Atenção: o passatempo já encerrou. Por favor não enviem mais cenas. Foi um sucesso e os vencedores serão apresentados na segunda feira. Incluindo o vencedor do Prémio Entusiasmo, que resolvi criar depois de receber as propostas.
No início do ano lancei aos leitores o desafio de escreverem um guião em 2010. Não sei quantos leitores o aceitaram (houve bastantes a dizer que o iam fazer) mas neste momento já vamos quase em 30% do ano, o que quer dizer que deveriam ter perto de 30 páginas escritas. Estão próximo? Ou ainda andam a afinar ideias?
Seja como for, lembrei-me de lançar um novo desafio, mais pequeno, simples e de duração limitada, mas que pode ser muito estimulante e divertido: escrever uma única cena, segundo um mote que vou dar a seguir.
Mas antes, os prémios:
- para o primeiro leitor a enviar uma cena (com pés e cabeça) – um DVD (usado ;), à escolha do vencedor, de "Blade Runner" ou "Taxi Driver", dois dos meus filmes favoritos de sempre 1.
- para a melhor cena (segundo o meu critério pessoal e altamente subjetivo) – uma cópia por estrear do divertido livro "Which lie did I tell", do guionista William Goldman, sobre as suas experiências em Hollywood 2.
Os portes de correio são por minha conta.
O desafio
Então aqui fica o mote:
No nosso filme fictício, "Culto Zombie", Oscar, o protagonista, foi apanhado com a namorada Andreia no meio de uma epidemia de 'zombies' de primeira grandeza.
Depois de passarem uma boa parte do tempo a fugir deles, quase são alcançados num parque de estacionamento de um shopping.
Nesta cena Oscar descobre que, em vez de o fazerem em pedaços, os 'zombies' começam a adorá-lo como um deus.
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EXT. PARQUE DE ESTACIONAMENTO – NOITE
Oscar, ainda com a caçadeira na mão, abre os olhos. Está vivo.
Olha em redor espantado. O enorme 'zombie' gordo está ajoelhado aos seus pés, tocando com devoção na barra das suas calças.
Andreia levanta-se também, incrédula com o que está a ver: os 'zombies' que momentos antes os perseguiam estão agora ajoelhados, estendendo os braços na direcção de Oscar e baixando-se depois até tocar com as testas no chão.
ANDREIA
Oscar. O que é que está a acontecer?
Oscar não responde. O seu olhar está perdido na distância.
ANDREIA
Oscar…?
CORTA PARA FLASHBACK:
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Segue-se o FLASHBACK que vocês terão de escrever.
O FLASHBACK pode ser sério, engraçado, racional, absurdo, científico. Pode ser longo, ou curto, linear ou complexo. Pode ser uma única cena, ou uma sequência, ter diálogos ou ser mudo. É como quiserem.
Tem é de ser original, criativo e fazer algum sentido na sequência da cena anterior. E, obviamente, tem de ser bem escrito, de acordo com os melhores padrões de escrita de guião.
Uma ressalva importante. O prémio Rapidez, entregue ao primeiro leitor a enviar uma cena será sempre entregue; o prémio Melhor Cena só será entregue se eu gostar realmente de alguma das propostas enviadas. Mas prometo que vou esforçar-me por gostar.
Deixem as vossas propostas nos comentários a este artigo, até à próxima sexta-feira, 16 de abril. Não se preocupem porque só serão mostradas depois do passatempo terminar.
No fim de semana de 17 e 18 escolherei a melhor cena e de hoje a uma semana, a 19 de abril, indicarei o vencedor.
Podem começar!
Nota para os leitores desconfiados (porque os há): não estou a escrever nenhum filme de zombies e não vou aproveitar estas cenas para guião nenhum. Não quero roubar as vossas ideias. Todas as cenas que enviarem serão publicadas no fim do passatempo. Se mesmo assim continuarem a desconfiar das minhas intenções, basta não concorrer; não é preciso deixar comentários desagradáveis.
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Excelente desafio, João! Diverti-me bastante a escrever o resto da sequência. Espero que tenha saído alguma coisa aceitável e que os restantes participantes se divirtam tanto como eu.
Só espero que não haja grande inconveniente com os problemas de formatação, uma vez que não tenho nenhum plug-in para lidar com esse problema.
Abraço
CORTA PARA FLASHBACK:
INT. QUARTO DE HOSPITAL – NOITE
VITORINO, o pai de Oscar, consideravelmente envelhecido, pálido e magro, está deitado numa cama de hospital. Tem um tubo enfiado em cada narina. Um monitor de batimentos cardíacos emite PIPS regulares, acompanhando a sua respiração pesada.
Oscar, agora com 17 anos, está ao seu lado, de pé, a segurar-lhe a mão e a tentar sorrir. O resultado desse esforço é apenas uma expressão que parece ainda mais grave do que se não o fizesse.
VITORINO
Oscar… tens de saber uma coisa…
Este segredo já dura há demasiado tempo.
Consegues tirar-me o colar?
OSCAR
Tenta não falar, pai. O médico disse que não
devias fazer esforços.
VITORINO
É importante, Oscar.
Oscar estende as mãos na direcção do colar do seu pai. Cuidadosamente, eleva-lhe um pouco a cabeça e retira do pescoço de Vitorino uma corrente, com uma chave na extremidade.
