O Roque Santeiro é, alegadamente, o maior mercado ao ar livre de África. Em relação a ele tenho sentimentos divididos: por um lado, desperta-me uma enorme curiosidade – como publicitário, sinto que o devia conhecer para compreender melhor uma parte importante da população para quem crio anúncios; mas, por outro lado, tenho um grande receio em visitá-lo. Muitos angolanos, e outras pessoas que vivem aqui há muito tempo, me alertaram para os perigos de lá ir. "Nem penses nisso – Ir ao Roque? Mas fazer o quê?Se fores leva segurança; e armada, de preferência".
Os meus amigos serão alarmistas? Estarão a gozar com o branco? Ou querem simplesmente poupar-me a perigos reais e desnecessários?
Não sei, e não sei se vou chegar a saber. Fala-se agora que o governo quer desalojar o Roque, e transferi-lo para uma zona mais remota. O presidente atribuiu-lhe uma parte da culpa da epidemia de cólera que já matou mais de 1.500 pessoas em Angola; os jornais semanários, mais cínicos (ou realistas), asseguram que o verdadeiro motivo é a cobiça imobiliária por um terreno às portas de Luanda que desfruta de uma vista maravilhosa sobre o mar.
Seja como for, os dias do Roque Santeiro, mercado baptizado em homenagem a um popular personagem de novela brasileira, parecem estar contados. Quem quiser comprar o que lá se vende, e que vai, ao que me garantem, da fruta aos tanques de guerra, da roupa às peças de avião, terá de se deslocar muito mais longe. Com segurança armada, de preferência.