Comemoram-se agora os cinquenta anos da estreia de um dos filmes mais marcantes da história do Cinema, e possivelmente o melhor filme de ficção científica de sempre: 2001: Odisseia no espaço, realizado por Stanley Kubrick a partir de guião de Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke.
Há muitas razões para todos os encómios que este filme tem recebido ao longo do tempo, e pode encontrar algumas neste artigo do Observador ou neste do sempre excelente Cinephilia&Beyond.
Mas a recepção não foi unânime na sua estreia. A famosa crítica de cinema Pauline Kael considerou-o “um filme monumentalmente falho de imaginação“. Mesmo o crítico Roger Ebert, um dos seus entusiásticos defensores, considerava-o uma obra que “falha no nível humano mas é magnificamente bem sucedida a nível cósmico“.
Seja como for, todos os que vimos o filme lembraremos sempre a pungente cena escolhida para este artigo: a “morte cerebral” do computador HAL 9000 às mãos do astronauta Dave Bowman. Pode ver a cena no vídeo seguinte (aproveite para reparar nas diferenças em relação ao guião).
https://www.youtube.com/watch?v=UgkyrW2NiwMC142
A cena traduzida
Nota: o guião de 2001: Odisseia no espaço foi escrito segundo um formato próprio, que não consigo reproduzir neste blogue. Esse formato não corresponde à norma aceite pela maior parte das produtoras e não deve ser copiado.
C142
BOWMAN ENTRA, SEGURANDO UMA LANTERNA.
O OLHO DO COMPUTADOR VÊ-O.
HAL
Parece ter acontecido algo com o sistema de suporte de vida, Dave.
BOWMAN NÃO LHE RESPONDE.
HAL
Olá, Dave, encontraste o problema?
BOWMAN PROSSEGUE EM DIRECÇÃO À ÁREA DE ARMAZENAMENTO DO PROGRAMA LÓGICO.
HAL
Houve uma falha nas portas das cápsulas. Foi sorte não teres morrido.
O CÉREBRO DO COMPUTADOR CONSISTE EM CENTENAS DE RETÂNGULOS DE ACRÍLICO, DOZE MILÍMETROS DE ESPESSURA, DEZ CENTÍMETROS DE COMPRIMENTO, SEIS CENTÍMETROS DE ALTURA. CADA RETÂNGULO CONTÉM UM CENTRO COM UMA FINA MALHA DE ARAMES ONDE A INFORMAÇÃO ESTÁ PROGRAMADA.
BOWMAN COMEÇA A RETIRAR ESTES BLOCOS DE MEMÓRIA.
ELES FLUTUAM NO AMBIENTE SEM PESO DA SALA DO CÉREBRO.
HAL
Hei, Dave, o que estás a fazer?
BOWMAN TRABALHA COM RAPIDEZ.
HAL
Hei, Dave. Eu tenho dez anos de experiência de serviço, e a quantidade de esforço e tempo que foram aplicados para me fazer como sou são insubstituíveis.
BOWMAN IGNORA-O.
HAL
Dave, não percebo porque me estás a fazer isto…Tenho o maior entusiasmo pela missão… Estás a destruir a minha mente… Não percebes? Vou tornar-me uma criança… Vou tornar-me em nada.
BOWMAN CONTINUA A RETIRAR BLOCOS DE MEMÓRIA.
HAL
Então, Dave… Um pequeno jabuti xereta viu dez cegonhas felizes… A raíz quadrada de pi é 1,7724538090… O log base 10 de e é 0.4342944… A raíz quadrada de dez é 3,16227766… Eu sou o computador HAL 9000. Tornei-me operacional na fábrica HAL em Urbana, Illinois, em 12 de Janeiro de 1991. O meu primeiro instrutor foi o Sr. Arkany. Ele ensinou-me a cantar uma canção… é assim… “Daisy, Daisy, give me your answer do. I’m half;crazy all for the love of you…etc.,”
O COMPUTADOR CONTINUA A CANTAR A CANÇÃO, TORNANDO-SE CADA VEZ MAIS INFANTIL E COMETENDO ERROS E DESAFINANDO. POR FIM PÁRA COMPLETAMENTE.