VITORINO
Vais saber o que fazer quando chegar
o dia… Filho…
OSCAR
Sim, pai…
VITORINO
Sei que vais fazer a escolha certa. Procura na cave…
Vitorino não consegue terminar. Os seus olhos imobilizam-se. O monitor dispara, soltando um silvo contínuo, agudo.
Oscar agarra-se ao pai, tentando desesperadamente acordá-lo.
OSCAR
Pai! Acorda!
INT. QUARTO DE OSCAR – NOITE
Oscar, agora com 12 anos, está sentado no chão do seu quarto a brincar com legos. Começam a ouvir-se VOZES QUE DISCUTEM através da porta, que despertam de imediato a sua atenção.
O miúdo ergue-se lentamente e, hesitante, aproxima-se da porta do quarto. Abre-a lentamente. As VOZES aumentam de intensidade, mas as palavras continuam a não se perceber.
Oscar atravessa a porta para o
CORREDOR,
que começa a percorrer em pontas de pés, tentando fazer o mínimo de barulho possível.
Enquanto desce as escadas para o hall, a discussão torna-se gradualmente mais perceptível. A primeira é a voz do seu pai.
VITORINO (O.S.)
Você não pode fazer isto! Estamos a falar do
meu filho, porra!
ESTRANHO (O.S.)
Não é só o seu filho! Ele é o escolhido! Ele é o
líder! Não pode continuar a impedi-lo de cumprir
o seu destino!
Oscar consegue agora ver, através das barras do corrimão das escadas, o seu pai, que conversa com um homem de sobretudo e casaco, voltado de costas.
VITORINO
Ele é um só um menino! Uma criança! O meu
filho é um ser humano!
Neste momento, o tom de voz do Estranho torna-se mais baixo, mais calmo, mais confiante.
ESTRANHO
Sabe bem que isso não é verdade.
O pai de Oscar esconde a cabeça entre as mãos. Quando se prepara para continuar a discussão, percebe finalmente que o seu filho está a assistir à discussão.
VITORINO
Oscar! O que é que estás a fazer a pé?
Já para a cama!
(para o Estranho)
E você, saia já daqui! Saia desta casa e
não volte mais!
Oscar desaparece a correr pelas escadas acima.
ESTRANHO
Eu saio, não se preocupe. Mas não se esqueça…
Não pode adiar eternamente o inevitável.
INT. QUARTO DE OSCAR – DIA
Oscar, agora com oito anos de idade, está deitado na cama, debaixo de um monte de mantas, com um tremómetro na boca, a ler uma banda desenhada.
A sua mãe, VITÓRIA, entra no quarto, carregando uma bandeja com um copo de leite e bolachas de chocolate. Aproxima-se do filho, sentando-se sobre a cama. Faz-lhe uma festa no cabelo.
VITÓRIA
Então? Como vai o meu menino?
Vitória retira cuidadosamente o termómetro da boca de Óscar, em cujo rosto surge imediatamente um sorriso apagado.
OSCAR
Acho que estou na mesma.
Enquanto Vitória observa o termómetro, um pedaço de pele cai do seu rosto, dando lugar a um buraco através do qual a carne se tornou visível.
OSCAR
Mãe? Também estás doente?
VITÓRIA
Doente como?…
Óscar estica a mão para o rosto da mãe, incrédulo. Toca-lhe directamente na ferida recente. Dois dos seus pequenos dedos estão agora cobertos de sangue, que exibe perante o olhar de Vitória.
VITÓRIA
Esquece isto, Oscar! Não aconteceu nada,
foi só uma brincadeira parva. Esquece isto,
estás a ouvir?
Vitória ergue-se de rompante e sai do quarto a correr.
FIM DE FLASHBACK:
EXT. PARQUE DE ESTACIONAMENTO – NOITE
Voltamos ao presente. Oscar está exactamente na mesma posição, ainda completamente absorto. Os zombies continuam a venerá-lo como muçulmanos voltados para Meca ao final do dia. Andreia começa a sacudi-lo violentamente.
ANDREIA
Oscar? Oscar! O que é que tu tens?
Com um piscar de olhos e um abanar de cabeça, Oscar regressa finalmente à realidade.
OSCAR
Acho que a minha mãe era um zombie…
ANDREIA
Estás parvo? Não dizes coisa com coisa!
No rosto de Oscar, há agora uma expressão de pânico.
OSCAR
Andreia… Será que eu sou um zombie?
EXT. LARGO DA IGREJA – DIA
Oscar e Andreia estão de pé, lado a lado, olhando para a igreja. Oscar olha de forma decidida para Andreia e começa a avançar em direcção à igreja. Andreia agarra com força a camisa de Oscar e segue-o de perto.
Oscar empurra lentamente a porta de madeira da igreja, que range. Avança cuidadosamente para..
INT. IGREJA – DIA
Oscar e Andreia estão parados junto à porta, esperando que os seus olhos se acostumem à escuridão.
Um forte foco de luz natural entra por uma janela alta, projectando-se mesmo em frente ao altar. Esta luz é suficiente para observar toda a igreja, ainda que de forma ténue.
Oscar avança pelo corredor central, analisando cada fila de cadeiras, seguido de perto por Andreia.
POV confessionário: dentro do confessionário, através da fresta da porta semi-cerrada, alguém os observa.
Oscar e Andreia param a meio do corredor.
OSCAR
Padre Lúcio?
Silêncio. Subitamente, um barulho por detrás do altar. Oscar segura a caçadeira firmemente com as duas mãos, apontando em direcção ao altar.
