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Mais uma etapa no “projecto z”

    Terminei finalmente de reler e anotar o romance que estou a adaptar para cinema.

    Como tinha previsto num artigo anterior, esta fase demorou mais do que tinha planeado inicialmente. Mas é natural – esta releitura foi mais cuidadosa e profunda do que a primeira, tomei muitas notas, já comecei a delinear a estrutura do filme e a criar novas cenas e situações. Aproveitei também para sublinhar os diálogos mais importantes, que gostaria de fizessem parte do guião final.

    Digo “gostaria” porque só o poderei saber com certeza quando o guião começar a tomar forma. Apesar dos diálogos do livro serem magníficos, cheios de força e subtileza (parece um paradoxo mas não é), e eu querer preservá-los tanto quanto possível, há três aspectos a ter em conta na sua adaptação:

    • se fazem a história avançar ou, pelo contrário, a travam;
    • se encaixam bem nas cenas e diálogos que vou ter de criar ou parecem implantados à força nelas;
    • se são diálogos adequados para cinema ou são excessivamente “literários”;

    Outro desafio interessante que encontrei é a paixão que o personagem principal nutre pela poesia. Sem entrar em demasiados detalhes, o protagonista é um homem de acção e violência, um militar com um passado cheio de manchas que quer esquecer/apagar. Não é um homem de quem, à primeira vista, esperássemos um amor pela palavra poética; assim, esse gosto enriquece-o e dá profundidade à sua personalidade.

    O problema é que este amor à poesia é mostrado, no romance, de uma forma inteiramente interna e subjectiva. Confrontado com situações, dilemas, diálogos, memórias, o protagonista lembra-se de versos dos seus poetas favoritos. Tudo se passa dentro da sua cabeça, sem nenhuma exteriorização dessa paixão. Há alguns diálogos em que ele usa esses versos, mas não os cita como tal.

    Tudo isto me deixa num dilema: mostrar ou não mostrar esse lado do protagonista, que é tanto mais importante por ser tão paradoxal? E se sim, como fazê-lo cinematograficamente (pondo de lado, obviamente, soluções de “cinema de autor”…)?

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