A Writers Guild of America, sindicato dos guionistas dos EUA, publicou recentemente uma lista das 101 séries de televisão mais bem escritas, elaborada após votação dos seus associados.
Como seria de esperar, dada a sua origem, a lista está completamente enviesada para a produção televisiva americana, sendo excepção apenas uma meia dúzia de obras britânicas. De qualquer forma apresenta um panorama bastante representativo do que de melhor tem sido feito em televisão, especialmente nas últimas décadas.
O lugar de topo da lista coube a duas das minhas séries favoritas: Os Sopranos, criada por David Chase, seguida por outra favorita de toda a gente, Seinfeld, de Larry David & Jerry Seinfeld.
O resto da lista é uma mistura de séries recentes e clássicos, embora as obras dos últimos anos, incluindo algumas ainda em exibição, estejam em maioria.
Como o texto de apresentação da listagem, da autoria de Paul Brownfield, faz questão de destacar, as escolhas nela presentes reforçam a convicção de que por trás de uma grande série há quase sempre grandes personagens.
Se personalidade é destino, então o personagem é realmente a espinha dorsal da grande escrita televisiva. A lista da WGA das 101 Séries Mais Bem Escritas é um testemunho disto, tão verdadeiro para aquelas em que o personagem principal é ostensivamente uma versão da sua estrela (The Cosby Show, para dar apenas um exemplo) como para aquelas em que é um Vulcano a bordo de uma nave espacial de exploração ou um assassino em série saltitando entre lados opostos da lei.
Não há melhor exemplo desta afirmação do que o primeiro classificado da lista.
David Chase revolucionou a escrita televisiva escolhendo para protagonista d’Os Sopranos um dos mais famosos anti-heróis da ficção televisiva. Tony Soprano (que David Chase inicialmente baptizou de Tommy) era um chefe mafioso com problemas de ansiedade que o obrigavam a procurar assistência psicológica em segredo.
A partir desta premissa simples foram desenvolvidas seis temporadas em que acompanhamos fascinados a forma como este homem complexo e contraditório lidava com os seus problemas pessoais, familiares e profissionais (sendo que estes últimos implicavam muitas vezes o recurso ao homicídio).
Os Sopranos recebeu o maior número de votos. Nenhuma série teve mais responsabilidade no renascimento da escrita televisiva, na qual os guionistas usam os personagens tanto para comentar o mundo contemporâneo como para realçar as formas como a acção reflecte as conturbadas vidas interiores das pessoas reais.
O sucesso d’Os Sopranos e a popularidade do seu protagonista estabeleceram um novo padrão de qualidade pelo qual, inevitavelmente, todas as séries subsequentes passaram a ser medidas.
Se quiser perceber melhor a razão da vitória d’Os Sopranos pode apreciar a qualidade da escrita de David Chase lendo o episódio piloto disponível na net (Nota importante: é melhor ler directamente na página do site, porque o link para baixar o suposto .pdf leva para um ficheiro .exe de segurança duvidosa).
As 25 séries mais votadas foram as seguintes:
- “The Sopranos”
- “Seinfeld”
- “The Twilight Zone” (1959)
- “All in the Family”
- “MAS*H”
- “The Mary Tyler Moore Show”
- “Mad Men”
- “Cheers”
- “The Wire”
- “The West Wing”
- “The Simpsons”
- “I Love Lucy”
- “Breaking Bad”
- “The Dick Van Dyke Show”
- “Hill Street Blues”
- “Arrested Development”
- “The Daily Show with Jon Stewart”
- “Six Feet Under”
- “Taxi”
- “The Larry Sanders Show”
- “30 Rock”
- “Friday Night Lights”
- “Frasier”
- “Friends”
- “Saturday Night Live”
A lista completa com todas as séries seleccionadas pode ser encontrada aqui.
Não concordo nada que “Lost” surja apenas na 27ª posição da lista, mas enfim.
Nem eu, mas eu penso que isso se deva à última série de episódios, quando gostamos muito de uma série e ela acaba de uma forma inferior ao normal, temos a tendência de ficarmos mais “magoados” do que com uma série que só gostamos. A mim aconteceu-me isso no Lost, adorei cada série, segui aquilo de forma impressionate, e depois senti-me traído enquanto espectador com aquele final. O mesmo aconteceu, numa série sem a qualidade de Lost, mas muito bem conseguida que foi o Prision Break, ou seja, foi muito boa até à série final, e depois foi despachada, literalmente despachada. Em sentido inverso, Seinfeld saiu em grande, e a nossa lembrança é de grande qualidade..
James Gandolfini, o ator que deu vida a Tony Soprano, e com isso ganhou três Emmy em seis vezes que foi nomeado para melhor ator de série dramática, morreu hoje.
É verdade que “Os Sopranos” são uma série maravilhosamente bem escrita, mas não é menos verdade que não seriam o mesmo sem o carisma triste e demencial que Gandolfini emprestou à série. RIP.
http://www.publico.pt/cultura/noticia/morreu-james-gandolfini-o-tony-soprano-1597845#/0
Eu acho que o melhor elogio que se pode fazer a um actor é não conseguirmos pensar em determinada personagem sem a associarmos a ele, e isso acontece nos Sopranos, sem aqueles olhos que vão para lá da melancolia, vão para lá da tristeza, sem os olhos de Gandolfini, não conseguimos ver, pensar, imaginar… Tony Soprano.