Avançando de gatas para a frente do altar, surge um pesado padre. Oscar e Andreia trocam um sorriso e caminham rapidamente para o altar.
Ao aproximarem-se do padre, Andreia tenta passar à frente de Oscar, que pára e a impede.
ANDREIA
Que foi?
OSCAR
Calma.
Parados sob o foco de luz, Oscar e Andreia observam o padre que se tenta levantar. Oscar aponta a caçadeira à cabeça do padre. Este pára de se mexer e, ajoelhado, levanta finalmente a cabeça. O seu olhar não tem vida. Oscar repara que o padre tem sangue no pescoço. Com o cano da arma, afasta ligeiramente a batina do padre, revelando uma ferida. O padre foi mordido.
Andreia, horrificada, leva as mãos trémulas à boca. Oscar abana a cabeça, desiludido.
OSCAR
Chegámos tarde.
ANDREIA
E agora?
OSCAR
Não olhes.
Andreia fixa o olhar no padre por um segundo, engole em seco e vira-se para trás. Uma lágrima escorre-se pela cara. Oscar aponta de novo a arma à cabeça do padre, que não reage.
Silêncio.
Subitamente, a cara do padre muda de expressão: olha ameaçadoramente para Oscar e solta um rugido. Oscar fecha os olhos, morde os lábios e, a custo, pressiona o gatilho.
PUM! Salpicos de sangue enchem a cara de Oscar. Andreia, chorosa, corre em direcção à porta e sai. Oscar limpa a cara à camisa e levanta os olhos em direcção à figura de Cristo sob o altar.
Oscar vira-se para trás, mas antes de dar o primeiro passo, ouve um silvo. Olha para o seu lado e vê uma menina ’zombie’ (4 anos) parada a cerca de um metro. Oscar aponta a caçadeira à menina ’zombie’, mas não dispara.
POV confessionário: Oscar está parado sob o foco de luz, de arma em riste. Visto da escuridão, Oscar parece um anjo agraciado por uma luz divina.
Oscar baixa a arma. A menina ’zombie’ solta um novo silvo. Um grunhido forte, vindo do interior do confessionário, leva Oscar a empunhar de impediato a caçadeira e a menina-zombie a correr na direcção do som.
Ela entra no confessionário. Passado um segundo, sai lentamente do confessionário uma figura enorme: é o ‘zombie’ gordo que vimos anteriormente, carregando a menina ’zombie’. O ’zombie’ abraça a menina como um humano abraçaria uma filha, parecendo querer protegê-la.
Oscar observa-os em silêncio, boquiaberto. Os ’zombies’ olham-no. As suas faces revelam uma estranha calma, não são ameaçadoras. Oscar baixa a sua arma e começa a caminhar em direcção à porta. Olha para trás, sem parar de andar, ainda espantado. Os zombies olham-no em silêncio. Oscar sai da igreja.
FIM DE FLASHBACK
Já escrevi a cena. Gostaria de a enviar.
Como é que envio a cena?
Basta deixá-la aqui nos comentários. Só será publicada depois de fechado o desafio.
Ah! É para deixar aqui no comentário!
Aqui está a minha proposta:
INTERIOR – QUARTO ARRENDADO DE ANDREIA – NOITE
GRANDE PLANO da face de Óscar que dorme sossegadamente. ZOOM OUT é revelado a caçadeira que repousa ao lado do seu dono.
Movimento giratório a 180 graus, neste movimento de câmara dá para perceber toda a constituição do quarto, um típico quarto de hotel, apenas com uma cadeira com um casaco lá pendurado, as paredes são brancas, simples. O movimento pára e enquadra-se num plano de Andreia na casa de banho.
Andreia lava a cara, e olha-se ao espelho. Olha para a direita para Óscar. Fita-o com um olhar de menosprezo. Volta a olhar-se ao espelho e limpa o rosto com uma toalha.
GRANDE PLANO da face de Óscar, este acorda. Senta-se na lateralmente na cama sem nunca emitir um único vocábulo.
Andreia repara que ele acordou. Óscar leva as mãos à cara e chora.
ANDREIA
(irritada)
Porque não paras de chorar? Pára.
Óscar olha para ela, pára de soluçar. Uma lágrima corre lentamente do olho direito de Óscar.
ANDREIA
Fala! Porque não falas? (grita)
Andreia corre em direcção a ele, agarra-o num braço, e tenta reanimá-lo. Óscar retribui com um olhar triste.
ANDREIA
O que fazes aqui? O que fazes, assassino? Porquê?
Óscar olha inexpressivo para o vazio. Levanta-se vagarosamente e pega na caçadeira. Vai buscar o seu casaco que estava pendurado na cadeira. O casaco está ensanguentado. Veste-o. Dirige-se vagarosamente à porta.
Andreia não se conforma. Começa a chorar.
ANDREIA
Pára! (grita)
Óscar pára e vira-se, olha para ela penosamente. Andreia começa a arquejar devido ao pranto.
ANDREIA
Porquê? Porque me salvaste?
Óscar dirige-se a ela. Andreia fica à espera respirando desesperadamente. Ele aproxima-se dela. GRANDE PLANO LATERAL da cara deles a um palmo de distância. Andreia respira tão ofegantemente que ouvimos a sua respiração.
Óscar prende-lhe um cabelo atrás da orelha. PLANO AMERICANO LATERAL de Óscar a beijar a face de Andreia.
