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Perguntas & Respostas: como se escreve um flashback?

    Quando se escrevem flashbacks é preciso ter “cuidados especiais”, não é? Não são cenas como as outras ao nível da escrita. A minha maior dúvida é como é que se escreve um flashback já visto. Será que me pode ajudar?
    Félix

    O que é um flashback

    Um flashback, ou analepse, é, segundo a wikipedia, “a interrupção de uma sequência cronológica narrativa pela interpolação de eventos ocorridos anteriormente. É, portanto, uma forma de anacronia ou seja, uma mudança de plano temporal”.

    Quando estamos a contar uma estória segundo os moldes clássicos, seguimos normalmente uma sequência temporal natural – os eventos são narrados segundo a ordem em que decorreram. Se, no meio dessa sequência, introduzimos uma cena que ocorreu antes das que estamos naquele momento a narrar, chamamos a essa cena um flashback.

    Introduzindo um pouco mais de teoria, o flashback pode ser “interno”, se se referir a um momento anterior mas ainda dentro da nossa narrativa, ou “externo”, se se referir a um momento anterior ao início dessa narrativa. Penso que, quando na sua pergunta se refere a um “flashback já visto”, se está a referir a um “flashback interno”.

    Por oposição, o flash-forward, ou prolepse, é uma cena que antecipa algo que vai acontecer no futuro em relação à sequência temporal natural da nossa narrativa.

    Como escrever o flashback

    Os flashbacks surgem na narrativa normalmente como resposta a um estímulo. Por exemplo, um personagem vê ou ouve algo que lhe traz à memória um evento passado. Juno olha para um cadeirão abandonado e recorda a tarde em que fez amor com o seu melhor amigo; Rose vê o esquisso e recorda a noite em que Jack o desenhou; Thompson entrevista Bernstein e vemos como Charles Kane tomou conta do jornal Inquirer.

    Estes três exemplos mostram as três formas mais frequentes como um flashback é introduzido numa narrativa:

    • No primeiro exemplo, do filme “Juno”, um estímulo visual (poderia ser auditivo, olfactivo, sensorial, etc.) introduz uma cena rápida em flashback. A narrativa regressa depois ao seu curso normal. Esta é, talvez, a forma mais frequente.
    • No segundo exemplo, que os mais atentos recordarão ser de “Titanic”, a estória começa no presente, mas depois da personagem Rose, agora idosa, ser confrontada com os testemunhos do seu passado, entramos num longo flashback que conta o essencial da estória, e passa assim a ser a sequência narrativa natural.
    • No terceiro exemplo, retirado de “Citizen Kane” (“O mundo a seus pés”), toda a narrativa é apoiada em múltiplos flashbacks, apresentados fora de ordem cronológica, que nos vão dando a estória complexa do protagonista, como num puzzle que se vai completando aos poucos.

    Alguns guionistas, como Guillermo Arriaga, usam tantos flashbacks e flash-forwards na sua escrita que a certa altura deixa de existir uma sequência narrativa natural. Fala-se nesse caso de uma narrativa não-sequencial, ou anacrónica.

    Qualquer destas formas é um recurso poderoso dos guionistas que, se bem utilizado, pode enriquecer muito uma narrativa.

    Quando se deve evitar o uso do flashback

    Alguns guionistas são aversos ao uso de flashbacks, mas penso que isso se deve não ao recurso em si, mas sim ao seu uso inadequado.

    Isso acontece quando o flashback é usado simplesmente para transmitir informação necessária para resolver algum aspecto da narrativa. Nesse caso, como em qualquer outro tipo de cena meramente expositória, o flashback estará a ser usado como uma muleta, revelando alguma preguiça por parte do autor.

    Como formatar o flashback

    A escrita de um flashback não tem nenhum segredo especial. Aplicam-se-lhe exactamente as mesmas regras que na escrita de outra cena qualquer.

