Referi aqui há dias um projecto de cinema na net, patrocinado por uma marca de televisores, que me parecia prometedor. Os filmes já estão online, são curtos, e merecem vinte minutos de atenção.
A ideia é simples: cinco estórias radicalmente diferentes que têm de comum apenas algumas linhas de diálogo:
– O que é isso?
– Um unicórnio.
– Nunca tinha visto um de perto.
– Lindo!
– Vai-te embora!
– Desculpa.
As estórias têm estilos totalmente distintos, tanto na narrativa como no seu tom e tema. Há de tudo, desde a ficção científica, a animação, aventura, realismo poético…
Mas um dos aspetos mais curiosos é a forma como as características do patrocinador, um modelo de televisão da Philips (ambilight, qualidade de imagem, som cinematográfico…) são apresentadas dentro do genérico dos cinco filmes, junto com o realizador, argumentista, produtor, etc. Fez-me pensar num outro artigo, publicado há pouco tempo, que aborda as formas de integração dos produtos e das marcas nos filmes atuais.
Em muitos casos já foi ultrapassado o simples 'product placement', em que os produtos são integrados nas estórias. Agora há estórias que são desenvolvidas a partir dos produtos.
Um dos exemplos citados no artigo é um episódio recentíssimo da série "Modern Family", todo construído em cima da aquisição de um iPad destinado a ser oferecido a um dos personagens. O autor do artigo diz que o episódio era hilariante, mas manifesta alguma preocupação com a promiscuidade entre marcas, produtores e autores.
Costumava falar-se de 'integração de marca'. Mas se a (marca) cauda continuar a abanar o (enredo) cão, talvez um dia comecemos a chamar-lhe 'integração de estória'.
Alguns guionistas citados, contudo, dizem preferir que a integração dos produtos e marcas seja feita numa etapa inicial da criação das estórias, em vez de ser enfiada à força em guiões já escritos. É o caso do filme "Up in the air", em que os hotéis Hilton aparecem com grande proeminência, numa integração que foi sugerida pelo próprio guionista e realizador.
Promiscuidade ou não, o certo é que, dado o colapso em curso da publicidade tradicional, haverá cada vez mais experiências como estas em filmes para cinema, televisão, ou online. E os guionistas do futuro terão de saber lidar com, e adaptar-se a, esta nova realidade.
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