Óscar dirige-se à saída vagarosamente, Andreia fica estática.
Óscar sai e a porta fecha-se bruscamente.
CORTA PARA:
EXTERIOR – RUELA – NOITE
TRAVELLING LATERAL de Óscar numa ruela porca e escura. Óscar caminha com passos pesados e ponderados. Puxa de um cigarro e acende-o. Caminha com a caçadeira na mão calmamente. De repente, aparece no plano uma ruela perpendicular. FOCO na ruela, um ser estranho, provavelmente um zombie devora as entranhas de um homem. O homem está morto.
Óscar pára, dá uma última passa e manda o cigarro fora, aponta lentamente a caçadeira ao zombie e dispara. O tiro seco acerta no braço do zombie e arremessa-o violentamente contra o chão. O zombie solta uma gargalhada. Olha para Óscar e ri-se. Depois pára. Óscar aproxima-se e aponta-lhe a caçadeira à cabeça.
O zombie fita-o e começa a falar de um modo divertido.
GRANDE PLANO do zombie enquanto este discursa, o rosto branco como cal contrasta com o vermelho do sangue que lhe rodeia a boca. De resto aparenta como qualquer pessoa. Fala de uma maneira arrastada e a sua voz é rouca.
ZOMBIE
És tu meu amigo, não és? És tu, eu sei que és tu! Obrigado. Vai acabar. Finalmente vai acabar. Beija-me com a tua arma. Qual o teu nome?
O Zombie sorri sarcasticamente ao fazer a última pergunta. Óscar impinge-lhe com violência um golpe na face com o cabo da caçadeira. O zombie começa a jorrar sangue da boca que se mistura com o sangue do outro individuo. No entanto continua a rir-se.
ZOMBIE
Pois é! Não falas! És mudo! (ri-se às gargalhadas)
Óscar volta a agredi-lo com a caçadeira. O zombie começa a ficar mais sério.
ZOMBIE
Desculpa, amigo. Mas sabes que eu sou assim. Já perdi tudo, deixa-me gozar um pouco. Acaba com isto. Eu já não sou eu. Mata-me. Não podes fazer pior que isto, amigo.
Óscar continua a fitá-lo seriamente.
ZOMBIE
Eu sei. Ninguém te ama, assassino. (assassino é dito de um modo traiçoeiro)
Mas nós amamos-te, nós queremos-te, porque tu não nos queres e não nos amas. Sabes que não vais ficar assim, antes morto. Mas nós não temos coragem para nos matarmos, não conseguimos. Tens que ser tu, e por isso amamos-te. E quanto mais formos, mais desejado e amado serás. Tu és capaz, já mataste crianças e mulheres, não te importaste. És mau.
Uma lágrima escorrega lentamente pela face de Óscar. O zombie assume uma postura sóbria e indulgente.
ZOMBIE
Óscar, mata-me e depois mata os outros, nós queremos, deixa-me voltar para a minha família, deixa-me ver o meu irmão.
Isto não é vida, estou farto de magoar as pessoas que amo, estou farto de magoar aqueles que são como eu era. Não consigo parar. Acaba com isto. A fome é muita, não pára. Mata-nos.
Ouve-se mais um tiro seco. PLANO de Óscar, uma grande quantidade de sangue salta repentinamente para cima de Óscar. PLANO AÉREO da ruela, o zombie encontra-se deitado sem cabeça, e Óscar está de pé defronte dele.
GRANDE PLANO da cara de Óscar que esboça um sorriso. Vira-se, e olha para o horizonte. O Sol nasce sobre o caos urbano.
CORTA PARA:
Tudo bala, João?
É de desafios como este que gosto. Vou ganhar esta partida, juro!
Sei que o porte para Angola deve ser caro, mas estou mais é interessado em poder melhorar as minhas habilidades, se é que as tenha! Até breve!
Desafio aceite. Mesmo sem prémio, é um óptimo exercício. Mesmo que não goste, pode dar uma opinião, de modo a corrigir o que não está bem?
Podemos submeter duas? Estou indecisa em qual das versões escolho…
A respeito do desafio anterior:
Tenho vinte e cinco páginas escritas. O que quer dizer que ou acelero, ou não vou ter tempo de fazer uma revisão cuidada do guião antes de o ano acabar.
Tinha-me proposto a (pelo menos tentar) acabar o ano com dois guiões escritos. O outro projecto que estou a desenvolver está mais ou menos no mesmo ponto: 24 páginas.
Já agora, João, como vai o seu objectivo anual? Também fico curioso em relação aos outros participantes.
Abraços
É curioso que ambos estejam com vinte e poucas páginas. Se os guiões tiverem uma estrutura tradicional, isso quer dizer que vocês têm o primeiro ato mais ou menos completo.
Ora, é muito comum isso acontecer: a pessoa sabe como a estória começa, até sabe como acaba, mas encalha na ponte entre uma coisa e outra, o famigerado segundo ato.
Só posso dar um conselho: obstáculos e surpresas.
“CULTO ZOMBIE”
EXT. AVENIDA BELLA SHOPPING – NOITE
O céu relampeja em meio a nuvens pretas e cinzentas e vermelhas, rumando em todas as direcções.
Da esquina de um cruzamento que dá para a avenida Bella Shopping, surge Óscar arrastando atrás de si Andréia. Há poucos metros destes, quatro criaturas trajadas com peles de animais, chocalhos nos pés descalços, olhares diabólicos e com cabeças diminutas, vêm em direcção ao casal.