    Resumidamente, só devemos escrever aquilo que possa ser mostrado (visualmente) ou ouvido (auditivamente) no filme. Não adianta escrever pensamentos, emoções, esperanças, ou outras coisas que não tenham uma tradução visual ou sonora. Apenas acções, gestos, palavras, eventualmente expressões, que possam ser narradas com os recursos do cinema.

    No caso específico da pergunta do Félix (um “flashback já visto”) penso que se está a referir a um flashback que recorda algum momento anterior já visto no decurso do filme. O flashback irá regressar a esse momento, ou de uma forma mais curta, ou com mais detalhe.

    Nessa situação, será conveniente introduzir na descrição da cena algum frase, ou expressão, que ajude o leitor do guião a perceber que aquela cena já foi lida antes. É uma pequena batota que não deveria ser necessária, mas que tem desculpa. No filme, a nossa memória visual recordará automaticamente que já vimos aquela cena; mas a nossa mente funciona de uma maneira diferente ao ler, e pode ser preciso dar-lhe uma pequena ajuda. Algo como “Estamos de novo no palácio, no momento em que o disparo mortal atingiu o presidente da república. Mas desta vez conseguimos ver, através da janela estilhaçada, o rosto do autor do disparo. É…”.

    Para distinguir um flashback das restantes cenas, em termos de formato, basta começar o cabeçalho da cena com a palavra FLASHBACK, sublinhada ou não. Há também quem prefira colocar essa palavra entre parênteses no fim do cabeçalho. A forma correcta poderia, pois, ser assim:

    FLASHBACK – INT. CASA DE CAMPO – SALA – DIA (MARÇO DE 1960)

    ou

    INT. CASA DE CAMPO – SALA – DIA (FLASHBACK – MARÇO DE 1960)

    Em ambos os casos deve colocar-se, no fim da cena ou sequência de cenas, a indicação FIM DE FLASHBACK encostada à direita.

    FIM DE FLASHBACK

    Vejamos um exemplo:

    [fountain]

    INT. CASA DE CAMPO – SALA – DIA

    Gonçalo entra na sala vazia da velha casa de campo. Olha em redor, percorrendo as paredes onde o papel descolado deixa à vista pinturas antigas, manchas de humidade, traços do tempo.

    O seu olhar para numa mancha desbotada no soalho sujo.

    FLASHBACK – INT. CASA DE CAMPO – SALA – DIA (1960)

    O jovem Gonçalo, então com seis anos, está ajoelhado no chão da luxuosa sala de jantar do casarão, derramando, com um sorriso de satisfação, uma lata de tinta vermelha no soalho recém-encerado.

    FIM DO FLASHBACK:

    INT. CASA DE CAMPO – SALA – DIA

    Gonçalo sorri ligeiramente e atravessa a sala, em direcção a uma porta meio tombada.

    [/fountain]

    39 comentários em “Perguntas & Respostas: como se escreve um flashback?”

    1. Peço desculpa por não me ter conseguido expressar bem com o “flashback já visto”, mas você conseguiu responder exactamente à minha dúvida. Muito obrigado pela ajuda!

    2. Desculpe ser um chato, mas tenho outra dúvida. Como é que se escreve um sonho de uma personagem ou uma situação que ela imagina acordada? Se você me pudesse ajudar era perfeito.

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    5. Obrigada pela explicação.
      Fiquei com uma pequena dúvida, no exemplo mostrado, a cena inicia-se como INT. CASA DE CAMPO?—?SALA?—?DIA e depois do FLASHBACK a cena volta a ser a anterior. A minha pergunta é: Será correcto escrever o cabeçalho igual mas com a indicação de continuação? Ou seja, INT. CASA DE CAMPO?—?SALA?—?DIA (CONTINUAÇÃO)?
      Desde já agradeço.

      1. Sim, pode fazer-se isso. Nos guiões de televisão, em Portugal, isso até costuma ser pedido explicitamente pela produção. Como as condições de produção de tv são sempre apertadas, a correr e com muito volume, exigem aos guionistas esse tipo de indicações para facilitar a vida a quem vem a seguir.

