Um artigo recente de Michael Hyatt recordou-me algumas ideias sobre o que é o sucesso profissional.
A minha definição é simples: Ter sucesso profissional é ser bem remunerado para fazer bem uma coisa de que gostamos.
Isto implica três elementos distintos:
- Haver um mercado, ou seja, quem esteja disposto a pagar pelo que fazemos e os meios para que essa troca se processe.
- Termos a competência – técnica e artística – necessária para fazer bem o que nos propomos fazer e vender.
- Sentirmos paixão permanente por essa atividade.
Podemos imaginar esse três elementos como um gráfico com três eixos.
Nesse caso. o nosso objetivo para ter sucesso em qualquer mercado é maximizar a presença em cada um dos três eixos. Quanto mais fortes formos nos três maior será o nosso sucesso profissional e a nossa satisfação pessoal.
No caso dos guionistas, a maneira de alcançar o sucesso profissional e a satisfação pessoal passa por três etapas:
- Manter acesa a chama da paixão que sentimos por contar estórias, pela escrita, pelo cinema. Deverá ser o eixo mais fácil de maximizar. Se não conseguirmos sentir paixão por esta atividade, o melhor é desistir já e dedicar o tempo a outras coisas.
- Aumentar sempre a nossa competência técnica e artística. Conseguiremos isto vendo permanentemente bons (e maus) filmes e séries de televisão; estudando permanentemente, através de livros, sítios como este, oficinas e cursos, etc; lendo o maior número de guiões que conseguirmos encontrar, para ver como outros guionistas resolvem os problemas práticos da escrita audiovisual; e, sobretudo, escrevendo muito, diariamente, sem desculpas nem interrupções. Este eixo é difícil e exigente mas depende apenas de nós – do nosso talento inato e do esforço que quisermos aplicar nele.
- Finalmente, devemos conhecer e explorar o nosso mercado. Iremos consegui-lo descobrindo quais as oportunidades disponíveis no setor – concursos públicos e privados, prémios, bolsas, etc.; contatando produtores e investidores que poderão comprar o nosso trabalho; procurando estabelecer contatos com pessoas da indústria – atores, realizadores, outros guionistas, etc; frequentando festivais, colóquios, cinematecas e cineclubes, enfim, todos os locais onde possamos “colocar um pé na porta” da indústria. É o tipo de tarefas em que a maior parte dos guionistas são maus, e das quais não conseguimos extrair muita satisfação. Além disso, há um fator sorte não negligenciável. Mas é indispensável dedicarmos o tempo necessário e suficiente para fazer este trabalho de sapa. Com tempo e dedicação poderemos começar a ver alguns resultados.
O reverso desta medalha é que quanto menos fortes formos em qualquer um dos eixos, mais longe estaremos do pleno sucesso profissional e correspondente satisfação pessoal.
Por exemplo, se tivermos muita paixão e muito mercado, mas pouca competência, estamos condenados a ser, mais cedo ou mais tarde, um fracasso.
Se tivermos muito mercado e muita competência, mas pouca paixão, estamos condenados a prosperar num trabalho aborrecido. É outro tipo de insucesso profissional, que muitas vezes é confundido com o sucesso mas em que falta a satisfação pessoal.
Finalmente, se tivermos muita competência e muita paixão, mas pouco mercado, estamos na presença de um passatempo, e não de uma carreira bem sucedida.
Infelizmente, é isso que acontece à maioria dos guionistas, em todas as partes do mundo.
Mesmo nos Estados Unidos, a suposta “Meca” do cinema mundial, as estatísticas indicam que, em cada ano, metade dos guionistas inscritos na Writer’s Guild of America não conseguem trabalho.
Um estudo recente feito em Espanha mostra resultados ainda mais desanimadores. Apenas três em cada dez guionistas profissionais conseguem dedicar-se em exclusivo a essa atividade.
E em Portugal não são precisos estudos estatísticos para vermos que a situação é ainda pior. Para a maior parte dos guionistas portugueses, a prática da nossa atividade é um passatempo exigente que tem de ser completado (ou sustentado…) com outras fontes de rendimento.
Se em Portugal a coisa está ruim assim, imagina aqui no Brasil, onde a produção audiovisual para TV é praticamente monopolizada por um único canal. Vencer aqui é muito mais difícil… Poucos chegam lá, infelizmente. Mas acho que isso se reflete em todas as carreiras…
Este artigo corresponde a verdade. Em Portugal não se aposta na cultura, o que é pena.
Concordo com tudo o que foi escrito. Acredito porém que se o trabalho tiver realmente qualidade, mais tarde ou mais cedo terá de vingar. Enquanto isso não acontece só temos que continuar a fazer mais e melhor e não desarmar porque afinal, quem corre por gosto não cansa. Boas festas