Nenhuma alma viva, nenhum carro, nenhum movimento na avenida. Óscar e Andréia correm em direcção ao Bella Shopping. Nos seus rostos estampado o terror. De repente, Óscar pára, repara atrás e espantado constata que o mais gordo das esquisitas criaturas faz sinal ao outros para se deterem. Todos obedecem ao mesmo tempo que se ajoelham.
ANDRÉIA(espantada): Paraste por quê, Óscar?!
Andréia vira-se para ver o que Óscar vê.
ÓSCAR: Acho que não nos querem fazer mal nenhum.
(CORTA PARA…
CORTA PARA FLASHBACK:
EXT. PRAIA – DIA
Estamos no local da cena de abertura do filme: a mesma praia vazia, o mesmo mar bravo.
Uma prancha de surf vem dar à costa.
OSCAR (V.O.)
Porque é que os zombies iam venerar um humano vivo como eu?
No mar, uma cabeça emerge e volta a mergulhar. É Oscar. Parece que está apenas a mergulhar à procura de alguma coisa até o vermos de mais perto: está em apuros.
Oscar está a lutar para se libertar das ondas revoltas que o sugam para o fundo.
OSCAR (V.O.)
E foi então que percebi…
Debate-se furiosamente mas a cabeça volta a submergir. Por alguns momentos desaparece…
OSCAR (V.O.)
Não iam…
… até vir dar à costa, ao pé da sua prancha.
Ao lado da prancha, Oscar permanece imóvel, inanimado. Depois abre os olhos repentinamente e inspira. Senta-se e tosse, expele água. Oscar reclina-se para trás, inspirando e expirando de olhos fechados, tentando recompor-se de um grande esforço físico. Mais calmo, olha então para o mar.
Acompanhamos a partir de agora a cena inicial do filme. Sentado calmamente, observa o mar revolto à sua fente. Depois levanta-se, pega na prancha e caminha pela areia em direcção ao carro.
FIM DO FLASHBACK
CENA 01. EXTERIOR. DIA. CAMPO.
Um rapaz com cerca de 6 anos (ÓSCAR) corre atrás de uma mulher de 30 (MÃE). Quando a alcança, prega-lhe uma rasteira. A mulher cai na relva a rir. O rapaz atira-se para cima dela, pega-lhe numa perna e prende-a contra si, simulando um golpe de luta livre.
ÓSCAR
Estás presa.
MÃE não pára de rir.
MÃE
Pára Óscar… (rindo-se) Pára…
ÓSCAR
Desistes?
MÃE
Desisto.
ÓSCAR larga a perna da MÃE, que controla finalmente o riso e levanta-se. De repente, agarra em ÓSCAR, ergue-o e aperta-o, de costas, contra si. Agora é OSCAR que ri perdidamente e tenta soltar-se.
MÃE
Desistes?
ÓSCAR
Sim.
CENA 02. INTERIOR. CASA.
ÓSCAR e MÃE entram em casa, ÓSCAR corre para outra divisão, MÃE fica à porta.
MÃE
Eunice!
Uma negra grande com cerca de 50 anos (EUNICE), vinda de outra divisão, limpa as mãos a um pano de cozinha.
EUNICE
Sim, senhora. (pausa)
MÃE
Eunice, por favor vá ver se o Óscar toma mesmo banho, sim?
EUNICE
(observando MÃE) A Senhora está bem? Parece cansada.
MÃE
Deve ser do sol. (Pausa) O menino Óscar se calhar foi a correr vestir roupa lavada. Diga-lhe que não é por isso que janta mais cedo.
EUNICE fica alguns instantes a olhar para MÃE.
EUNICE
Vou já ver, senhora.
EUNICE vai para a casa-de-banho. MÃE entra na sala e senta-se numa cadeira, com ar cansado, respira fundo.
CENA 03. INTERIOR. CASA-DEBANHO
ÓSCAR está de cuecas na casa-de-banho. Água da banheira está a correr.
ÓSCAR
Olha, Eunice, uma aranha!
Uma aranha desloca-se junto à banheira.
ÓSCAR
Mata, Eunice!
EUNICE
Porquê, menino?
ÓSCAR
Ela está em nossa casa!
Eunice vai até à banheira e pega na aranha.
EUNICE
Vá, menino, quando voltar quero vê-lo de banho tomado.
ÓSCAR
E o que é que vais fazer com ela?
EUNICE
Vamos dar-lhe outra oportunidade.
CENA 04. INTERIOR. DIVISÃO ESCURA.
Imagem de uma teia de aranha magistral. Ouve-se as primeiros notas de guitarra eléctrica dedilhada num compasso lento, entre silêncios. Sequência de uma aranha a andar pela casa desde a teia até a um quarto. A MÃE está na deitada na cama. Está ligeiramente mais envelhecida, careca e doente. EUNICE está à beira da cama.
MÃE
O Óscar?
EUNICE
Fugiu outra vez, senhora.
Música pára.
CENA 05. INTERIOR. QUARTO.
MÃE deitada, moribunda. ÓSCAR entra com uma bandeja com uma fatia de pão e um copo.
ÓSCAR
Mãe?
MÃE
Óscar, onde estiveste?
ÓSCAR
A tratar de si.
ÓSCAR dá o copo de beber à mãe, que o bebe em esforço.
CENA 06. INTERIOR. HALL DE ENTRADA. DIA.