        1. Obrigada.
          Aproveito para deixar uma pergunta que não sei em que tópico será mais apropriada.

          Estou a escrever uma curta-metragem para a faculdade onde o protagonista faz uma narração numa mudança de cenas, mas não sei como se deve escrever.

          Exemplo:
          01-Ext. Santa Justa. Noite
          Bianca corre em direcção a Toni e mata-o.

          (Bianca narra: “Para perceberem, isto foi o que aconteceu…”)

          02-Int.Clinica.Noite
          Bianca acorda sem memória, etc.

          Mais uma vez obrigada.

    6. Olá. Gostaria de saber se, no caso de um flashback com o personagem adulto quando pequeno, devo indicar que ele é uma criança, ou em todas as falas?
      Exemplo:
      “Um menino está deitado na cama. É Miguel quando tinha a mesma idade de seu filho. Seu pai está de pé, encostado ao batente da porta.

      MIGUEL (criança)
      Pai, eu tô com medo do escuro.”
      Nesse caso, é melhor indicar todas as falar com “(criança)”, ou não há necessidade?

      1. Caro Daniel,
        Depende da importância ou dimensão do flashback. Se for um flashback curto, eu escreveria mais ou menos como você escreveu, mas sem os parênteses a seguir ao nome. Qualquer coisa como:
        “Um menino está dei­tado na cama. É o MIGUEL CRIANÇA, quando tinha a mesma idade de seu filho. Seu PAI está de pé, encos­tado ao batente da porta.
        MIGUEL CRIANÇA
        Pai, eu tô com medo do escuro.“

        Ou seja, colocaria em maiúsculas no texto a identificação MIGUEL CRIANÇA e PAI, caso seja a primeira vez que estão a ser apresentados. E usava MIGUEL CRIANÇA, sem parênteses, nos diálogos.

        Se, pelo contrário, o flashback for o essencial da narrativa (por exemplo, uma estória que é toda contada em flashback, como no filme Benjamin Button), então seria melhor deixar bem claro na descrição que é o MIGUEL CRIANÇA, mas depois nos diálogos só o identificaria como MIGUEL.

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    10. Estou escrevendo meu primeiro roteiro adaptado de uma clássica literatura umbandista (religiosa) vou usar esses recursos de “Flashback” . Aqui agente aprende muito .

    11. Oi, eu sou escritora, mas inexperiente, escrevo por conta própria e tenho um sonho que os meus projetos um dia sejam reconhecidos, mas para isso eu preciso registrá-las. Eu quero registrar novelas para emissoras de TV, será que eu devo registrar o roteiro ou a sinopse? ou os dois?

      1. Olá João, não conheço essas expressões de flashback “evocado” ou “solicitado”. Talvez sejam utilizadas no sistema de ensino, mas não me lembro de alguma vez me ter cruzado com elas na vida real. Se puder dar-me as definições talvez consiga ajudar.

    12. Boas João Nunes.
      2 questões:
      No caso dos flash forwards o formato a utilizar é igual ao exemplo que deu em relação para o flashback?

      Estou a escrever um guião onde a acção ocorre entre os sonhos do protagonista. As personagens são sempre as mesmas, embora estejam em realidades/sonhos diferentes, e tenho medo que fique um pouco confuso. Acha que deveria referir isso nas primeiras cenas quando apresento o personagem pela primeira vez.
      Estou a escrever o cabeçalho da cena da seguinte forma: INT. SONHO 2 – ESPLANADA – DIA. ou EXT. SONHO 1 – ESTRADA , LOCAL DO ACIDENTE – NOITE.
      Acha que está correto ou estou a cometer uma enorme gafe…?

