"I've been saying this since Day One. 3D is the waste of a perfectly good dimension." — Roger Ebert
Avatar lançou o mote no último mês de 2009. Em 2010, os estúdios lançaram-se em massa à loucura do 3D. Este foi, sem dúvida, o ano da profundidade: filmes de acção, fantasia, animação, terror, documentários – parece que todos tiveram algo a mostrar em 3D.
Mas a minha preocupação, e que começa a ser a preocupação de muita gente ligada ao cinema, é: e contar? Será que todos eles tinham algo a contar?
Em meados de 2010 circularam notícias que os estúdios em Hollywood começavam a aprovar e rejeitar guiões baseados na quantidade de cenas em 3D que contemplavam. Um guionista dizia mesmo que "tal como num episódio de uma série de comédia se tenta ter três piadas por página, tentara ter um momento em 3D a cada 8 a 10 páginas."
Walter Murch, editor de filmes como Apocalypse Now e O Paciente Inglês, apresenta-se cético. Para ele há vários problemas com o 3D, como tornar a imagem mais pequena, mais escura e indutora de dores de cabeça. O maior problema, diz este especialista, é que o cérebro humano simplesmente não está preparado para ter o ponto de focagem e o ponto de convergência da visão em locais diferentes. Como o ecrã está sempre à mesma distância, o foco é sempre o mesmo. Mas a visão é obrigada a convergir mais perto ou mais longe que essa distância conforme a ilusão dos efeitos 3D. É por esse motivo que tanta gente se queixa de dor de cabeça quando vê filmes 3D.
No entanto, para muitos, o pior nem é isso. O pior é a mudança de foco da história para os efeitos visuais e a tecnologia.
Kieran Mulroney, que está actualmente a trabalhar no guião para o segundo filme de Sherlock Holmes, teme que se os filmes se tornarem puramente espectáculos visuais "que espaço é que sobra para as conversas íntimas à mesa de jantar?"
Só espero que se o 3D passar a ser o novo Technicolor, as personagens e os argumentos não passem a ter menos profundidade.
Nossa, Nélia, outra boa lembrança. Que me fez lembrar de outros momentos em que a indústria do cinema se digladiou, não com a “profundidade”, mas com as “extensão”: Cinerama, Cinemascope, os Visions, etc. E, engraçado…
Sabe que esses argumentos de peso do peso-pesado Murch no http://blogs.suntimes.com/ebert/2011/01/post_4.html me provocaram uma indagação algo inconveniente? Assim:
Será que, com o tempo, o 3D não pode ser tornar um problema de… saúde pública? rs.
Quer dizer, ironia à parte, acho que até seria interessante monitorar (tomografia?) os efeitos cerebrais a projeção 3D no espectador. Porque a coisa ainda é meio artificial, apesar do avanço técnico. E, pelo que me consta, assistir ao 3D natural não dá naturalmente dor de cabeça, não é mesmo?
De qualquer forma, quanto a mim, ainda não me atrevi à experiência. E nem vou tão cedo: além dos relatos sobre a dor-de-cabeça, os a respeito do incômodo que são o óculos-sobre-óculos (a outra dor de cabeça que é ser míope de velha guarda) me afugentaram.
Mas mesmo assim… É, deixa eu me prolongar mais um tantinho deixando a defesa batendo-na-mesma-tecla do James Cameron, de que existe 3D e 3D, em entrevista à Ana Maria Bahiana: http://bit.ly/g7S9S8 Acabei de ler:
” … e é o que venho dizendo desde sempre! E tem muito realizador teimoso que não quer escutar! Não adianta converter. Não adianta fazer 3D como uma idéia posterior ao filme, ah, vamos por um 3D aí para atrair mais público. O 3D tem que ser pensado como parte da narrativa, e parte da questão é _ esta é uma narrativa que pode se beneficiar do 3D? É o mesmo problema trazido pela cor ao longo da história do cinema – meu filme é melhor em cor ou pb?”