Um casal com cerca de quarenta anos está à beira da porta com EUNICE. Estão todos vestidos de preto. ÓSCAR está à frente deles, apreensivo.
EUNICE
Óscar, esta é a sua tia Alberta, prima da sua mãe. Estão à sua espera para levá-lo para Lisboa.
ÓSCAR
Mas eu quero ficar aqui com a mãe…
EUNICE
A sua mãe faleceu, Óscar, o menino não pode fazer nada por ela.
ÓSCAR
Não, ela não morreu.
ALBERTA
Nós também vamos sentir muito a falta dela.
ÓSCAR
(chorando) Não…!
ALBERTA
Já foste a Lisboa, Alberto? Eu e o teu tio Rui temos uma casa com um quarto só para ti e um cão chamado Frank que vai adorar ter um novo dono.
CENA 07. EXTERIOR. DIA.
EUNICE está à porta de casa. Um carro está estacionado à porta. ÓSCAR está dentro do carro com ALBERTA. RUI coloca as malas no porta-bagagens. RUI entra no carro e faz um sinal breve de despedida a EUNICE. EUNICE acena de volta. Carro arranca. Close-up da cara de EUNICE, séria.
CENA 08. INTERIOR DO CARRO. DIA.
Primeiros acordes da música da Cena 4.
RUI conduz. ALBERTA, calada e a olhar pela janela, no lugar do morto. Estão a ouvir … ÓSCAR no banco de trás cabisbaixo. Tem a mão dentro da mochila. Tira de dentro da mochila um livro com uma lombada antiga “A SERPENTE E O ARCO-ÍRIS”. ÓSCAR abre a janela e atira-o da janela.
CENA 09. EXTERIOR. NOITE.
Música da Cena anterior não é interrompida.
Chove. Plano corrido próximo da relva com insectos até o que parece ser um túmulo. A terra mexe-se até aparecer pele humana extremamente pálida.
CORTA PARA FLASHBACK:
INT. CASA DOS PAIS DE OSCAR – SALA – DIA
As mãos habilidosas de uma MULHER colocam mais um alfinete na barra das calças do PEQUENO OSCAR, de 9 anos, de pé num banquinho.
MARIA (o.s.)
Fica quieto.
A MULHER, MARIA, 34 anos, tem uma série de alfinetes na boca, virados para fora, que tira um a um para marcar as bainhas das calças.
JÚLIO (O.S.)
É verdade que a coroaram morta?
MARIA
(sim)
Hum hum.
JÚLIO, 12 anos, está sentado ao pé da janela num sofá com um livro entre as pernas. Maria coloca o último alfinete.
JÚLIO
Uau… A primeira rainha
‘zombie’ de Portugal.
MARIA
Provavelmente do mundo.
Podes tirar as calças, Oscar.
Oscar tira as calças e fica só em cuecas. Júlio começa-se a rir. Oscar senta-se ao pé do irmão. Maria enfia uma agulha e começa a fazer a bainha à mão.
MARIA
Claro que assim que se tornou rei,
D. Pedro vingou-se.
JÚLIO
O que é que ele fez?
MARIA
O que é que tu fazias
se matassem a tua namorada?
OSCAR
(baixinho)
Eu matava-os a todos…
Maria levanta pela primeira vez o olhar das bainhas.
JÚLIO
(ri-se)
Pra isso tinhas de ter namorada, tótó.
OSCAR
Cala-te, estúpido.
E Oscar atira uma almofada do sofá ao irmão, numa tentativa de abafar o riso.
MARIA
Bem… foi o que ele fez…
E o povo chamou-o de Justiceiro.
JÚLIO
Também os reis podiam fazer tudo.
Maria sorri.
MARIA
Quem policia a polícia, não é?
OSCAR
Quê?
MARIA
Imagina que eras rei.
Quem é que te impedia de
te portares mal?
Quem te impedia de
abusares do poder que tinhas?
JÚLIO
(a rir-se)
Oh, mãe, não te preocupes.
O Oscar aqui só se fosse
o rei da cocada preta.
Ou de ‘zombies’! Era ao contrário.
O primeiro rei humano
dos mortos vivos!
Maria pica-se sem querer e os irmãos calam-se. Maria chupa o sangue do dedo, uma expressão séria agora.
OSCAR
(meio envergonhado)
Pensava que ninguém mandava no rei.
MARIA
Eles também acham sempre isso…
O olhar de Oscar perde-se no infinito.
FIM DO FLASHBACK
Para responder a berni ferreira, o meu desafio anual vai mais ou menos no mesmo. Estou com 22 páginas. Mas também estou a fazer a tal “revisão cuidada” do que terminei no ano passado. Vamos ver se isto avança :)
E que eu já comecei a ler e a anotar, como prometido. Infelizmente meteram-se trabalhos pelo meio e não terminei. Mas do que li, para já, devo dizer que gostei bastante.
FLASHBACK – INT. SALA DE ESTAR – TARDE
Óscar (12) sentado no chão monta um puzzle enquanto o seu
AVÔ (65), homem calvo e anafado, sentado num velho sofá
individual, vê o noticiário. Na televisão aparece uma
JORNALISTA (30) morena e bem vestida.
JORNALISTA (V.O.)
A proposta de lei, para a
legitimação do casamento entre
‘zombies’ e humanos, rejeitada
ontem pelos partidos da oposição, é
agora apoiada pela Associação
Internacional para Defensora das
Espécies Não-humanas.
