Quando Christopher Nolan decidiu adaptar para guião a biografia de um dos cientistas mais influentes do século XX, J. Robert Oppenheimer, tomou uma decisão que ia contra uma das regras mais aceites do formato universal destas obras: escrevê-lo na primeira pessoa.
Há poucas semanas escrevi um artigo exatamente sobre essa escolha do autor, em que o próprio argumentista explica as suas razões. Nesse artigo percebemos também a surpresa e o impacto da sua decisão nos atores que leram o guião.
Agora é a nossa oportunidade de avaliar o resultado, porque o argumento de Oppenheimer está finalmente disponível na net, cortesia da produtora Syncopy.
Só como exemplo, traduzi abaixo a apresentação do protagonista, J. Robert Oppenheimer:
(…)
UM ROSTO. Magro, tenso, OLHOS APERTADOS. O rosto ESTREMECE — o som CESSA QUANDO OS MEUS OLHOS SE ABREM, FIXANDO A CÂMARA:
Mergulhem na minha alma – J. ROBERT OPPENHEIMER, cinquenta anos, cabelo grisalho cortado rente.
(…)
Note-se que apenas as cenas centradas em Oppenheimer estão escritas desta forma. Toda uma segunda trama, importantíssima, que acompanha o seu adversário, o senador Strauss, é escrita de forma mais convencional. Ou pelo menos, tão convencional quanto se pode esperar de um argumentista diferenciado como Christopher Nolan.
Baixe o guião aqui, ou leia-o no bloco abaixo, e estude-o com atenção.
Além da opção radical do ponto de vista escolhido, há muito mais a apreciar nesta obra, sobretudo para quem possa estar interessado no género biográfico.
Obrigada, João Nunes. Gostei muito do filme, não sabia que o guião tinha essas características. Vou ler!
Olá Raquel, também gostei muito do filme; acho que vai aparecer repetidamente na lista das nomeações para a próxima temporada de prémios. O guião é difícil de ler, porque além dessa característica de escrever as cenas do protagonista na 1ª pessoa também é todo estruturado com inúmeros saltos temporais. Mas vale definitivamente a pena o esforço.