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Os meus dez guiões favoritos

    Num artigo publicado recentemente no site Improviso Ensaiado apresentei uma seleção com alguns dos meus guiões favoritos. Resolvi agora republicar aqui essa seleção, pois acho que pode ser útil a todos os guionistas.

    Como já não tenho a limitação imposta pelo site de serem apenas oito escolhas, acrescentei mais duas, fechando a lista dos meus dez guiões favoritos.

    Na realidade poderia fazer duas ou três listas destas e trocá-las sem qualquer problema. Tal como nas listas de melhores filmes, é impossível fazer uma seleção definitiva e permanente dos guiões que mais nos marcaram. Mas estes dez são, sem dúvida, leitura essencial para qualquer estudante de escrita para cinema. Passo a explicar porquê.

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    Chinatown, guião de Robert Towne

    Não é de espantar que grande parte dos guionistas refiram Chinatown como o seu guião favorito. É uma peça de escrita perfeita, em todos os aspectos: caracterização dos personagens, enredo, estrutura, diálogos, subtexto, conflito, surpresas… A cena da grande revelação do final é uma aula de escrita. Pode encontrar o guião aqui

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    Casablanca, guião de Julius J. Epstein, Philip G. Epstein & Howard Koch

    Casablanca é um guião que tem de ser lido com cautela. Sabe-se que quando as filmagens começaram ainda não estava terminado e foi escrito e reescrito quase diariamente até ao fim das produção, num processo complicado. Por isso encontram-se na net várias versões do guião e não há realmente uma que seja a definitiva. A estória é um estudo perfeito do chamado arco de transformação, o processo evolutivo do protagonista ao longo da narrativa. E é uma grande estória de amor. Pode encontrar o guião aqui.

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    Pulp Fiction, guião de Quentin Tarantino, estórias de Quentin Tarantino e Roger Avary

    Há quem desaconselhe a leitura de Pulp Fiction a quem está a começar a aprender a escrever guiões. Quentin Tarantino quebra – aparentemente – tantas “regras” do guionismo que a sua leitura poderia ser prejudicial aos principiantes. Mas a única regra verdadeira é nunca aborrecer o leitor/espectador e, essa, Tarantino respeita na íntegra. Além disso os diálogos são imperdíveis. Pode encontrar o guião aqui.

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    O Apartamento, guião de Billy Wilder & I.A.L. Diamond

    Billy Wilder e I.A.L. Diamond formaram uma das melhores parcerias de escrita de todos os tempos, assinando em conjunto uma sucessão de clássicos. O Apartamento é possivelmente o melhor de todos. É também uma estória de transformação que poderia servir de modelo para todas as comédias românticas inteligentes. Tudo é bom neste guião, que deu a Jack Lemmon e Shirley MacLaine os papéis das suas vidas. Pode encontrar o guião aqui.

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    Taxi Driver, guião de Paul Schrader

    Taxi Driver é o meu filme favorito e o guião de Paul Schrader contribui muito para isso. É um exemplo de arco de transformação negativo, em que assistimos fascinados ao mergulho do protagonista em regiões cada vez mais sombrias da sua personalidade. É também uma lição de como transportar para o papel o ambiente de um determinado local e época. Pode encontrar o guião aqui.

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    O Silêncio dos Inocentes, guião de Ted Tally

    O melhor thriller de sempre tem um guião à altura. É interessante comparar a versão que se encontra na net com o filme, porque tem diferenças consideráveis. Incluí-o nesta lista para destacar a importância de criar grandes antagonistas, como forma de explorar as fraquezas e realçar as virtudes dos nossos protagonistas. Pode encontrar o guião aqui.

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    Salteadores da Arca Perdida, guião de Lawrence Kasdan

    O melhor filme de aventuras de todos os tempos, fruto de uma colaboração abençoada entre Spielberg, Lucas e Kasdan. O guião é uma master class de como escrever este tipo de estórias, sempre em crescendo, sem nunca perder o ritmo. Pode ser lido em paralelo com a transcrição das sessões de brainstorming e discussão dos três autores, que dão uma visão fascinante do processo criativo. Pode encontrar o guião aqui.

