Num artigo recente em que escrevi sobre as formas de contornar o bloqueio do escritor introduzi a noção do sprint de escrita. A definição que apresentei na altura é simples:
…projectos curtos, estimulantes e intensivos, autónomos ou inseridos em projetos maiores.
Apliquei esse conceito, herdado do universo das empresas de tecnologia, à escrita, sugerindo o uso dos sprints de escrita para realizar pequenos projetos autónomos, que constituiriam uma forma eficaz de nos afastar temporariamente de um projeto maior que se está a revelar problemático:
Fazer um sprint de escrita pode ser uma boa forma de ultrapassar o bloqueio do escritor: basta colocar o nosso guião ou romance de lado, durante uma semana, e escrever um conto, uma curta-metragem (ou até a primeiro versão de outro guião).
Mas um artigo recente do guionista John August chamou-me a atenção para a outra forma do sprint de escrita: os blocos “curtos, estimulantes e intensivos” de escrita “inseridos em projetos maiores“.
No dia a dia de um escritor esta variante, para a qual John August até sugere o hashtag #writesprint, 1 pode ser ainda mais útil do que a primeira.
O que é um sprint de escrita
Muito simplesmente, fazer um sprint de escrita é dedicar um período pré-definido a escrever com foco absoluto.
O importante é que durante esse período não haja qualquer interrupção ao fluxo da escrita. Não fazemos pesquisas na Wikipedia, não procuramos sinónimos no dicionário nem traduções no Google, não vemos tutoriais no YouTube nem vamos vadiar ao Instagram ou Twitter.
Limitamo-nos a escrever, escrever e escrever.
Se no fim do período, que terá geralmente entre meia e uma hora, ainda estivermos no fluxo, podemos aproveitar o embalo e continuar a escrever. Mas não devemos interromper antes por nenhuma razão.
Organizar um dia de escrita em torno de três ou quatro sprints pode ser muito mais produtivo do que oito horas de escrita desfocada.
Para quem não tem tempo para mais, um sprint diário de um quarto de hora de escrita focada e ininterrupta pode já ser o suficiente para terminar um guião ou livro num período relativamente curto.
O nosso povo diz que “devagar se vai ao longe“. Eu acrescento: “devagar e com foco“.
Regras de um sprint
O sprint de escrita é uma variação do método Pomodoro, de que já falei noutro artigo, uma técnica de produtividade que se aplica a qualquer tipo de atividade, fazendo-a de forma curta e intensa.
O método Pomodoro consiste em usar um cronómetro para delimitar períodos fixos de 20/30 minutos de prática intencional, separados por um pequeno intervalo para descanso.
Alguns programas de escrita, como o excelente Highland, criado pelo próprio John August, incluem um relógio no seu interface, mas isso não é de todo indispensável. Qualquer cronómetro que esteja à mão serve para o efeito.
Fazer um sprint de escrita não tem nada que saber:
- Prepare os seus materiais de escrita (computador, caderno, etc…).
- Arranje algum tipo de cronómetro (telemóvel, relógio de cozinha, etc…).
- Escolha o período que quer dedicar ao seu sprint.
- Partida!
- Escreva sem interrupções durante o período definido.
- Quando o relógio der o alarme, levante-se e desentorpeça as pernas (ou continue a escrever, enquanto estiver no fluxo).
- Repita as vezes que for necessário até terminar o seu guião.
Se a ideia de escrever durante uma hora o intimidar, experimente ser um pouco mais Pomodoro. Divida o seu sprint em duas etapas mais curtas com uma ligeira pausa no meio (por exemplo, meia hora + pausa + meia hora). Pessoalmente, não sinto necessidade desse intervalo, mas pode ser uma boa forma de se iniciar nos sprints.
Quando faço um sprint de escrita costumo ter um papel e uma caneta ao lado e só interrompo a escrita para anotar pequenas dúvidas que quero esclarecer mais tarde. Fora isso, não tiro os dedos do teclado até o relógio tocar.
Se quiser colocar sobre si um pouco de pressão social, pode até anunciar, no Facebook ou no Twitter, que vai começar um sprint e confirmar depois o seu término na hora certa.
É também uma excelente ideia virar o telemóvel para baixo e desligar a internet do computador 2 durante o seu sprint.
Conclusão
Cada escritor tem os seus hábitos muito pessoais. No meu caso, o sprint de escrita é um dos mais recorrentes.
Esta ferramenta poderosa ajuda-me a estabelecer limites entre a escrita e as outras atividades que lhe estão associadas, como a pesquisa ou os contatos, e permite-me seguir em frente de uma forma mais constante, deliberada e disciplinada.
Gostaria de saber se isso também acontece consigo. Se quiser contribuir com a sua opinião, deixe um comentário no fim da página.
Bons sprints de escrita!
Fotografia principal de Braden Collum em Unsplash
Notas de Rodapé
- Para nós poderia ser #sprintdeescrita
- Pode também usar um aplicativo de bloqueio como os referidos neste artigo