Um dos bons filmes do ano passado foi Trumbo, escrito por John McNamara com base no livro biográfico de Bruce Cook.
É a biografia do guionista americano Dalton Trumbo que, por ser comunista, foi preso e colocado numa lista negra durante dez anos, no auge da Guerra Fria. Tal como milhares de outras pessoas nos Estados Unidos, foi impedido de exercer a sua profissão. Esta lista negra teve um particular foco em Hollywood, devido à grande visibilidade de muitos dos seus integrantes.
Dalton Trumbo, depois de sair da prisão, conseguiu retomar a actividade de guionista escrevendo guiões a preços de saldo e sob pseudónimo. Durante esse período, e graças a esse expediente, conseguiu, inclusivamente, ganhar dois Óscares da Academia (incluindo um dos meus filmes favoritos, Roman Holiday).
Através da sua teimosia e perseverança, e da influência que teve noutros guionistas e cineastas nesse período, Trumbo contribuiu de forma decisiva para acabar com a lista negra e encerrar um capítulo desonroso da história americana.
Trumbo é um filme de particular interesse para os guionistas, não só pelo seu lado histórico, mas também pelo que revela dos hábitos de escrita do seu protagonista.
A banheira de Dalton Trombo
Trumbo tinha uma capacidade de trabalho prodigiosa. Vemo-lo no filme prometer, e cumprir, a entrega de um guião em três dias. É verdade que eram guiões de filmes de 10ª categoria, que ele escrevia em catadupa para o produtor Frank King (interpretado por John Goodman, que tem a melhor cena do filme) mas, mesmo assim, três dias é obra.
Para aguentar este ritmo infernal, Trumbo tomava (além de muito álcool e comprimidos) longuíssimos banhos quentes, durante os quais continuava a trabalhar. Esses banhos, que aparecem em diversas cenas chave do filme, fazem parte da mitologia de Hollywood e ficaram imortalizados numa fotografia do autor.

Durante esses longos banhos de imersão, Trumbo dactilografava, tomava notas, e refazia as suas escaletas num complicado processo de recorte e colagem.
Vemo-lo nesses procedimentos e não podemos deixar de pensar como a vida de guionista é mais fácil hoje em dia. Não só porque não estamos em nenhuma lista negra, mas também porque temos computadores e programas de escrita que tornam muito mais simples fazer o que Trumbo fazia com tesoura e fita e adesiva (embora ele tivesse uma grande vantagem em relação a nós – nenhum dos seus utensílios deixava de funcionar caso caísse na banheira).
Não gosto de banhos de imersão, por isso não é uma técnica que vá adotar. Mas não deixa de ser uma ideia fascinante, pelo menos para Bryan Cranston, o ator que interpretou Dalton Trumbo no filme.
Leia o guião de Trumbo aqui.