(O AVÔ centra a sua atenção na
jornalista, ajeita os óculos e
levanta-se para por o som mais
alto.)
Baseada num estudo da Universidade
de Glasgow, esta associação mostra
que da relação entre zombies e
humanos, surge uma espécie mutante
que à noite, ao contrário da
habitual, se apazigua e entra num
estado de hipnose e de veneração ao
“Deus da Caçadeira Prateada”.
(na televisão aparece agora
ÁLVARO (70) magro e de barba
comprida)
Temos agora em estúdio Álvaro
Matias, fundador da Igreja DCP que
procurará elucidar-nos um pouco
melhor. Álvaro, é notório que esta
mutação ocorre por via genética,
mas porquê considerar que estes
‘zombies’ mutantes entram neste
estado de adoração durante a noite?
ÁLVARO (V.O.)
Há muito que a Igreja do Deus da
Caçadeira Prateada faz uma análise
diferente da Professia Omega. Para
nós, o 984ž capitulo que fala dos
frutos da relação homem-zombie,
mostra que estes são vulneráveis à
noite ficando enfraquecidos e
saciosos de purificação por parte
do Deus da Caçadeira Prateada. Ou
seja, esta espécie fica portanto
pronta para que o Deus da Caçadeira
os transforme novamente em humanos.
É certo que grupos mais
conservadores quererão manter a
existência de zombies puros, mas
seremos honestos, a existência
desta espécie nos moldes actuais
naão é boa para a nossa sociedade.
JORNALISTA (V.O.)
(Pensativa)
Está a querer então dizer que há
alguém no Mundo, detentor dessa
caçadeira que irá purificar esta
espécie não-humana?
ÁLVARO (V.O.)
No Mundo não. Tenho informações de
que a caçadeira anda algures pela
Peninsula Ibérica, muito perto da
fronteira entre Portugal e Espanha.
Há muito que Portugal e Espanha
estão unidos na luta contra os
zombies. Essa arma tem passado de
geração em geração, e é entre as 20
e as 22 horas é que ela pode ser
activada, conforme o horário em
questão. É apenas nessa altura que
o Sol já nao se vislumbra e que as
balas de madeira da caçadeira se
tornam exilir da purificação.
JORNALISTA (V.O.)
Sendo assim, a arma pode ter origem
portuguesa?
ÁLVARO (V.O.)
(pouco convincente)
Sim a caçadeira Prateada é
portuguesa. Mas atenção, peço a
quem esteja lá em casa e que possua
a Caçadeira Prateada que entre
rapidamente em contacto connosco, a
Igreja DCP para que o possamos
auxiliar na luta pela purificação
dos zombies que por aqui andam. A
Caçadeira Prateada, é do século
XII, tem cravado DCP e uma caixa
com balas de madeira.
JORNALISTA (V.O.)
Muito obrigado Álvaro. Passamos
agora para as noticias desportivas.
A equipa nacional de atletismo…
O Avô levanta-se, dirigindo-se a um grande móvel de madeira.
De dentro de uma gaveta tira delicadamente a CAÇADEIRA
PRATEADA.
AVÔ
Óscar.
ÓSCAR
Sim avô.
(Óscar vislumbra o avô sem
sair de perto do puzzle, e
demonstrar muita atenção)
AVÔ
Estás a ver esta caçadeira? Quando
fores mais velho e sentires o
chamamento, saberás o que fazer. As
trevas ajoelhar-se-ão aos teus pés,
e tu terás o poder e a força
necessária para salvar o Mundo
Óscar sem perceber de que fala o seu avô, acena
afirmativamente com a cabeça
AVÔ
Mas por enquanto, isto é apenas um
segredo nosso.
AVÔ (V.O.)
Niguém ligaria para o que diz um
velho como eu, o mesmo se passou
com o teu pai, mas sei que contigo
será diferente.
FIM DE FLASHBACK
assim que li o desafio pensei “tenho mesmo que participar, só mesmo na desportiva”
sem ideias e trabalhos extra – inspiração zero
entretanto agora que sai da capital e embarquei numa viagem de duas horas, tive ideia, li, reli, corrigi/reestruturei e ainda nem cheguei ao destino.
João depois, independentemente dos resultados, gostaria de ter algum feedback seu.
cumprimentos
tiago
Só hoje é que a faculdade me deu tempo para poder pegar nisto. Não vou ter tempo de algo muito rigoroso mas conto deixar aqui a minha participação ainda amanhã ; )
Aqui está o link para a minha participação: http://lydart2.com.sapo.pt/CenaFlashbackZombie.pdf
Não sabia como deixar aqui, por isso tomei a liberdade de fazer um upload.
EXT. PARQUE DE ESTACIONAMENTO – NOITE
Óscar e Andreia correm desalmadamente pelo parque de estacionamento fora, contornando os muitos carros que aí se encontravam abandonados.
Atrás deles, em perseguição, vem uma horda de “zombies”. Seguem de forma desordenada; frequentemente um deles embate num carro, ficando para trás.
Óscar tem uma caçadeira. Olha para trás, e vê os “zombies” a ganharem terreno. Dispara a caçadeira contra o “zombie” mais próximo, acertando-lhe na mão, decepando-a. O “zombie” atrasa-se durante um instante, mas logo continua a corrida.
Vira-se para trás de novo, e dispara outro tiro. Volta a acertar na mão de um “zombie”. Andreia vira-se para ele com ar zangado.
