Já toda a gente sabe do fiasco no final da cerimónia dos Óscares, com o engano no anúncio do vencedor de melhor filme, mas que isso não distraia do essencial: os dois guiões vencedores dos Óscares 2017, Moonlight e Manchester by the Sea, são excelentes e merecem ser lidos e estudados cuidadosamente.
Melhor Guião Original
Manchester by the Sea – Escrito por Kenneth Lonergan
Melhor Guião Adaptado
Moonlight – Guião de Barry Jenkins
O que estudar nestes guiões
Ambos os guiões lidam com temas sensíveis – a morte, em Manchester by the Sea, e a identidade sexual, em Moonlight – mas fazem-no com uma delicadeza, um pudor e uma contenção emocional extraordinárias. Os personagens são ricos e profundos, os diálogos magníficos, e os enredos nunca se arrastam ou perdem do essencial.
Vale a pena ler ambos os guiões vencedores dos Óscares 2017 por todas estas razões, mas sobretudo para ver como os autores lidaram e resolveram alguns problemas estruturais importantes.
O protagonista de Manchester by the Sea, Lee Chandler, é pouco mais do que um morto-vivo, um tipo apagado que procura brigas em bares para sentir alguma coisa.
Kenneth Lonergan não quer revelar-nos de imediato as razões dessa atonia emocional, por isso usa frequentes saltos temporais para ir mostrando, pouco a pouco, os eventos passados que condicionam os comportamentos actuais de Lee e dos restantes personagens. Estes flashbacks vão convergindo até ao momento em que é feita uma revelação crucial para toda a estória.
Já em Moonlight, Barry Jenkins usou uma variação original da estrutura em três actos para apresentar o seu personagem Chiron em três momentos distintos da vida: infância, adolescência e início da vida adulta.
Ao separar cada um destes momentos da vida do protagonista em “capítulos” perfeitamente demarcados, e identificados pela sua alcunha/nome nessa fase da vida – Little, Chiron, Black -, o autor ajuda-nos a perceber melhor a evolução do personagem enquanto este procura descobrir a sua verdadeira identidade, sexual e não só.
Bónus
O guião de La La Land. o filme mais premiado este ano e que esteve envolvido na confusão final, foi o último a ser disponibilizado pelo estúdio e autor. Mas chegou finalmente.
La La Land – Escrito por Damien Chazelle
Baixe, leia e estude cada um destes guiões e ficará com certeza um guionista um pouco melhor.
Nota: à altura da publicação deste artigo o link do guião de Moonlight não está disponível, mas imagino que seja uma situação temporária.
Para mim, teria sido mais justo premiar The Arrival por melhor guião adaptado, pela maneira como houve a transição do livro para o guião, os diálogos, e a abordagem profunda que o filme faz sobre o tema linguagens. Para melhor guião original, eu premiaria The Lobster, pela ideia ser a mais original entre todas e por ser a única categoria em que o filme foi indicado.
Achei Manchester by the Sea um filme arrastado, monótono, e que se sustenta muito em explorar o desenvolvimento e o luto do protagonista. Esse termo foi muito bem construído, de fato, mas faltou enredo e mais dinamismo. Moonlight é um filme rico cinematograficamente. Tem uma estética um pouco melhor, apesar de ser um tanto “travado”, mas também traz uma boa complexidade e desenvolvimento para o protagonista.
Enfim, são filmes de gosto subjetivo. Eu tenho preferência por longa inteligentes, sérios, densos, mas ao mesmo tempo dinâmicos e que se propõem a entreter o público, o que não é o caso. Fiquei surpreso com as escolhas da Academia.
Não consegui acessar os 2 primeiros.. apenas o LaLaLand… Será que o link está correto?