No domingo passado anunciei o desafio de guião FrenesiDeEscrita 2013: escrever um guião de cinema completo nos trinta dias de Abril.
Foi um sucesso inesperado; mais de 60 pessoas inscreveram-se e estão neste momento a trabalhar nos seus guiões.
Atualização: Neste momento as inscrições já estão encerradas e não serão aceites mais participantes.
Como forma de as incentivar tenho-lhes enviado um email diário com uma dica de escrita. Neste artigo recolho as cinco dicas desta primeira semana.
Nota: hoje vou fechar as inscrições do FrenesiDeEscrita 2013. Se ainda quiser participar tem só até à meia noite (horário de Brasília) para o fazer.
DICA #1 – Como avaliar o potencial da sua ideia
Um bom filme do modelo clássico tem um protagonista ativo, com um objetivo claro e obstáculos progressivamente mais complicados no caminho da concretização desse objetivo.
Uma forma de avaliar o potencial dramático do seu filme é fazer uma lista de todos os obstáculos e empecilhos de que se consegue lembrar.
Se conseguir, sem muita dificuldade, pensar em meia dúzia ou mais, é bom sinal.
Se, pelo contrário, der voltas à cabeça e não se lembrar de mais do que um ou dois obstáculos, talvez a sua ideia não tenha grande potencial de conflito e, logo, de drama.
DICA #2 – O seu protagonista é interessante?
O seu protagonista, é suficientemente interessante para suportar o peso do guião que está a escrever?
Enredos, eventos, incidentes, cenas, desaparecem da memória; personagens fascinantes permanecem para sempre.
Certifique-se de que o seu protagonista tem uma personalidade própria, marcada, e bem distinta da sua. Não queira um personagem que seja apenas o seu alter ego. Uma maneira de o fazer é dar-lhe um TRAÇO ÚNICO, uma FALHA e um SEGREDO.
Um traço único – algo inesperado ou até paradoxal: o polícia que adora cozinhar, o bandido que escreve sonetos nos tempos livres, a psicóloga que não se consegue livrar de pesadelos terríveis. Pode ser um traço físico, uma atitude, um hobby, mas será qualquer coisa que o torna mais memorável.
Uma falha – um defeito ou limitação inesperado que poderá ter algum efeito no decurso da estória. Indiana Jones tem medo de cobras? Vamos lançá-lo num poço cheio delas.
Um segredo – personagens com segredos, que não revelam tudo à primeira vista, são mais interessantes de acompanhar. São, também, mais interessantes de escrever.
O que é que o seu protagonista tem de especial? Escreva meia página sobre isso.
DICA #3 – Quais as consequências do fracasso do seu protagonista?
Num filme de modelo clássico o protagonista tem um objetivo claro desde muito cedo, e corre atrás dele durante todo o tempo. O drama nasce dos obstáculos que surgem no seu caminho.
Mas não basta ter um objetivo. Este tem de ser relevante, e o fracasso tem de ter consequências sérias para o protagonista e para o mundo em que ele vive.
O objetivo de Indiana Jones nos “Salteadores da Arca Perdida” não é encontrar um artefato muito raro para colocar no museu da sua universidade; é encontrar a Arca da Aliança que, se cair na mão dos nazis, pode fazer pender os destinos do mundo para o lado do Mal.
O objetivo de “Lincoln” não é aprovar a verba para renovação dos jardins da Casa Branca; é aprovar a legislação que porá fim à escravatura e marcará toda a história dos Estados Unidos e do mundo.
O objetivo de “Juno” não é encontrar o par de sapatos perfeito para combinar com o casaco novo; é encontrar os pais perfeitos para o bebé que traz na barriga.
E o objetivo do seu protagonista – quais as consequências que ele sofrerá se não o conseguir concretizar?
DICA #4 – Quem é o seu antagonista?
Todos temos os nossos protagonistas favoritos. Salvo raras – e honrosas – excepções (Miles, de “Sideways”, estou a olhar para ti…) são personagens ativos, com objetivos importantes, que tomam as decisões difíceis mas necessárias para concretizar esses objetivos.
