Como sabem as pessoas do meio e os interessados pelo assunto, a situação do audiovisual português está, neste momento, entre o caos e a catástrofe.
Depois de anos com uma Lei do Cinema frouxa e que ninguém cumpria, temos agora uma proposta de Lei um pouco melhor mas que tudo indica também não será cumprida. Entretanto o setor está paralisado, os concursos não se realizam e o pouco que restava está a agonizar.
Não tenho falado sobre o assunto neste blogue porque o meu objetivo é entusiasmar os guionistas, despertar talentos, dar-lhes ferramentas para serem melhores. Falar sobre esta realidade, que espero seja transitória, não teria nenhum desse efeitos.
A APAD – Associação Portuguesa de Argumentistas e Dramaturgos, entidade de que fui presidente até há alguns meses, e de cuja direção ainda faço parte, tem trabalhado muito para melhorar esta situação.
Emitiu pareceres sobre a proposta de Lei, que esperamos venham a ser refletidos nela; contribuiu para unir todas as associações do setor numa plataforma comum; colaborou com elas na elaboração de documentos conjuntos sobre estas matérias; fez-se ouvir, individualmente ou em conjunto, junto da Secretaria de Estado da Cultura e do ICA; protestou e participou em ações de protesto, quando o achou conveniente.
Enfim, tem feito o possível para dar um contributo positivo num momento em que esses contributos fazem mais falta do que nunca.
Foi por isso com grande surpresa que tomamos conhecimento de um documento, supostamente subscrito pela APAD, para o qual nunca fomos ouvidos, e muito menos assinamos. Acreditamos que outras associações nele referidas se encontram na mesma situação.
A situação é tão grave que decidimos emitir imediatamente um desmentido. Venho aqui dar-lhe divulgação, não só por respeito à posição da APAD, mas até como alerta face às pessoas e empresa mencionadas.
O setor audiovisual português, o nosso cinema, precisa de união, inteligência e sabedoria.
Não precisa de chicos-espertos distraídos (ver Atualização mais abaixo).
Desmentido
Boa tarde,
Chegou ao conhecimento da Associação Portuguesa de Argumentistas e Dramaturgos (APAD) que deu entrada no Instituto do Cinema e do Audiovisual – no dia 17/4/2012 (Registo de Entrada: B-114-1; Ofício nº 1245) – um documento intitulado 'Parecer das Associações Signatárias sobre o Anteprojecto de Lei do Cinema' onde o nome da nossa Associação aparece como uma das defensoras e subscritoras deste texto, como é possível ver nos cabeçalhos de cada uma das suas 20 páginas.
Na carta de apresentação do respectivo documento, percebe-se que terá sido enviado por um indivíduo de nome Ricardo Pugschitz de Oliveira, apresentado como Produtor Executivo da MarginalFilmes, da qual é sócio com José Carlos de Oliveira. A APAD soube também que este documento terá sido enviado para a Secretaria de Estado da Cultura (com conhecimento de Vera Castanheira) e estará mesmo em sede de apreciação junto da Comissão de Educação, Ciência e Cultura.
A APAD repudia qualquer envolvimento, discussão ou simples conversa com os responsáveis por este Parecer. A APAD não foi contactada ou consultada, não assinou, nem sequer sabia que existia e não leu o documento e nem o irá fazer, porque se recusa a estar envolvida com este infantil nível de desonestidade. Todos os documentos enviados pela APAD para o Instituto de Cinema e do Audiovisual ou para a Secretaria de Estado da Cultura foram assinados pelo seu actual presidente, Tiago R. Santos, o que, como é fácil constatar, não acontece neste caso. Este nem é um caso de abuso de confiança, porque nenhuma relação de confiança foi estabelecida entre a MarginalFilmes e a APAD. É simplesmente um logro e uma fraude.
E, para que não existam dúvidas, a APAD, até ao momento e no que diz respeito à futura Lei do Cinema, enviou um Parecer individual através do email privado do seu presidente e co-assinou vários documentos redigidos em conjunto com a Associação de Imagem Portuguesa (AIP), Associação de Produtores de Cinema (APC), Associação de Produtores Independentes de Televisão (APIT), Associação de Realizadores de Cinema e Audiovisual (ARCA) e Associação Portuguesa de Produtores de Animação (APPA). Mas nunca esteve associada com a MarginalFilmes e espera que este Parecer fictício e mentiroso não desvie as atenções no que diz respeito à verdadeira e única posição da APAD.
