Tenho de agradecer ao agente Óscar, da polícia de trânsito de Luanda, por ter tornado um pouco menos difícil a minha partida de Angola.
No mesmo dia em que os meus colegas me organizaram um jantar de despedida e me encheram de mimos e carinhos, de frases simpáticas, de gestos de camaradagem, de provas de amizade, fazendo todo o possível para eu sentir saudades antes mesmo de partir, o agente Óscar resolveu a questão de uma forma simples e eficiente: assaltou-me com as suas luvas brancas sujas e rasgadas.
Ou seja, "penteou-me", como se diz por aqui.
Não vou contar os detalhes do episódio, que não são bonitos nem edificantes. Mas serviu para me lembrar que Angola ainda tem uma longa estrada a percorrer.
É verdade que essa estrada já está em construção, e que a paisagem é bem bonita para quem se fizer à viagem; mas enquanto houver agentes óscares a atravessar-se à frente do carro, o caminho em direcção ao futuro vai ser como o trânsito de Luanda – lento, caótico e exasperante.