Mas quantas vezes não é o antagonista que nós recordamos em primeiro lugar ou, pelo menos, ao mesmo nível do protagonista. Por vezes até dão o título ao filme: “Terminator”, “Alien”, “Tubarão”…
Certifique-se de que passa tanto tempo a pensar no seu antagonista como no seu protagonista. Qual é o seu objectivo? Porque é que é importante para ele? O que o motiva? Quais as suas forças e fraquezas? Qual o seu plano, e que lógica há por trás dele? Qual é o seu passado? Quais os seus sonhos?
Certifique-se também de que sabe o que o seu antagonista está a fazer em cada momento da estória. Ele não pode entrar e sair apenas por sua conveniência. O que é que ele está a fazer durante o resto do tempo. Não entrou em hibernação, pois não?
Crie um antagonista à altura do seu protagonista e terá mais um ingrediente para uma estória de sucesso.
DICA #5 – Já tem um título para o seu filme?
Quando for exibido nas salas o filme que está a escrever há de ter um título. O ideal é que seja você a batizá-lo no guião.
Não é garantido que o nome que você escolher venha a ser adotado por toda a gente que ainda vai dar parecer sobre o assunto: produtor, realizador, até os distribuidores, poderão ter outras opiniões. Mas você tem a oportunidade de dar o primeiro tiro, e muitas vezes é este que cola.
Vejamos os nomes de alguns dos candidatos ao Oscar 2013: Amour, Argo, Beasts of the Southern Wild, Django Unchained, Les Misérables, Life of Pi, Lincoln, Silver Linings Playbook, Zero Dark Thirty, The Master, Flight, The Impossible, The Sessions, Brave, Frankenweenie, ParaNorman, The Pirates! Band of Misfits, Wreck-it Ralph, Anna Karenina, Mirror Mirror, Kon-Tiki, No, A Royal Affair, War Witch, Hitchcok, The Hobbit: An Unexpected Jorney, Skyfall, Moonrise Kingdom.
Que conclusões podemos tirar daqui:
- A maior parte dos títulos são muito curtos, uma ou duas palavras (Amour, Argo, Flight, Lincoln, The Sessions, Anna Karenina, No…);
- Muitos incluem o nome do protagonista (Django Unchained, Life of Pi, Lincoln, ParaNorman, Hitchcock…) ou uma alusão direta a um personagem importante (Brave, The Master, The Hobbit…);
- Muitos referem um elemento importante da narrativa (Argo, Kon-Tiki, Mirror Mirror, No…);
- Outros escolhem uma referência ao universo ficcional do filme (Beasts of The Southern Wild, Les Misérables, The Sessions, A Royal Affair…);
- Finalmente, outros vão pelo caminho oposto, escolhendo um título misterioso e enigmático (Silver Linings Playbook, Zero Dark Thirty, Sky Fall, Moonrise Kingdom…).
Não precisa escolher o título do seu filme para começar a escrever. Mas é bom que durante todo o mês vá pensando nisso e tomando notas dos títulos que lhe forem ocorrendo.
Bem, que boa surpresa! Já não vinha ao seu site há algum tempo e deparo-me com este frenesi de escrita hehe muito boa iniciativa :)
Apesar de começar com 5 dias de atraso gostaria de me inscrever também pois gostaria de começar a escrever algo novo e assim o frenesi serve de incentivo! Tenho apenas uma pequena questão, o guião terá de ter obrigatoriamente 100 páginas? Esta será a terceira longa-metragem que escrevo e os meus primeiros rascunhos andam sempre à volta de 105/120 páginas antes do “corte e costura”
Cem páginas é o mínimo, a partir daí é por sua conta ;) Mas como em Portugal, pelo menos, os guiões de cinema têm frequentemente um pouco menos de 100 páginas, no FrenesiDeEscrita poderão ser aceites guiões a partir de 90 páginas.
Venho relatar que esta oportunidade foi o que me fez conseguir começar a escrever meu primeiro roteiro de longa-metragem, pois tenho diversas listas com títulos para posteriormente desenvolver, livros, filmes, minisséries, séries e telenovelas. São mais de 100 ideias e histórias que vejo potencial muito grande, mas falta tempo e tudo mais. Graças à Deus estou dando conta do roteiro, mas ainda este mês também terminarei duas sinopses de minisséries e uma de série, inclusive continuar meu 3º livro de suspense. E fico ainda mais feliz por ver que a minha primeira ideia dramática para filme está de acordo com as dicas. Quanto aos títulos é o que disse, não preciso pensar muito, pois já tenho centenas, só que sempre surge novos! Estou amando essa chance!
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