Fui hoje ver o “Actividade Paranormal”, que tanto sucesso fez nos Estados Unidos e em outras paragens. Não foi assim cá em Portugal, e acho que sei a razão.
É que por aqui acharam boa ideia fazer intervalos no meio das sessões deste filme (pelo menos nas salas Lusomundo Cascaishopping).
Conseguem explicar-me porque é que alguém pensou que isso não era uma cretinice completa?
“Actividade Paranormal” é um filme com um mecanismo muito simples. Todo o medo resulta da tensão que se vai acumulando pouco a pouco, cena a cena, descoberta a descoberta. É um filme em que quase não há efeitos especiais, sangue, violência física.
Há ambiente.
Feito de silêncios, ruídos surdos, pequenos detalhes, sinais que se vão acumulando até que…
…surge uma legenda a dizer “INTERVALO” e temos de engolir meia dúzia de minutos a ouvir uma música idiota.
Excelente ideia.
Se querem uma comparação, da próxima vez que estiverem nos preliminares com o vosso parceiro sexual, esperem que ele esteja bem excitado e joguem-lhe um copo de água gelada para cima. O efeito deve ser mais ou menos semelhante.
Não há ninguém que queira fazer uma petição contra esta tolice dos intervalos? É que já nos filmes “normais” esta interrupção, supostamente em nome do comércio de pipocas, é um abuso. Em casos como o de hoje, é simplesmente intolerável.
Não acredito que houve intervalo comercial no CINEMA! Que absurdo! #fail total.
Eu acho um absurdo os intervalos actualmente, (nem em elvas se faz já isso – pelo menos nos filmes de 90 minutos). Se formos aqui a vizinha espanha (no meu caso – o vizinho badajoz) vemos que temos uma sessão de cinema brilhante sem quaisquer interrupções…
Em Lisboa, no Monumental Saldanha, não fazem intervalo. Na Cinemateca e no S. Jorge também não. Em cidades mais pequenas, creio que também há salas onde não há intervalos. As petições não chegam. As pessoas têm é de deixar de ir aos sítios onde há intervalos.
As salas que refere devem corresponder a um ou dois por cento dos bilhetes vendidos por ano. E não são alternativa válida, pelas suas características de programação, ao grosso das salas de cinema nacionais. Uma pessoa pode preferir ver os Transformers e mesmo assim ter direito a não ser tratada como um cãozinho que, pavlovianamente, deve comprar pipocas quando lhe dão o sinal.
Por muito que me custe admitir, o mercado só funcionaria neste caso se um dos grandes exibidores tivesse outra política, sem intervalos, e se constituísse como alternativa. As petições provavelmente não chegam também, mas pelo menos são um desabafo.
No entanto, seguindo a sua sugestão, abro aqui espaço aos leitores que queiram dar exemplos de salas que não fazem intervalos. Se o volume se justificar pensarei uma maneira de dar divulgação a essas salas, apontando-as como alternativas válidas às que fazem.
Em Torres Novas, no Teatro Virgínia também não fazemos intervalos. Pelo menos nas sessões de “Cinem’àsQuartas” que são exibições direccionadas para a promoção da cultura cinematográfica e não para fazer dinheiro.
Passo a publicidade: Todas as quartas lá estão bons filmes, sem intervalos, e bilhetes a simbólicos 3€ e 2€ para sócios do Cineclube de Torres Novas, sendo o mesmo o responsável pela organização do evento.
…por amor ao Cinema!!
http://cctorresnovas.blogspot.com
Caro João Nunes,
tem razão, as salas onde não há intervalo são uma minoria. Quanto ao facto de não serem uma alternativa válida, já não sei. Eu acho é que a maioria não é uma alternativa válida. Se é para ver cinema num centro comercial, com salas com cheiro a pipocas e a levar intervalos para as pessoas irem reabastecer o balde, prefiro esperar que saia o DVD e vê-lo em casa (até porque muitos DVD são mais baratos que os bilhetes e dão para a família toda). Mas isto é uma opção minha, claro.
Aproveitando a sua sugestão, acrescento que em Portalegre, há uma sala de cinema no centro histórico (peço desculpa, mas não me lembro do nome) que não faz intervalos. Em Évora, na Sociedade Joaquim António Aguiar, também não fazem. Os alunos da Assoc. de Estudantes da Univ. de Évora organizam ciclos de cinema em vários estabelecimentos da universidade, também sem intervalo.