ANDREIA
Podes parar de lhes tentares fazer a “manicure” e acertares na porcaria da cabeça, se não te importas?
ÓSCAR
Estou a tentar!
ANDREIA
Estás sempre a tentar, e nunca consegues nada!
Enquanto Andreia estava distraída a discutir com Óscar, não reparou num caixote do lixo à sua frente. Foi contra ele a toda a velocidade, caindo ao chão.
ÓSCAR
Merda!
Óscar pára de correr e aproxima-se de Andreia, que perdera os sentidos. Entretanto, os “zombies” aproximam-se. Óscar, vendo isto, dispara mais 3 tiros, acertando em 3 “zombies” diferentes, que cairam por terra. Ainda assim, os outros continuaram a aproximar-se, com um “zombie” gordo na dianteira. Óscar tentou disparar outra vez, mas apercebeu-se que estava sem balas.
ÓSCAR
Pronto, agora é que estamos mesmo feitos.
Os “zombies” estão cada vez mais perto de Óscar e Andreia. Óscar agacha-se e tapa a cara, esperando o pior.
ÓSCAR
Pai Nosso que estais no céu!
Nisto, eis que há uma alteração no comportamento dos “zombies”. Em vez de avançarem com ar homicida, param, e ajoelham-se. Começando pelo “zombie” gordo, todos começam subitamente a recitar o “Pai Nosso”, continuando o que tinha sido começado por Óscar.
ZOMBIES
Santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino…
FIM DO FLASHBACK
Pingback: Desafio flashback: os vencedores
FLASHBACK- FESTA DE GALA
A sala é iluminada iluminada por luzes pontuais em cima das mesas repletas de pessoas que comem e bebem bem vestidas.
Passam alguns garçons.
Oscar e Andreia estão junto à mesa das bebidas, que é bastante mais iluminada.
Falam e Sorriem. Ela despede-se e afasta-se.
Um HOMEM GORDO, bem mais baixo que OSCAR, de ar despojado aproxima-se dele. É o PADRINHO.
PADRINHO
(cumprimentando-o)
Quem é ela?
OSCAR
Tudo bem?
PADRINHO
Como sempre.
Andreia olha para trás e sorri para Oscar.
PADRINHO
É bonita, sim senhor.
Oscar consente.
PADRINHO
Ah… Já acabaste o curso rapaz?
OSCAR
Está quase acabado…
PADRINHO
Letras… Nunca percebi bem. Pensei que fosses mais de aventuras. Emoções, porra!… Histórias reais e não de papel.
OSCAR
Literatura Clássica.
PADRINHO
Nunca te devia ter oferecido aqueles comic books todos. Sempre pensei que fossem mais os rabiscos que as palavras, mas…
OSCAR
Pois.
PADRINHO
E já escolheste o presente?
EXT. PARQUE DE ESTACIONAMENTO — NOITE
Ela está aflita.
Os Zombies pedem a mão a Oscar. Ele dá.
O Zombie trinca-lhe a mão, o braço enche-se de sangue que escorre vigorosamente. Ela fica aterrorizada e e ele desnorteado.
Ela grita, ele permanece calado.
FLASHBACK- FESTA DE GALA
OSCAR
A-
PADRINHO
Eu sempre ofereci presentes aqui e ali, e já não te vejo há uns 50 anos… Que se lixe o presente por agora, e o futuro? Depois do Curso? Casar? Viver? Foder?
OSCAR
Depois do curso vou trabalhar na aréa, espero…
PADRINHO
… Já namoram há muito tempo?
OSCAR
(aponta para onda ela se dirigiu) … algum
PADRINHO
Sabes, casei 5 vezes. Fui sempre feliz, até encontrar a felicidade noutros lugares… 3 filhos, 6 afilhados e muitos amigos, são as tretas que deixo.
OSCAR
Não sei se é algo tão sério assim.
PADRINHO
Não sabes? E quando vais saber? Quando tiver os peitos caídos, rugas no rosto e for insuportável?
OSCAR
Não sei.
PADRINHO
Essas coisas têm que ser vividas. Têm que ser experimentadas, é a única forma de saber rapaz!
OSCAR
Talvez nunca tenha sentido… nunca tenha sentido medo de a perder. Ou medo de me perder sem que o seu rosto seja a ultima imagem que levo comigo.
EXT. PARQUE DE ESTACIONAMENTO — NOITE
ANDREIA
Oscar!
Ele leva, lentamente, a mão ensanguentada à boca.
OSCAR (V.O.)
Agora tudo fazia sentido. A caçadeira oferecida pelo meu padrinho- eu nem gosto de caça. As balas que não penetravam os zombis.
ANDREIA
Oscar!? O que é que se passa?
Oscar olha em redor… poucas pessoas, os zombies. E na esquina uma carrinha preta com escrito “ZM eventos: a arte da emoção”
Ele olha com ternura para ela, prepara-se para a beijar.
A câmara anda em redor, intensificando o momento.
De costas vê-mo-los beijar.
A câmara continua a rodar… o beijo foi na bochecha.
FIM
Postei por motivos religiosos.
1º mandamento da minha religião: Procrastinar
2º mandamento da minha religião: Desobedecer
3º mandamento da minha religião: Parabenizar o autor deste blog.
Zé, boa participação. Pena que não tenha vindo a tempo, porque seguramente teria entrado nas contas finais. No próximo passatempo tem de desobedecer ao seu 1º mandamento.