As mulheres do povo andam com as crianças às costas, presas por um pano, como se de uma mochila se tratasse. É frequente ver moças novas com um bebé de um ou dois anos nessa posição, e a barriga proeminente de uma gravidez de vários meses, qual contrapeso.
Tenho dúvidas quanto ao mérito dessa solução. Não acredito que estar o dia inteiro com a cara enfiada nas costas da mãe, limitado a esse horizonte de alguns centímetros de pele ou pano, possa fazer bem ao desenvolvimento psico-motor dessas crianças. Numa idade em que todos os estímulos são absorvidos e integrados no repertório da criança, ver-se confinada a um mundo tão estreito é seguramente limitador.
Compreendo que essas mulheres pobres, que precisam de trabalhar para sobreviver, sem creches e infantários (ou mesmo amas) onde deixar os filhos, não tenham outra solução senão carregá-los o dia inteiro. Por causa disso tenho tenho pensado muito em outras formas, práticas e baratas, em que isso pudesse ser feito. Infelizmente nunca arranjei uma solução que pudesse competir com um simples pano enrolado à volta do peito. Receio que os bebés angolanos mais pobres ainda tenham de passar muitos anos com a cara espalmada.
Comentário vinte anos depois: este artigo é um bom exemplo da trope cinematográfica do white man savior aplicada à vida real. Eu, o expatriado recém-chegado a Angola, queria encontrar uma solução para um “problema” que eu, o expatriado recém-chegado a Angola, tinha identificado nos costumes de mulheres com as quais eu, o expatriado recém-chegado a Angola, não tinha mais contato do que o visual. A intenção era boa, admito, mas a arrogância… que diferença que duas décadas de vida podem fazer…