O ICA, Instituto do Cinema e Audiovisual, anunciou no passado dia 3 de Março a abertura dos concursos para apoio financeiro às diferentes vertentes da criação, produção e divulgação audiovisual em Portugal.
Desses vários concursos, interessam particularmente aos leitores deste site os dois que incluem apoios à escrita: o concurso de Escrita e Desenvolvimento de Obras Cinematográficas, que termina a 07 de Abril; e o de Escrita e Desenvolvimento de Obras Audiovisuais e Multimédia, cujo prazo limite se estende até 26 de Maio.
Os concursos de Apoio Financeiro ao Cinema e ao Audiovisual terão em 2022 uma dotação total de € 22.920 milhões de euros.
É pouco, muito pouco, quando comparado com outros países europeus, nomeadamente a Espanha, mas mesmo assim torna-os a mais importante fonte de financiamento do setor, atraindo todos os anos muitas atenções… e muitas polémicas.
Como concorrer
Já escrevi aqui no site um artigo com dicas para concorrer a estes concursos. Os enunciados dos regulamentos são por vezes difíceis de interpretar, por isso acredito que a leitura desse artigo pode ser uma ajuda a quem esteja interessado em candidatar-se a estes apoios.
Infelizmente, e apesar de todas as reclamações que têm sido feitas por entidades com a Associação Portuguesa de Argumentistas e Dramaturgos, o ICA ainda considera os guionistas como uma espécie de irresponsáveis.
Argumentistas e realizadores estão autorizados a concorrer sozinhos aos apoios à escrita mas, no caso de serem escolhidos, não podem recebê-los sem ser através de produtores independentes devidamente credenciados junto do ICA.
Parece-me uma limitação incompreensível, injusta e improdutiva, que só contribui para manter os guionistas ainda mais na dependência dos produtores. E, obviamente, é um entrave adicional para que muitas pessoas – sejam elas novos talentos ou autores consagrados – queiram candidatar-se aos fundos do ICA.
Por comparação, veja-se o sucesso do primeiro concurso da Netflix, lançado em conjunto com o mesmo ICA, que abriu as portas a projetos enviados por autores individuais.
Esse concurso recebeu mais de 1200 candidaturas, vindas de todo o tipo de concorrentes. Praticamente todos os guionistas e cineastas profissionais terão concorrido, mas também muitos estudantes, aspirantes a autores, e outras pessoas interessadas em cinema e televisão.
Deu mais trabalho seleccionar os vencedores? Acredito que sim.
Mas também quero acreditar que o ICA conseguiria igualmente ultrapassar esse “problema”, se a isso se comprometesse.