    13. Boas João.
      Deixo duas questões:
      No caso de ser um flasforward escreve-se com o mesmo modelo que deu como exemplo ou faz-se de outra maneira?
      Estou a escrever um guião em que o protagonista vive o enredo nos seus sonhos e estou a escrever o cabeçalho da seguinte forma: INT. SONHO 1 – LOCAL DO ACIDENTE – NOITE. e EXT. SONHO 2 – ESPLANADA – DIA. Está correcto desta forma? ou tenho que caprichar mais na escrita das acções para ficar bem vincado em que realidade se passa a cena? Fiz desta maneira porque os personagens também são os mesmos e temi que ficasse confuso.

    14. Olá! Tenho algumas dúvidas sobre como escrever um livro que tenha flashbacks. Meu livro é sobre uma menina que desvenda enigmas, mas queria que fosse em primeira pessoa. Porém, achei que ficaria maçante se fosse narrado no passado, contando a história de como ela desvendou os enigmas. Então pensei em fazer flashback de cada enigma (no tempo presente – ela tentando descobrir) e situações passadas e cotidianas (no passado – como ela indo até a cozinha para comer). Posso escrever em primeira pessoa o tempo todos, mas alterando o tempo? Como faço isso? Quero deixar claro o momento em que ela está narrando e o momento da ação dela.

      1. Olá Larissa, temo não haver uma resposta simples para a sua questão. A única sugestão que lhe posso dar é que leia diferentes livros em que os autores tenham usado flashbacks para ver como cada um resolveu a questão.
        Pode começar com “Cem Anos de Solidão” de Gabriel García Márquez, que começa muito bem. Logo na primeira frase do livro o autor criou uma famosa frase em que são misturados três tempos narrativos:
        Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía haveria de recordar aquela tarde remota em que o pai o levou a conhecer o gelo.

    15. oi boa tarde! estou cursando letras e recebi uma tarefa com a seguinte questão. “Aponte as analepses e prolepses no conto, ao nascer do dia de Dalton Trevisan, esboce alguma explicação para essas mudanças temporais na narrativa. Para identificar as mudanças temporais, você pode fazer gráficos ou desenhos se quiser. Como assim?

    16. Boa noite, neste caso a minha dúvida não tem a ver com flashbacks. Eu gostaria de saber como introduzimos o diálogo de alguém que está a ler um diário enquanto a ação decorre. Neste caso é tudo dentro da mesma cena ou são cenas separadas, ou seja, quando está a ler o diário é uma cena, quando está a decorrer o que está a ser lido no diário é outra?

    17. Em um livro de romance em primeira pessoa, um outro personagem pode explicar o que aconteceu no passado, quando eles se conheceram ?

      Exemplo 1: O Fulano perde a memória e o Ciclano explica com um Flashback o que aconteceu quando eles se conheceram…

      Exemplo 2: Eu havia chegado no colégio em que você estudava e me esbarrei com você no meu primeiro dia de aula. Eu estava com (17) dezessete anos e você com (15) quinze anos…

      Se sim, gostaria de saber qual a melhor forma, contar ou mostrar com detalhes e sentimentos, o Flashback ?

      1. Olá Aryene, esta pergunta transcende um pouco as ambições deste blogue. Mas como leitor assíduo de romances, sei que há muitas maneiras de abordar um problema como o que refere, e nenhuma é melhor do que as outras todas. Tudo depende do gosto e estilo do autor, da situação exacta, e da coerência com o resto do livro.

    18. Olá, João! Obrigado pelo artigo!

      Minha dúvida é quando o flashback transcende uma cena e precise criar um novo cabeçalho. Todas as vezes que uma nova cena for iniciada, dentro do flashback, eu devo indicar no cabeçalho da maneira que você explicou? Ou apenas a primeira cena do flashback precisa dessa indicação e quando finalmente terminá-la eu indico à direita da página?

      Desculpe se não fui muito claro. Achei o roteiro do Titanic, como você citou, mas não há indicações de flashback.

      Aguardo a resposta!

