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Expiação – entrevista com o guionista Christopher Hampton

    Expiação

    Saoirse Ronan, no papel de Briony Tallis (aos 13 anos)

    O jornal O Público de sexta-feira passada 1 publicou uma interessante entrevista com o guionista Christopher Hampton, responsável pela excelente adaptação a guião do romance "Expiação" ("Atonement"). Desconfio que toda essa atenção dada ao guionista só acontece porque a entrevista é conjunta com o escritor Ian McEwan, autor da obra original, e porque  a peça é uma tradução de uma matéria do Los Angeles Times. Infelizmente em Portugal não estamos habituados a que este tipo de tratamento seja dedicado aos argumentistas, apenas a actores e realizadores.

    De qualquer forma a entrevista é interessante e contém muita matéria de reflexão sobre os problemas específicos da adaptação de um original literário ao cinema. O texto só está disponível na internet para os assinantes do jornal por isso tomei a liberdade de citar alguns parágrafos .

    A relação entre o adaptador e o adaptado

    McEwan: A relação entre o adaptador e o adaptado, se é que posso usar estes termos, é sempre delicada. Mas é muito melhor haver uma relação franca do que não haver comunicação. (…) Este romance tem 130.000 palavras, e um argumento tem cerca de 20.000. Há muita coisa que tem de sair. (…) Tem de haver uma espécie de liberdade para o argumentista.

    Hampton: No que me diz respeito,  funcionou como deveria provavelmente funcionar. Quero com isto dizer que Ian esteve muito mais presente no início do processo, no primeiro esboço, para registar o que ele pensava, e depois foi recuando com tacto à medida que nos aproximávamos do primeiro dia de filmagens. (…) E chega depois uma altura, em todos os filmes, em que cada vez mais pessoas começam a dar o seu contributo.

    A fidelidade ao livro

    Hampton: É uma questão de encontrar um equilíbrio: não queríamos, de modo nenhum, perder de vista a linha mestra do livro e, por outro lado, desejávamos evidenciar a sua carga dramática. (…) As coisas que deixámos de fora eram coisas que em nada contribuíam para o progresso da história. Ou elementos logísticos como, por exemplo, a II Guerra Mundial, pois não tínhamos orçamento para isso.

    McEwan: Isto, no fundo, aplica-se a todas as transposições de livros para filmes: aquilo que não se pode fazer, a não ser que se usem horas de narração em voz-off, é dizer ao público o que uma determinada personagem está a pensar. Já o romance pode dar-se a este luxo, e a sua força é a de fornecer uma consciência contínua. A força dos filmes reside, claramente, noutros elementos, e a forma de estabelecer uma ligação entre elas está, na minha opinião, na escolha dos actores.

    Ver os personagens no ecrã

    McEwan: É quase como se o filme fosse um neto nosso – o filho do nosso filho. E ter netos pode realmente ser uma experiência muito gratificante. Não somos directamente responsáveis por eles e só retiramos prazer disso, prosseguindo com a analogia. O filho é ainda o filho, mas o neto é uma coisa diferente.

    Notas de Rodapé

    1. O Público, suplemento Ípsilon, 18 de Janeiro de 2008 – Expiação, dois escritores, uma história – Scott Timberg

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