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O preço da tranquilidade

    Update: Coloquei este artigo disponível para download na secção de Recursos ou aqui mesmo:

    Como guionistas, o nosso trabalho assume na maior parte das vezes uma forma imaterial. Os guiões que escrevemos no computador são apenas bites e bytes que enviamos por email sob a forma de ficheiros .pdf, .doc ou .fdx, e que arquivamos nas frágeis superfícies magnéticas dos discos rígidos dos nossos computadores.

    A sua imaterialidade faz-nos esquecer muitas vezes como é fácil perder esse tipo de documentos: um ‘delete’ acidental, a morte súbita de um disco rígido, ou o roubo de um computador é quanto basta para fazer desaparecer meses de trabalho. É por isso que é fundamental, para qualquer guionista consciente, ter uma estratégia de backup sólida, e respeitar essa estratégia sem falhas.

    Um método de backup só funciona, como qualquer técnico de sistemas poderá confirmar, se for automático, redundante e rotativo. O que é que isto quer dizer?

    • Automático – o sistema deve depender o menos possível da nossa intervenção para se manter. Porque, como humanos que somos, vamos esquecer-nos, ou ter preguiça, precisamente no dia em que era proibido isso acontecer.
    • Redundante – deve oferecer mais de uma opção de recuperação dos dados, porque é muito possível que o dia em que o seu computador falhar seja também o dia em que o seu disco de backup vai decidir bloquear. A Lei de Murphy, já ouviram falar?
    • Rotativo – para ser verdadeiramente eficiente, um dos elementos da estratégia de backup deve ser levado para longe dos outros (noutra casa, de preferência), para precaver os casos mais graves – incêndio, assalto à casa ou escritório, terramoto, etc.

    A minha estratégia de backup

    O meu método de backup assenta em três elementos fundamentais: o Dropbox, o Time Machine e o SuperDuper!. O Dropbox serve para todas as plataformas, mas os outros dois são exclusivos do Macintosh. Tenho contudo a certeza de que um pouco de pesquisa permitirá encontrar os seus equivalentes (embora não tão bons ;) para Linux e Windows.

    O Dropbox é uma combinação entre software que se instala no computador e uma assinatura num site externo. O programa cria uma pasta no nosso computador, que é sincronizada de forma automática e transparente com a sua pasta equivalente nesse servidor externo.

    Na sua versão gratuita o Dropbox tem uma capacidade de armazenamento de 2,5 GB, que pode ser ampliada mediante uma assinatura mensal. Eu uso apenas a versão gratuita, que me serve muito bem para a forma como o utilizo.

    Dentro do Dropbox criei pastas para todos os projectos em que estou a trabalhar, ou em que trabalhei nos últimos meses. É lá que vou guardando as sucessivas versões dos trabalhos que são, imediata e automaticamente, guardados no servidor externo, algures no mundo. Ou ‘na nuvem‘, como se diz agora.

    O Dropbox dá-nos ainda a possibilidade, se tivermos outro computador, de manter a pasta sincronizada entre os dois. É assim possível, por exemplo, trabalhar num documento em casa e, quando chegamos ao escritório, continuar a trabalhar no mesmo documento, exactamente a partir do mesmo ponto.

    A grande vantagem do Dropbox é a transparência e automatismo. Instala-se uma vez e nunca mais se pensa no assunto. Sempre que estamos online o programa encarrega-se de sincronizar a pasta do computador com a pasta externa. Se acidentalmente perdermos ou apagarmos um ficheiro na pasta do computador esse ficheiro continuará lá no servidor externo. E não só ele, como todas as versões anteriores, não vá dar-se o caso de querermos voltar atrás no tempo e recuperar uma versão antiga do documento.

    Voltar atrás no tempo é o que o Time Machine também faz, e muito bem. Este software gratuito, que vem instalado em todos os Macintosh, mantém cópias sucessivas de todos os documentos, músicas, fotografias, vídeos, etc, que temos armazenados no computador, façamos nós o que lhes fizermos.

    Se eu hoje tiver, por hipótese, um acesso de loucura ou distracção e apagar todos os meus guiões, poderei ainda recuperá-los com o Time Machine, mesmo daqui a dois ou três meses, regressando no tempo ao dia de ontem, antes do ‘apagão‘.

