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Doze conselhos para guionistas aspirantes

    O blogue What Culture publicou um artigo interessante com doze conselhos para guionistas, aspirantes ou outros. Este tipo de artigos, otimizados para gerar tráfico e maximizar a exploração publicitária, não costumam ser muito úteis. Este, contudo, no meio de algumas sugestões óbvias, inclui outras bastante bem sucedidas. A sua leitura não é tempo perdido.

    Porque nem toda a gente domina o inglês, deixo aqui o meu comentário a esses doze conselhos para guionistas:

    1. Gostou do filme? Leia o guião – parece óbvio, mas pelos contatos com os leitores do blogue percebo que muitos nunca leram um guião. Não só o devem fazer, como devem fazê-lo sistematicamente, para estudo. É impossível ser guionista sem ler e analisar regularmente os melhores guiões disponíveis.
    2. Escreva todos os diasjá escrevi sobre isto antes, mas nunca é demais repetir. A escrita é um músculo que se treina e desenvolve com a repetição. Escreva todos os dias, nem que seja apenas quinze minutos.
    3. Escreva o que sabe fazer melhor – o raciocínio é o seguinte: se você não é naturalmente engraçado, não tente escrever comédia. Em princípio está correto, mas com um comentário: de tempos a tempos é bom sair da zona de conforto e tentar escrever algo diferente do que é mais cómodo e fácil, sob o risco de estagnarmos num certo patamar.
    4. Conheça a sua estória – há escritores e guionistas que preferem partir para a escrita sem saber exatamente a estória que vão contar. É um processo tão válido como outro qualquer e se é assim que se sente confortável, força com isso. Mas numa atividade como o guionismo essa pode não ser a abordagem mais adequada. Os guiões têm limitações práticas de duração, para as quais um pouco de planeamento prévio pode ser útil. Além disso, é frequente que quem paga (produtores, investidores…) queira saber exatamente o que vai comprar. Em ambos os casos o desenvolvimento de um tratamento ou escaleta pode ser indispensável.
    5. Cada cena deve ter um objetivo – conforme David Mamet refere, o único pecado de um guião é ser chato. A melhor maneira de o evitar é garantir que cada momento, cada cena, cada sequência têm uma razão de ser. Para o conseguir, o segredo é dar objetivos temporários e obstáculos provisórios aos personagens. Cada vez que um objetivo é alcançado, devemos criar outro de imediato, até o objetivo final ser alcançado – ou falhado.
    6. Escolha bem o seu protagonista – o protagonista é o personagem sobre o qual recai a responsabilidade principal de transportar os espectadores durante todo o filme. Se não for bem escolhido a tarefa fica muito mais difícil. Isso não quer dizer que ele tenha de ser sempre simpático ou bonzinho como o Indiana Jones. Michael Corleone, Daniel Plainview ou Travis Bickle são disso bons exemplos.
    7. Escreva para uma audiência – uma vez ouvi um cineasta português dizer que fazia os seus filmes não para a audiência de hoje mas para a audiência de daqui a cem anos. Achei isso de uma arrogância incrível. É bom querer fazer algo que resista ao teste do tempo, obviamente, mas isso não deve ser conseguido à custa de quem vai ver o filme agora.
    8. Mantenha-os a adivinhar – eles, é claro, são os espectadores. Como refiro várias vezes no curso de guionismo, drama = conflito + surpresas. Num grande filme tudo parece lógico e inevitável depois de acontecer; mas antes de acontecer nunca sabemos o que vai passar-se a seguir.
    9. Corte as partes chatas/mate as suas queridas – é uma mistura dos conselhos de Hitchcok (Um filme é a vida sem as partes chatas) e Hemingway (“Kill your darlings”). Combinados, o que querem dizer é que, na reescrita, temos de ter o discernimento suficiente para eliminar certas cenas de que gostamos individualmente (as queridas) mas que prejudicam o ritmo ou o equilíbrio da obra global. É difícil mas essencial.
    10. Tenha alguma coisa a dizer – a escrita é uma arma tão poderosa, que só vale a pena usá-la se for para dizer algo relevante. Não é preciso que seja a revelação do sentido da vida; mas temos de saber por que razão estamos a escrever uma estória.
    11. Acabe o raio da coisatambém já escrevi sobre isto. É muito fácil desistir a meio, achar outra ideia aparentemente mais interessante, interromper o que estamos a escrever e começar outro guião. Mas isso cria um círculo vicioso que nos leva a trabalhar constantemente sem nunca ter nada para mostrar como resultado de tanto trabalho. É isso que torna desafios como o FrenesiDeEscrita tão interessantes. Quando temos apenas trinta dias para escrever um guião não há tempo para dúvidas nem hesitações…
    12. Ponha o seu guião no gelo durante um mês – é a primeira etapa que recomendo no meu ebook anterior sobre a reescrita. Depois de terminar um guião devemos afastar-nos dele durante algum tempo. Isso vai ajudar-nos a ter o distanciamento crítico necessário para o poder melhorar.

    Todas estas dicas são úteis tanto para guionistas aspirantes como para os mais experimentados. Se quiser mais algumas dicas práticas e aplicáveis imediatamente, sugiro-lhe o meu novo ebook grátis, “Como escrever o seu primeiro argumento de cinema em trinta dias“.

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