Quando eu digo que não são uma alternativa válida, não estou a fazer nenhum julgamento de valor sobre a sua programação. Até porque sei que esta é normalmente criteriosa e de qualidade.
Mas temos de estar conscientes da realidade em que vivemos. Para a maior parte das pessoas a ida ao cinema é mais do que apenas ver um filme: é um evento social, com amigos ou namorados, de que as pipocas fazem parte. Quanto a isso não tenho nada a dizer; se o filme for bom esqueço rapidamente o cheiro das pipocas.
O que eu digo é que esses espectadores que sustentam a maior parte das salas de cinema, em geral querem ver outros filmes que não os que passam nas poucas salas referidas. Mas mesmo assim têm direito a ver os filmes de que gostam, por muito que nós os apreciemos menos, sem ser interrompidos a meio por razões meramente comerciais (e que nem sequer acredito que sejam assim tão relevantes).
Compreendo-o perfeitamente. Quando digo que não acredito na eficácia da petição, quero dizer que as pessoas que vivem do rendimento das salas não se sentem «afectados» com assinaturas, apenas com perda de clientes. Pelo menos, parece-me que a maioria das empresas funciona assim: enquanto o cliente der lucro, o seu grau de satisfação interessa pouco.
Talvez devam ser os próprios realizadores ou os produtores a impor a inexistência de intervalos, como aconteceu com o «Eyes Wide Shut» do Kubrick.
De qualquer forma, não querendo bater sempre na mesma tecla, há salas de cinema que deviam ser mais dinamizadas. O cinema São Jorge, em Lisboa, praticamente só abre quando há festejais, o que é pena. O cinema Quarteto, um dos mais emblemáticos da capital, foi fechado e não há maneira de reabrir. Isto preocupa-me.
E deve preocupar-nos a todos. A tendência, infelizmente, é haver cada vez menos filmes a estrear com cada vez mais cópias. O panorama da distribuição chega a ser sufocante, com excelentes filmes a irem directamente para o DVD ou a estarem tão pouco tempo nas salas que quando os vamos ver já se evaporaram. E isso não é bom para os pequenos filmes que, grande parte das vezes, são precisamente os mais interessantes. Para o cinema português é, obviamente, péssimo. Mas o problema só se resolve a longo prazo, com educação e a elevação gradual do nível de exigência dos espectadores. Sabendo desde logo que, por muito que as coisas mudem, os grandes produtos de massas serão sempre mais vistos do que os pequenos filmes com atitude. Mas isso é assim em todas as áreas da cultura, salvo uma ou outra excepção.
Quanto à petição, a sua única virtude será chamar a atenção para a situação. Se houvesse muita gente interessada, talvez desperte o interesse de um dos distribuidores/exibidores e o leve a experimentar não fazer intervalos, constituindo-se como alternativa. Esperança ainda não paga imposto.
Tem razão. A chave está numa distribuição mais equilibrada e na educação. Talvez valha a pena perguntar à Isabel Alçada, que foi escritora, o que pensa da educação estética e da educação artística. Desconfio é que a resposta não seja muita animadora.
Venha daí então a petição. Eu assinarei.
Partindo da lógica de que “só há oferta porque há procura”, uma forma de protestar é nas próprias salas de cinema, se ninguém sair aquando do intervalo. Enquanto houver alguém a sair, estão a dar razão à administração dos cinemas (ou quem quer que seja que tome tais decisões). Claro que para tal tem de se criar um movimento/petição.
Outra solução (e esta é para dar trabalho à Lusomundo e afins!) basta ligar um Excel ou semelhante ao sistema informático de compra de bilhetes. Quando cada pessoa compre o bilhete, acresce às perguntas do costume uma outra: “Quer com ou sem intervalo?”. As pessoas escolhem, o sistema conta os “votos” e ganha a maioria. Em caso de empate!, ganha o “sem intervalo”, hehe! Claro que poderão manipular sempre o sistema…!
Bom, eu também acho que o intervalo é ridículo. E claro, conforme foi escrito acima, com os intervalos aumentam a probabilidade de alguém consumir mais refrigerante, pipocas, etc.
“Curse them all, I tell ya!” Eu assinarei essa petição, e à la Dupont & Dupont ainda digo mais: “esperança não paga imposto!”