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    In Bruges, guião de Martin McDonagh

    In Bruges é um exemplo maravilhoso de interação entre dois personagens fortes. A relação entre Ray e Ken tem todas as nuances possíveis – e mais algumas. Em diferentes partes do filme Ken é mentor, amigo, antagonista e protetor de Ray. Que Martin McDonagh tenha conseguido manter a coerência no meio de todas estas mudanças é um atestado do seu talento. E os diálogos são geniais. Pode encontrar o guião aqui.

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    O Padrinho, guião de Mario Puzo e Francis Ford Coppola

    O Padrinho é outra estória de transformação da luz para as trevas, construída à volta da trajectória emocional de um dos protagonistas mais fascinantes da história do cinema. Apesar de mostrar uma versão algo idealizada e glorificada do mundo da Mafia americana, é uma master class de como escrever um anti-herói. Pode encontrar o guião aqui.

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    Juno, guião de Diablo Cody

    Juno está nesta lista porque sim. Adoro este filme, e este guião, e nem sei explicar muito bem porquê. Talvez porque prova que nenhuma estória é insignificante demais, se soubermos agarrá-la pelo ângulo certo. E, neste caso, esse ângulo é a personalidade encantadora da protagonista. Pode encontrar o guião aqui.

    Conclusão

    Para evoluirmos como guionistas temos de ler guiões. É uma evidência irrefutável e inultrapassável. Só vendo e estudando como os melhores guionistas resolvem os problemas concretos de narrar no papel uma estória audiovisual, de forma envolvente e credível, podemos aprender a fazer o mesmo. Estes dez guiões são uma boa introdução a essa prática mas há muitos outros disponíveis na net. Seguem algumas sugestões:

    • Aliens
    • Annie Hall
    • O Profeta
    • The Shawshank Redemption
    • Sideways
    • Terminator II
    • Notting Hill
    • Lawrence of Arabia
    • Groundhog Day
    • Unforgiven
    • O Sexto Sentido
    • Jerry Maguire
    • Thelma & Louise
    • Being John Malkovitch
    • Witness
    • Toy Story
    • Os Homens do Presidente
    • Voando Sobre um Ninho de Cucos
    • O Gosto dos Outros
    • A Parte dos Anjos
    • Melhor é Impossível
    • Cidade de Deus

    Pode encontrá-los em sites como estes:

    Se precisar de inspiração adicional, guie-se por estas listas:

    Boas leituras e boas escritas.

    6 comentários em “Os meus dez guiões favoritos”

    1. À primeira vista, o “In Bruges” pareceu-me destoar um pouco dos restantes guiões. Talvez porque o impacto do filme ter sido menor, quando comparado com os outros nove representados na lista. Mas, realmente, é uma escolha muito inteligente.

      Ainda não tinha lido o guião, mas parece que agora já não tenho desculpa… obrigado pelo link, João!

      abraço

      1. O “In Bruges” tem três personagens inesquecíveis – a dupla de protagonistas e o antagonista. Mas todos os restantes personagens são tratados com um cuidado, quase diria um carinho, que, por muito pequena que seja a sua presença na estória, se tornam um gosto de ler.

        1. berni ferreira

          Sem dúvida. E creio que esse aspecto contribui para uma das características mais bem conseguidas do guião: é muito económico (não no sentido de ser “barato”, mas no sentido de “tirar partido de”), tanto no uso que faz dos personagens, como no uso que faz dos cenários. As localizações e as personagem nunca são descartáveis e isso é evidente ao ver o filme também. A maioria deles surge por mais do que uma vez no decorrer da história, sem que em nenhum momento o filme dê aquela sensação incómoda de estar a tornar-se menos fresco à medida que se desenvolve. Bem pelo contrário, parece que todos os elementos que o compõem estão em constante transformação.

          Um pequeno aparte: li o guião anteontem e, sim, confirma-se que ele é excepcional. No entanto, creio que os aspectos que foram alterados na sua transformação em filme acabaram por torná-lo melhor, sublinhando ainda mais a tal economia narrativa que me parece um dos aspectos que merecem mais destaque, tanto no guião, como no grande filme a que acaba por dar origem.

          1. Comparar um guião com a versão finalizada do filme é um dos melhores exercícios que podem ser feitos. Ensina-nos muito sobre o processo mental dos cineastas e sobre a economia de escrita (no sentido que referes). Também é interessante comparar diferentes versões de um mesmo guião, quando estão disponíveis na net.

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