Sabe-se agora que Fernando Pessoa também se interessou por cinema, e mais especificamente pelo guionismo. Um livro apresentado hoje em Lisboa revela que o poeta escreveu vários esboços de argumentos cinematográficos, em inglês, francês e português. Aparentemente não terminou nenhum, o que confirma uma opinião que tenho repetido aqui várias vezes: escrever para cinema é muito difícil.
O livro, da autoria dos investigadores Patricio Ferrari e Claudia J. Fischer, chama-se Fernando Pessoa — Argumentos para Filmes, e reúne materiais já antes publicados em França, bem como originais do espólio do poeta. Revela ainda que Pessoa terá também pensado, a certa altura, em criar uma produtora de cinema, para a qual terá mesmo desenhado o logotipo.
Os esboços de argumentos tem títulos como Note for a silly thriller or a film, The Multiple Nobleman e The Three Floors, e estão em diferentes fases de desenvolvimento. Em alguns deles chegou a escrever diálogos, noutros apenas deixou descrições de cenas e intenções. De qualquer forma, com esta publicação, vamos poder matar a curiosidade: como seria o Pessoa guionista?
A notícia não tem a importância da descoberta de um novo heterónimo, mas não deixa de ser engraçado imaginar que influência Pessoa poderia ter tido no rumo do cinema português se lhe tivesse dado a mesma atenção que o seu colega António Ferro.
Fernando Pessoa era um génio. Pensava como ninguém. Um dos melhores autores de língua portuguesa e do mundo, a par de Luís Vaz de Camões, isto só prova que os portugueses são uns génios em literatura.
Isso é muito curioso; porque a primeira comédia que completei intitulava-se “Quem matou Fernando Pessoa?”. E acabava com a insinuação de que o argumentista era um heterónimo do Pessoa.
Há uns tempos peguei no argumento novamente, pensei que podia adapta-lo ao teatro, mas de teatro não percebo nada. Para além de que, profanar um dos nomes da literatura portuguesa de uma forma tão brejeira e insana não seria bem aceite. De igual modo, agora, é fácil de identificar que o que mais me orgulhava no argumento não é mais que uma adaptação de “Adaptação” (Inadaptado de Kaufman).
Cada vez que estou quase a matar este sonho/ vicio encontro uma coincidência qualquer que me faz voltar a querer escrever.
Muitas vezes temos tendência a matar os sonhos cedo demais; é preciso dar-lhes tempo e alimento, como às crianças. Acho que o melhor que tem a fazer é abrir o processador de texto e começar a escrever.