    19. Estou a escrever um episódio piloto que tem pelo meio um flashback extenso. Passam-se várias cenas e tenho vindo a identificá-las dentro do próprio flashback. Em cada cena tenho que pôr fim do flashback ou só no fim do todo o flashback?
      Obrigada

      1. Viva Inês, basta colocar no fim de tudo. Se o flashback for suficientemente claro e distinto, e não houver risco de confundir o leitor, nem sequer precisa de indicar (FLASHBACK) cena a cena – basta marcar o início e o final.

    20. Olá, obrigado pelo excelente artigo!
      Estou andando em círculos a respeito de um conto que estou escrevendo.
      O conto é iniciado com acontecimentos de eras anteriores, apresentando fatos e personagens que serão importantes para o enredo no “presente” (tempo verbal predominante). Todavia, essas informações descritas no passado seriam lidas por um personagem no “presente”, em outras palavras, o enredo se inicia por fatos descritos em um livro que está sendo lido pelo protagonista. dessa forma, minha dúvida é se devo usar aspas em todo o trecho em que está sendo “lido pelo personagem”.

      ex:

      “parágrafos de eventos descritos no passado em um livro”.
      — E assim, eles viveram felizes para sempre. que história interessante! — Disse X, ao terminar a leitura.

      Espero que eu explicado apropriadamente. Obrigado!

      1. Viva Marcos, neste site eu tento responder a dúvidas relacionadas com escrita para o audiovisual: cinema, televisão, curtas, etc. A escrita literária está fora da minha área de especialidade.
        Dito isto, se fosse eu a deparar-me com o problema que descreve, acho que a minha opção dependeria de duas coisas:
        1. A dimensão desses eventos passados – se fosse um trecho muito curto, talvez colocasse as aspas; se fosse mais comprido, e ocupasse vários parágrafos/páginas, talvez preferisse não o fazer;
        2. A minha intenção – se eu quisesse deixar claro desde o início que era uma citação, talvez usasse as aspas; se quisesse surpreender o leitor ao mostrar-lhe que o que acabou de ler não é o presente da estória, talvez não as usasse.
        Espero ter sido útil. Continuação de boas escritas.

    21. Como faço para escrever lembranças de apenas aparece a voz do personagem.
      Ex. Um homem vê os sapatos de alguém e lembra da frase da sua mãe dizendo algo.
      Eu uso flashback? Como eu monto essa cena?

      1. Olá Vanessa,
        se vamos apenas ouvir a voz da mãe em princípio não se deveria usar Flashback, porque vamos continuar na mesma cena, ou seja, no mesmo lugar e tempo.
        O melhor, possivelmente, seria usar apenas (V.O.), eventualmente reforçando na descrição.
        Poderia ser algo assim:


        Vanessa observa o estranho de alto a baixo. O seu olhar fixa-se nos seus sapatos brancos, incongruentes com o resto da sua figura. Vem-lhe à memória o que a sua mãe, sempre tão crítica, diria naquela situação.

        MÃE (V.O.)
        Hmmm… Sapato branco em Janeiro, sinal de pouco dinheiro.

        Sorri com a recordação mas estende a mão ao homem.

        VANESSA
        Prazer em conhecer, sou a Vanessa.

        Chamo a atenção para um aspecto importante: no exemplo dado, o comentário que introduzi no primeiro parágrafo de Descrição é dirigido ao leitor do guião, para tornar a situação mais clara, mas não tem transcrição direta naquilo que o espectador vai ver no filme. Aí, a compreensão do que se está a passar vai depender apenas do som e do contexto. O risco é o espectador pensar que aquela voz off é apenas um pensamento da própria Vanessa, por isso a cena possivelmente funcionaria melhor se num momento anterior já tivéssemos visto a mãe a dizer esta frase, ou se a mãe tivesse uma voz ou uma dicção inconfundíveis, ou outra situação semelhante.

        As soluções de escrita não são universais, fazem sempre parte do contexto da nossa estória, e têm que ser adaptadas a cada caso.

    22. Pingback: JOÃO NUNES | flashback | Perguntas & Respostas - Flashback de voz | escrita, técnica, blogue, Perguntas & Respostas |

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