimologia da palavra “agonia”, sinónimo de ansiedade, perturbação, sofrimento.
Não é, pois, errado, pensar no protagonista como o primeiro sofredor.
Esta consideração deve ter duas implicações importantes quando estamos a escrever as nossas estórias.
Em primeiro lugar, o protagonista é o primeiro sofredor, porque é quem tem mais a perder se os eventos não correrem favoravelmente aos seus objetivos.
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Conforme não me canso de referir, numa boa estória dramática alguém (o protagonista) quer alguma coisa importante para si, mas enfrenta obstáculos e dificuldades para alcançar esse objetivo.
Por vezes consegue atingi-lo, noutras falha. Neste caso deve ser ele quem mais sofre, direta ou indiretamente, as principais consequências do fracasso.
Mas não podemos esquecer também uma segunda implicação de ser o primeiro sofredor. Como vimos mais acima, a palavra grega agonistès também quer dizer “lutador”.
O protagonista deve ser sempre, também, o primeiro lutador. Ou seja, a pessoa que enfrenta as maiores dificuldades ao longo da narrativa; a que tem de enfrentar mais obstáculos, ultrapassar mais complicações, lutar mais contra todos os tipos de antagonistas, externos ou internos.
Consequentemente, o protagonista é também o primeiro sofredor no decurso da narrativa.
É pois nossa obrigação, enquanto autores, certificarmo-nos de que os protagonistas das nossas estórias cumprem estes dois critérios que lhes estão etimologicamente ligados.
Devem ser eles quem mais tem em jogo e quem mais sofrerá se o resultado final não for favorável aos seus desejos. E devem ser eles quem mais luta, e quem mais sofre, ao longo do percurso até esse desfecho ser atingido.
Em resumo: goste dos seus protagonistas, vibre com eles, mas não deixe de lhes complicar a vida e de os fazer sofrer em cada oportunidade que a sua estória lhe apresentar.
É dessa forma que vai conseguir a adesão emocional dos espectadores, e proporcionar-lhes a merecida catarse no final.