Sem mais,
Tiago R. Santos
Presidente da Associação Portuguesa dos Argumentistas e Dramaturgos
Atualização (22-06-2012):
A Marginal Filmes retratou-se oficialmente com dois pedidos de desculpas, um endereçado à Secretaria de Estado da Cultura e outro às seis associações incorretamente mencionadas no seu documento.
Segue o texto dos pedidos de desculpas que, por imperativo de imparcialidade, resolvi divulgar.
Pedido de Desculpas à SEC
Secretaria de Estado da Cultura
Excelentíssimo Senhor Secretário de Estado da Cultura
Dr. Francisco José Viegas
ATT/:
Excelentíssima Senhora Dona
Isabel Flores
A Marginalfilmes enviou a Vossa Excelência um documento no âmbito da consulta pública do projecto de Lei do Cinema. É um documento que resulta da experiência desta produtora nas áreas da criação, produção e formação assim como das dificuldades com que ao longo dos anos nos temos confrontado.
Por lapso, o documento foi transcrito para um ficheiro de trabalho com seis das principais associações do sector:
- Associação de Imagem Portuguesa (AIP)
- Associação Portuguesa de Argumentistas e Dramaturgos (APAD)
- Associação de Produtores de Cinema (APC)
- Associação de Produtores Independentes de Televisão (APIT)
- Associação de Realizadores de Cinema e Audiovisual (ARCA)
- Associação Portuguesa de Produtores de Animação (APPA)
Devido a isso, o documento está subscrito pelas referidas associações, o que não corresponde à verdade.
Pedimos desculpa pelo acontecido ao Secretário de Estado da Cultura e aos colegas das associações, não querendo deixar de sublinhar que à elaboração do documento da autoria da Marginalfilmes presidiu, como a sua leitura pode comprovar, a exclusiva intenção de contribuir para que a produção de cinema e audiovisual possa rapidamente convergir com os notáveis resultados da maioria dos restantes países da europa.
Frente ao exposto, vimos solicitar que Vossa Excelência possa fazer chegar este esclarecimento as instâncias adequadas, sem que o conteúdo deixe de ser considerado nos trabalhos de discussão da Lei do Cinema.
Mais uma vez, as nossas desculpas.
Com elevada consideração,
José Carlos de Oliveira
Ricardo Pugschitz de Oliveira
Pedido de Desculpas às Associações
Caros colegas,
Conforme explicado na cópia do mail que juntamos, enviámos um texto da autoria da Marginalfilmes ao Secretário de Estado da Cultura, no âmbito da consulta pública ao projecto da Lei do Cinema, que por infeliz lapso foi colado num ficheiro de trabalho em que o cabeçalho ostenta o nome de seis associações do sector.
Pedimos as nossas desculpas pela incorreção aos colegas dessas seis associações, acreditando que pelo conteúdo do texto em questão se perceberá que à sua elaboração presidiu a melhor das intenções.
Fazemos os mais sinceros votos de que o sentido impróprio e tão célere no julgamento e acusação da minha pessoa e da Marginalfilmes, patente na mensagem da Secretária-Geral da APIT enviada ao António-Pedro Vasconcelos – não se percebe porquê – não reflita o estado de espirito dos colegas.
Creiam-nos disponíveis para qualquer esclarecimento.
Com renovadas desculpas
Saudações,
José Carlos de Oliveira
Ricardo Pugschitz de Oliveira
Pena não ser, este desmentido, mais esclarecedor sobre o que é afirmado no documento fraudulento, nem sobre qual a verdadeira posição da Associação.
Ma de qualquer forma é uma vergonha alguém se achar no direito de utilizar o nome da APAD para fazer valer os seus argumentos e devo dizer que o desmentido deveria ser seguido de uma acção Judicial, pois fraude é crime.
Abraços.
A posição da APAD foi apresentada sob a forma de parecer aos restantes parceiro do setor, de forma a produzir um documento comum que nos represente a todos.
Quanto ao documento referido, o que está em causa não é o seu mérito ou demérito, mas sim a forma. Até podia concordar com tudo o que lá é dito – e não concordo – mas nunca o aceitaria.