Os criadores de “South Park”, Matt Stone & Trey Parker, apareceram de surpresa numa aula de guionismo da New York University e deixaram um conselho fantástico aos alunos presentes, que resume a forma como trabalham nos seus writer’s rooms.
Ontem lembrei-me desta dica numa aula do workshop online que estou a dar neste momento, e percebi que ainda não o tinha mencionado aqui no blogue 1. Está na altura de reparar essa falha.
Mas primeiro, o vídeo:
O vídeo é muito curto – 2’15” – e não há desculpa para não o ver, mas quero destacar a coisa mais importante que é referida por Trey Parker, com grande veemência, ao explicar como funciona a sala de escrita onde concebem os episódios da popular série da Mtv:
“Podemos agarrar nestes beats (momentos), que são basicamente os beats do nosso outline (escaleta), e se as palavras “e depois” encaixam bem entre esses beats, estamos tramados. O que temos é muito aborrecido.
(…)
O que deve acontecer entre cada beat que escrevemos é usar as palavras “portanto” ou “mas“.
(…)
Deverá ser: acontece isto e portanto acontece isto, mas acontece isto, e portanto acontece isto!”
Matt Stone intervém a seguir para reforçar a importância da ideia:
” Temos o mas, o porque, o portanto, e é isso que faz a causalidade entre os beats, e isso – é uma estória.“
O que está aqui em causa é, portanto, a noção de causalidade, cuja importância eu não me canso de referir aos meus alunos.
Num guião sólido, cada cena é indispensável; é consequência de uma cena anterior e causa de uma cena seguinte. Se retirarmos essa cena, esse elo da corrente narrativa, deixaremos algures uma causa sem consequência, e uma consequência sem causa.
Pelo contrário, se ao retirarmos uma cena, a corrente narrativa ficar intacta e nada de relevante se perder, é muito provável (para não dizer quase certo) que essa cena não faz falta na nossa estória.
Portanto, da próxima vez que estiver a analisar os beats da sua escaleta, faça como os criadores de “South Park” e veja quais são as palavras que encaixam naturalmente entre eles. Se forem “portanto” e “mas”, está no bom caminho.
Notas de Rodapé
- Correcção: por acaso até já o tinha mencionado, neste artigo anterior. Mas são tantos artigos que por vezes me esqueço do que já referi antes…