    Uso o Time Machine com um disco externo de 500 GB, que me permite viajar no tempo até Outubro do ano passado (estamos neste momento em Março). Ou seja, sei que todos os documentos que criei e apaguei nos últimos seis meses estão lá disponíveis. Se o meu disco externo fosse maior – e os discos de 1 TB já estão abaixo dos 100 euros, por exemplo – poderia recuar ainda mais.

    O SuperDuper é o complemento ideal do Time Machine. Enquanto este último faz um backup, o primeiro faz uma cópia idêntica, um clone perfeito, do nosso disco rígido. Tão perfeito que, inclusivamente, podemos arrancar o computador a partir dela sem notar qualquer diferença.

    O SuperDuper não trabalha em permanência, como o Dropbox ou o Time Machine. Uso-o para atualizar um segundo disco externo (são baratos, recordam-se?) uma vez por semana, durante a noite. Actualmente tenho que ligar esse disco manualmente, pois o meu MacBook só tem duas entradas USB.

    O SuperDuper não é um programa grátis mas os 28$ USD que custa são um dos melhores investimentos que se pode fazer.

    Avaliando o meu sistema

    Este método que acabei de descrever é:

    • (Quase) automático – não preciso de me preocupar com o Dropbox e o Time Machine, e só tenho de me lembrar de, uma vez por semana, ligar o disco do SuperDuper.
    • (Quase) redundante – tenho os documentos mais importantes no disco rígido, no disco do Time Machine, no Dropbox e, com uma semana de diferença, no disco do SuperDuper. Fotografias e músicas não estão no Dropbox.
    • (Quase) rotativo – os documentos mais importantes estão permanentemente arquivados no servidor externo, independentes do que possa acontecer em minha casa.

    Qual é o pior cenário possível com este sistema? Sofer um incêndio ou um assalto à minha casa e ficar sem o computador e os dois discos. Mesmo assim, todos os trabalhos em curso estão ainda guardados no Dropbox. Seria um enorme aborrecimento, mas não seria a catástrofe total.

    Em qualquer outro cenário, mesmo que haja a avaria simultânea do computador e de um disco externo, ainda terei o outro disco para recuperar os meus documentos e ficheiros mais antigos.

    Como é que este sistema poderia melhorar?

    Apesar deste método de backup já ser suficientemente seguro para me deixar dormir tranquilamente, ainda pode ser melhorado, o que está nos meus planos fazer gradualmente.

    Em primeiro lugar, vou comprar um disco rígido externo de 1 TB para o Time Machine. Isto permitir-me-á manter registo de documentos ainda mais antigos, provavelmente cerca de um ano de ‘história’ em arquivo.

    Para o disco de 500 GB que sobrar vou copiar as fotografias e músicas que, neste momento, estão a partilhar o disco do SuperDuper. Apesar de ter feito duas partições independentes neste disco, essa situação não é recomendável: os discos de backup devem servir apenas para backup.

    Vou também comprar um terminal USB que me permita manter os dois discos externos permanentemente ligados, de forma a automatizar as clonagens do SuperDuper, de preferência diariamente.

    Em quarto lugar, talvez vá aumentar a minha assinatura do Dropbox o suficiente para poder arquivar lá os projetos antigos e todas as minhas fotografias, e não apenas os projetos em curso.

    E, finalmente, vou comprar mais um disco externo (são baratos, acho que já mencionei isso…) para fazer um segundo clone com o SuperDuper, guardando um dos dois, rotativamente, em casa dos meus pais. Dessa forma só o “2012” poderá estragar o meu plano de segurança.

    Duas notas finais

    Se achar interessante o Dropbox agradeço-lhe que use o link que eu forneço para fazer a sua assinatura. Dessa forma eu ganho mais 250 MB pra juntar à minha assinatura, o que dá sempre jeito.

    No caso de tudo isto lhe parecer muito complicado, pelo menos faça duas coisas pela sua tranquilidade:

    • copie hoje mesmo a sua pasta de Documentos para um DVD, e ganhe o hábito de o fazer uma vez por semana;
    • arranje um endereço externo de email (tipo Gmail ou Hotmail) e envie todos os dias para esse endereço o documento em que está a trabalhar. Dessa forma terá sempre em arquivo, junto dos seus emails, a última versão, e as versões anteriores, dos seus trabalhos.

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